O Comunismo: 100 Anos de Uma Revolução Fracassada

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O Comunismo: 100 Anos de Uma Revolução Fracassada

Por que A Boa Nova está enfatizando o centésimo aniversário da Revolução Bolchevique de 1917, que deu origem à União Soviética? O que devemos aprender de um movimento abertamente ateísta cujos líderes foram cúmplices e responsáveis pela morte de milhões de pessoas por meio do genocídio, da fome, da guerra e da realocação forçada para campos de trabalho?

Em 1983, o presidente dos Estados Unidos, Ronald Reagan, referiu-se à União Soviética como um "império do mal" e previu corretamente a sua morte, que veio oito anos depois. Quando ela entrou em colapso, as nações ocidentais ficaram atônitas e aliviadas de que isso pudesse acontecer com esse poderoso império, que parecia ser tão duradouro e impassível.

A Revolução Bolchevique ajudou a definir o mundo do século XX. Isso levou ao advento do primeiro governo socialista, que logo se expandiu para a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS). A União Soviética disseminou agressivamente a ideologia comunista para a Europa Oriental, China, Coreia do Norte e Sudeste Asiático. Ao mesmo tempo, escravizou o seu povo por trás de uma "cortina de ferro" dum sistema político, econômico e cultural extremamente controlado.

Minha conexão com a Rússia

Em 1967, no quinquagésimo aniversário da Revolução de Outubro, fui convidado a viajar em uma visita de seis semanas à URSS como tradutor e fotógrafo. Desde a minha primeira visita, viajei para essa vasta terra dezenas de vezes e trabalhei com a Rádio e TV Leningrado, com excursões de jovens, com igrejas na Estônia, com grupos sabatistas na Ucrânia ocidental e com crianças deficientes na área de Chernobyl, na Ucrânia.

Meus pais vieram da União Soviética. Minha mãe nasceu perto de Kharkov, Ucrânia, durante o regime de Stalin e meu pai em um território da Polônia, que agora é a Ucrânia. Na invasão alemã à URSS, em 1941, os alemães levaram à força os jovens das terras que conquistaram para trabalhar em suas fábricas. Meu pai também passou um tempo num campo de concentração.

Meus pais se conheceram na Alemanha. Quando a guerra terminou em 1945, eles se encontravam nas mãos de tropas russas hostis que olhavam para muitos dos jovens trabalhadores na Alemanha como colaboradores do inimigo, mesmo que tivessem sido forçados a ir para lá. No caos imediato que se seguiu, meus pais conseguiram escapar de seus captores russos, fugindo para Hannover, na Alemanha ocupada pelos aliados. Eles foram para um campo de refugiados, onde se casaram. Nasci em 1947 e, em 1949, todos nós encontramos um novo lar nos Estados Unidos.

Pelo fato de ter vivido na União Soviética e sofrido abusos, o espectro da guerra e da morte deixou cicatrizes indeléveis em meus pais. O ano de 1933 foi um período muito notável, o ano do "Holodomor", o genocídio ucraniano. Seis milhões de pessoas morreram de fome na Ucrânia quando as sementes foram tomadas à força das pessoas que viviam no celeiro da URSS para diminuir a resistência à União Soviética de Joseph Stalin.

Minha mãe, que tinha oito anos na época, lembrou-se das histórias de sua família escondendo sementes nos muros para sobreviver. As histórias de terror de pessoas morrendo ao seu redor ainda estavam vivas em sua memória. Seus corpos eram removidos de suas casas e colocados na rua para serem apanhados como lixo.

Finalmente, minha mãe conseguiu voltar e visitar seus pais depois de estar longe deles por vinte e sete anos. Mas meu pai nunca mais viu seus familiares, muitos dos quais morreram na Segunda Guerra Mundial.

Como poderia existir um governo tão desumano e líderes tão cruéis? Vamos rever como ocorreu a Revolução Bolchevique de Outubro de 1917. Quais eram as expectativas e a esperança, e o que deu errado?

O caminho da revolta russa

Vários eventos no início da Rússia do século vinte levaram a essa revolução histórica — com a confluência da opressão econômica, da exploração, da Primeira Guerra Mundial e das brilhantes promessas do marxismo-leninismo.

Por centenas de anos, os czares governaram a Rússia como monarcas absolutos. O último czar foi Nicolau II. Em 1905, durante o seu reinado, dezenas de milhares de trabalhadores entraram em greve. A condição de vida deles era intolerável, eles trabalhavam treze horas por dia, ganhavam muito pouco, viviam em pequenos e apertados cubículos e não tinham direitos.

Em 22 de janeiro de 1905, um protesto de trabalhadores em greve, marcharam rumo ao Palácio de Inverno de São Petersburgo, uma das residências do czar. Sua lista de denúncias e reivindicações incluía a liberdade de expressão, os direitos dos trabalhadores e aumento do salário, melhor remuneração para as mulheres, jornada de trabalho mais curta e representação no governo. Esses trabalhadores começaram a formar os chamados "soviets", órgãos representativos dos trabalhadores.

O que aconteceu? O "Domingo Sangrento"! Os trabalhadores pensaram que poderiam pressionar o czar e iniciar um diálogo. Eles estavam completamente enganados. Em vez disso, a Guarda Imperial atirou contra os grevistas desarmados. Centenas de pessoas foram mortas e feridas. O czar não estava no palácio quando isso aconteceu, mas ele deu a ordem para atirar contra os manifestantes.

Essa ação arbitrária contra os trabalhadores acabou por gerar uma reação em cadeia de revoltas por todo o Império Russo. Este conjunto de eventos acabou culminando na Revolução Bolchevique doze anos depois.

A onda de revolta que se seguiu àquela atrocidade agora é conhecida como a Revolução Russa de 1905, a qual levou o czar Nicolau a ceder e emitir o Manifesto de Outubro em que ele fez uma série de promessas. Um delas era dar ao povo o direito de representação semelhante ao da Grã-Bretanha, onde a democracia parlamentar atuava ao lado da monarquia. Nesta representação, chamada de Duma, o povo russo, supostamente, compartilhava poder com o czar.

A primeira Duma era uma estranha mistura de operários e camponeses. Embora eles devessem "compartilhar" o poder com o czar, este nunca teve tão pouca oposição como nessa época. As primeiras exigências exigiam o sufrágio universal, a reforma agrária irrestrita, a libertação de todos os presos políticos e muito mais. Esse acordo não iria adiante. O czar dissolveu a primeira Duma em junho de 1907, acirrando ainda mais os ânimos.

A Primeira Guerra Mundial e o fim do regime czarista

Outra causa da Revolução Bolchevique de 1917 foi a Primeira Guerra Mundial, que começou em 1914. A turbulência que ela gerou na sociedade russa ajudou à derrocada do governo czarista.

Na Primeira Guerra Mundial, a Rússia era aliada da Romênia contra a Alemanha, o Império Austro-Húngaro e o Império Otomano. A guerra foi um desastre para os russos, que tiveram dez milhões de mortos e feridos. O Império Otomano bloqueou o sul, e a Rússia ficou sem provisões e alimentos. Os preços subiram, levando a nação a um impasse crítico.

E isso levou a uma revolução no início de 1917 em Petrogrado (renomeada em 1914 de "São Petersburgo" com a intenção de soar menos alemão).

Cinquenta mil trabalhadores de Petrogrado entraram em greve. A cidade logo entrou em colapso e as estátuas do czar foram destruídas. Nicolau tentou parar os protestos, mas agora o exército era mais inclinado aos revolucionários, e então o regime do czar desmoronou. Em março, o czar Nicolau abdicou e foi detido em prisão domiciliar. Isso marcou o fim da monarquia russa. A Duma, que foi criada pela primeira vez em 1905 para compartilhar poder com o czar, agora estava de volta e com poder total. (Nicolau e sua família seriam executados em 1918, depois que os comunistas tomaram o poder na Revolução de Outubro de 1917).

Comunismo ou Marxismo-Leninismo

Outro motivo para a Revolução de Outubro foi o sucesso extraordinário da filosofia marxista, que era defendida por uma minoria agressiva. Um conjunto de ideias desenvolvidas a partir das obras de Karl Marx, um teórico político, sociólogo, jornalista e revolucionário socialista do século anterior.

Karl Marx via o mundo dividido entre trabalhadores e capitalistas. A classe operária que trabalhava por salário, mas que nunca passaria disso porque não possuía o que produzia. Estas eram as pessoas comuns conhecidas como o proletariado. Na outra ponta, estava a burguesia — os proprietários, os artesãos e os comerciantes. Os empresários eram aqueles que realmente recebiam a maior parte do lucro. A propriedade por si só lhes dava o direito ao capital. E isso era visto como algo que separava o mundo. O marxismo via o mundo através da ótica de que tudo era colorido pelos bens, pelo dinheiro e pelas propriedades.

Marx viu a solução no comunismo. Aquilo que o proletariado acabaria despertando. Eles escolheriam governos socialistas cujos recursos seriam compartilhados para melhorar a vida de todos.

O comunismo não é um governo. É um sistema sem Estado onde todos compartilham. Seu lema, cunhado por Karl Marx, era: “De cada um, de acordo com suas habilidades, a cada um, de acordo com suas necessidades". O conceito é que todos vão dar e receber o que querem, e que de alguma forma isso vai dar certo.

No entanto, isso não aconteceria automaticamente. Era preciso um catalisador. E aqui é onde entrava o marxismo-leninismo. Vladimir Lênin, quem liderou o fim da Revolução de Outubro, foi o primeiro ditador da União Soviética que levou o marxismo mais adiante.

Lênin pensava que era necessária uma ditadura do proletariado para facilitar a guerra de classes. E que era necessário um partido político para representar o interesse dos trabalhadores e, ao incluir os militares nisso, seria possível impor o imprescindível socialismo para criar, eventualmente, o comunismo.

Na época da queda do czar, em 1917, a batalha da Rússia contra a Alemanha na Primeira Guerra Mundial estava indo mal. Lênin, que tinha sido revolucionário e viveu no exílio por liderar protestos contra o czar, estava prestes a se tornar uma das pessoas mais influentes do século XX.

As pessoas estavam frustradas e revoltadas por causa do recrutamento, da economia ruim e da fome. O partido bolchevique, que era muito pequeno — apenas vinte mil membros nesta ocasião — resolveu desistir da guerra contra a Alemanha. O partido de Lênin não estava mais proibido na Rússia e, em abril de 1917, os alemães lhe deram um salvo conduto para viajar de trem da Suíça para casa, na esperança de que ele conseguisse tomar o poder e tirar a Rússia da guerra.

Após a chegada de Lenin a Petrogrado, a intriga e o caos resultaram numa miscelânea de grupos políticos, militares, socialistas e nacionalistas. Após um fracassado golpe de Estado pelos bolcheviques naquele verão, Lênin fugiu para a vizinha Finlândia.

Então os militares tentaram formar um governo provisório. Alexander Kerensky, o líder provisório, recuou diante dos bolcheviques e os defendeu. Os bolcheviques eram soldados, muitos deles oficiais e servidores da Marinha. Então, Kerensky estava em dívida com os bolcheviques. Lênin, o líder dos bolcheviques, voltou da Finlândia e, no outono, os bolcheviques vislumbraram sua oportunidade.

A Revolução de Outubro

Agora chegou o fim. O controle bolchevique ocorreu sem derramamento de sangue. Muitas pessoas nem sequer levaram isso a sério, vendo isso como mais justiça política pelo controle do governo.

Mas esta revolução foi bem planejada e executada por Lênin e o grupo de Leon Trotsky. Com o controle dos sovietes e a tomada da maioria das principais cidades, todos eles votaram pela dissolução do governo provisório e criaram, tendo Lênin como o ditador, a República Soviética Russa.

O povo apoiava o novo regime, porque conseguiu sair da guerra contra a Alemanha. A Rússia assinou um acordo de paz com os alemães em 3 de março de 1918 — no qual a Rússia cederia muito território à Alemanha.

Mas os russos saíram da frigideira e caíram no fogo. Uma guerra civil se instalou no país por cinco anos, na qual morreram cerca de oito milhões de pessoas. Finalmente, os bolcheviques venceram. O Partido Comunista foi estabelecido como o único partido governante (e permaneceu assim até ser banido em 1991). A URSS foi formada em 1922.

Lênin era visto por partidários como um herói do socialismo e da classe trabalhadora, enquanto os críticos dava ênfase a seu papel de fundador de um regime autoritário responsável pela repressão política e por homicídios em massa.

O seu sucessor, Josef Stalin, foi um dos déspotas mais implacáveis de toda a história, virando-se contra seu próprio povo e sendo responsável pela morte de dezenas de milhões de pessoas.

Na ideologia comunista, a ditadura do proletariado era temporária porque os ideais do comunismo acabariam assumindo o controle e o Estado desapareceria. Mas isso nunca aconteceu. E aqueles que tomaram o poder, permaneceram no poder.

Minha visita à URSS no ano do jubileu

Cinquenta anos após a Revolução de Outubro, em 1967, o governo soviético abriu um pouco as portas de seu isolacionismo. Seus oficiais queriam que o mundo visse o legado do socialismo. Eu tive a oportunidade de testemunhar isso. Na época, eu tinha dezenove anos e estudava na Califórnia. O editor-chefe da revista A Pura Verdade, sua esposa e eu nos juntamos a um grupo de historiadores para uma viagem de seis semanas, percorrendo mais da metade das repúblicas da URSS. Isso resultou em uma série de artigos, dividido em cinco partes, intitulada A Revolução Inacabada.

Os soviéticos aproveitaram a oportunidade para enfeitar as coisas para os curiosos estrangeiros. Notavelmente, em um dos mais famosos bulevares da Rússia, Nevsky Prospect, em Leningrado, todos os prédios foram pintados e realmente pareciam majestosos e festivos.

Enquanto a Guerra Fria estava no auge, as ruidosas manifestações políticas sempre pareciam sair do Kremlin. Isso foi silenciado quando os russos queriam que víssemos seu país. Ainda mais importante do que o foco histórico da viagem foram as nossas observações da vida soviética onde tivemos permissão de interagir com as pessoas.

Nós tínhamos um guia, um sujeito mal-humorado, que esteve conosco durante toda a viagem. Então, em cada uma das cidades, seríamos atendidos por outros guias e historiadores locais, que falariam sobre o significado histórico de cada área que visitávamos.

Desde o início, era evidente que toda a psique da nação estava saturada com a ideologia do pensamento comunista. Ainda mais evidentes eram os enormes outdoors que louvavam o sistema com slogans como "Glória ao Partido Comunista da União Soviética" ou "Glória ao Trabalho". Isto era para exaltar a vitória do proletariado em uma sociedade supostamente sem classes.

Havia enormes retratos de líderes por todos os lados. E, de longe, o mais notável era o de Lênin. Os soviéticos também davam o nome de seus líderes ou eventos históricos a edifícios e cidades. A segunda maior cidade da Rússia, Petrogrado, passou a ser chamada de Leningrado. A cidade natal de minha mãe foi renomeada para Pervomaysk ("primeiro de maio") em homenagem ao Dia Internacional dos Trabalhadores, novamente exaltando o proletariado.

Nossos anfitriões nos informaram que seu país era jovem, pois tinha apenas cinquenta anos, enquanto os Estados Unidos tinham quase duzentos anos de idade.

A vida no "paraíso dos trabalhadores"

Aquelas pessoas estavam isoladas do Ocidente. Grande parte do comércio era feito com as nações do leste europeu, atrás da Cortina de Ferro. Os preços eram rigorosamente controlados pelo Estado. O preço de um determinado artigo em um local era exatamente o mesmo em outro. Se fosse um item que o governo achasse que as pessoas precisavam, o custo era mais acessível. Por exemplo, o governo queria que as pessoas tivessem televisores e rádios para que pudesse conversar com eles, então garantiu que o preço estivesse ao alcance deles.

Por outro lado, se o item fosse algo pessoal, como um terno, o custo poderia alcançar vários meses de salários. Eu vi uma barra de chocolate à venda, mas o preço era cerca de sete ou oito vezes o que pagaríamos nos Estados Unidos. Comprei uma para ver como era. O chocolate já estava velho por estar tanto tempo à venda. Perguntei ao nosso guia por que o chocolate era tão caro. Ele me disse que talvez fosse porque era "mais puro".

Não havia propaganda de produtos e, certamente, também não tinha concorrência. Se houvesse alguma marca numa mercadoria, esta seria única por produto. Em Moscou, a única marca de cerveja era a "Moscow Beer". Obviamente, os itens de consumo eram escassos. Ficamos intrigados com a forma como esse sistema, que prometeu tanto para as pessoas, era tão deficiente em suprir suas necessidades, mas foi capaz de lançar o primeiro satélite na órbita da Terra e enviar o primeiro homem ao espaço.

A comunicação do governo era uma propaganda constante, dizendo às pessoas o quanto eram ótimas as coisas no "paraíso dos trabalhadores".

Um típico programa de TV seria um documentário maçante em que um chefe de fábrica comentava sobre a produção daquela planta. Esses programas não eram muito interessantes para as pessoas. Mas, em contraste, em um domingo à tarde em nosso hotel, estava passando um jogo de futebol na TV — o lobby ficou cheio de gente animada!

Somente o governo tinha a autorização para divulgar informações. Os programas de rádio da BBC, como a Voz da América, Rádio Europa Livre e Rádio Liberdade, foram banidos e bloqueados. Nas catedrais vimos antenas V invertidas para interferir nas frequências de transmissão estrangeiras. Estava claro que os líderes soviéticos não queriam que seus cidadãos soubessem o que estava acontecendo no Ocidente. Lembro-me de meus pais enviando fotos da família para seus irmãos na Ucrânia. Todas as correspondências eram censuradas. Se meus pais, nos Estados Unidos, enviassem fotos que mostrassem a casa em que vivíamos ou o carro da família, estas eram retiradas da correspondência.

Por outro lado, a literatura gratuita sobre a magnificência do comunismo era abundante e estava em todos os lugares.

A religião foi criticada por suas falhas e pelos clérigos historicamente corruptos que, muitas vezes, colaboravam ou estavam sob o controle da monarquia. Expulsaram toda a religião!

Karl Marx escreveu: "A religião é o soluço da criatura oprimida, o coração de um mundo sem coração, o espírito de um estado de coisas carente de espírito. A religião é o ópio do povo”. As igrejas foram fechadas, exceto algumas, que permaneceram abertas para permitir que poucas almas ignorantes as frequentem.

A famosa Catedral de Kazan agora era o "Museu da Religião e do Ateísmo". E isto era orgulhosamente destacado, e fomos encorajados a fazer uma visita. As exibições começavam com o homem primitivo, olhando com admiração para a lua e as estrelas. As exposições explicavam que o homem começou a adorar esses objetos.

À medida que você passa diante dos monitores, você via a formação da religião organizada com o objetivo de controlar e governar uma nação. Os abusos da religião eram destacados, nomeadamente a conversão cristã em 988 de todo o principado de Rus Kievana. Uma pintura retratava o povo da cidade sendo encaminhado ao rio Dnieper para um batismo em massa. Ao lado eram retratadas as terríveis consequências para aqueles que se recusavam.

A exibição continuava até o presente, exaltado como um tempo de iluminação na URSS. E mostrava foguetes sendo lançados no espaço e pessoas observando com admiração. Observamos o círculo completo, já que a exibição final era semelhante às primeiras cenas do museu, que mostravam o homem primitivo admirando os céus.

Não tivemos autorização de tirar nenhuma foto durante nossa viagem nos aeroportos, nos aviões ou nas estações de trem. Nosso guia nos acompanhava de perto e erguia sua mão se estivéssemos tirando fotos de algo "ilegal" — como dos bairros mais pobres por onde passou nosso ônibus de turismo.

Em todo o tempo tínhamos que ficar com o nosso grupo. No entanto, uma vez eu e o editor saímos sozinhos durante toda uma tarde, enquanto estivemos no Uzbequistão. Caminhamos por um parque de "cultura e descanso" e, casualmente, entramos no prédio da administração. Os administradores agiram como se nunca antes tivessem visto estrangeiros. Nós passamos a tarde toda entretidos numa conversa animada e esclarecedora. E gostamos muito daquela experiência. Quando voltamos para o hotel, nosso guia nos repreendeu e nos disse para nunca mais fazer isso!

Fomos levados para fazer uma visita a vários campos dos "Jovens Pioneiros". Todos os jovens tinham que ser doutrinados pelo Estado, que controlava os objetivos de seus corações e mentes. Isso começava aos nove anos de idade, como um “Pequeno Outubrista”, e seguia, até a idade de quatorze anos, como um “Jovem Pioneiro”, e, finalmente, o Komsomol, a Liga da Juventude Comunista de Toda a União. A admissão ao Partido Comunista era uma honra, pois apenas 15% da população eram membros do partido.

Outras visitas à URSS

Desde a minha primeira visita à URSS em 1967, viajei mais algumas dezenas de vezes em missões humanitárias e também da igreja. Eu também tive uma reunião memorável com os familiares de meus pais. Em 1988, ainda na era soviética, tivemos uma reunião com tios, tias e primos, familiares paternos e maternos, na cidade natal de minha mãe, Pervomaysk, Ucrânia.

Aquele foi um encontro revelador em que ficamos convivendo por três dias com familiares que nunca vi e que, a maioria, nunca mais veria. Conversamos sobre suas famílias, seu trabalho e seus jardins. Eles mais gostavam de conversar sobre seus filhos. Eles falavam de suas esperanças para o futuro de seus filhos. Eles esperavam muito que a vida de seus filhos fosse melhor do que a deles.

Eles estavam muito curiosos sobre tudo o que fizemos nos Estados Unidos. Eles queriam saber sobre nossa renda e o tamanho de nossas casas. Eles queriam que disséssemos sobre o que pensávamos deles.

A economia no estilo comunista

Meu primo me deu uma aula de economia, segundo entendido pelo comunismo. Expliquei como os negócios são realizados nos Estados Unidos. Quando falamos sobre como as coisas eram produzidas e vendidas, rapidamente ele respondeu que aquilo é um tipo de economia de exploração. E que era um total absurdo comprar e revender com lucro.

Ele me deu o exemplo de alguém que pegasse um peixe. Vender aquele peixe para outra pessoa para que esta o revendesse era, segundo a perspectiva comunista, imoral. Isto era especulação, uma palavra proferida com desprezo, e que demandava punições severas, em sua sociedade. Neste caso, aquele que comprasse o peixe era considerado um explorador. A coisa certa a fazer, segundo pensava, seria a pessoa que pegou o peixe vendê-lo diretamente ao consumidor. Então, argumentava ele, ninguém estaria aproveitando-se de ninguém. Mas produzir e depois vender para um atacadista que, em seguida, o venderia a um varejista era impensável e ilegal.

O governo era o único empregador do país. Não havia empresas privadas. As fazendas eram coletivas. Trabalhar nessa coletividade era desinteressante, ineficiente e desestimulante. Para que trabalhar duro? Por que se preocupar?

No entanto, o governo entregou pequenos lotes de terras para cada família produzir. Estas prosperaram! Quando a terra era das próprias pessoas, elas produziam bastante.

Os edifícios recém-construídos eram de péssima qualidade. As pessoas não tinham nenhum incentivo para fazer um trabalho de qualidade ou para se orgulharem daquilo.

O alcoolismo era descomedido (excessivo) tanto entre homens como mulheres. À medida que as pessoas ficavam entediadas e sem esperança, buscavam consolo na vodca. A expectativa de vida diminuiu até meados dos anos quarenta. Aquele sistema sem Deus, fundado no marxismo-leninismo, não estava funcionando.

A série de artigos que produzimos sobre os cinquenta anos de governo comunista foi chamada de A Revolução Inacabada. Agora, depois de mais cinquenta anos, podemos dizer com segurança que aquela foi uma revolução fracassada. Esse é o epitáfio de mais um sistema de governo criado pelo ser enganador, Satanás, o diabo, quem "debilita as nações" (Isaías 14:12).

Ao visitar a União Soviética antes de seu colapso, vimos os sinais de desmoronamento de um império. Mikhail Gorbachev, então presidente da União Soviética, conseguiu reconhecer essa estagnação, apatia e deterioração. Ele introduziu dois conceitos. Uma era uma glasnost ou abertura, que era a política de discutir francamente as realidades econômicas e políticas. Embora isso soasse estranho ao povo russo, pois não era algo que aquela sociedade se permitia pensar.

O outro conceito era a perestroika, ou a reconstrução. Definitivamente, as pessoas viram a necessidade disso. Todo mundo com quem falei sobre esses assuntos na URSS parecia resignado pelo fato de que isso demoraria muito tempo — talvez vinte anos — para se realizar. Não havia senso de urgência ou entusiasmo para fazer isso funcionar. Talvez já fosse demasiado tarde demais.

Pouco depois, em 1991, aquele império ruiu. Da mesma maneira que começou, ele também se desmoronou, sem derramamento de sangue. O mundo ficou abismado. Meus amigos no oeste da Ucrânia disseram que o sistema precisava passar por uma terraplenagem para nivelá-lo antes de ser reconstruído.

Embora se falasse em ideais do compartilhamento, da amizade (eles chamavam uns aos outros de "camaradas" ou companheiros) e da igualdade, um aspecto maior e mais dominante do comportamento humano se sobrepôs à sincera inocência da bondade. Enquanto o conhecimento de Deus se escureceu, permitido que atos de mentir, roubar e matar se tornassem aceitáveis, os valores do trabalho produtivo e o comportamento social aceitável foi se perdendo gradualmente à medida que a alma da nação se corrompia.

Em muitas ocasiões, vimos um total desinteresse entre os trabalhadores da área de serviços, como os garçons, para agir de forma gentil e educada. Por que agiam assim? Porque não havia nenhum incentivo para agir diferente. Por isso, não se importavam se você estivesse sendo bem atendido ou não.

Tempo de abertura e reconstrução

Mikhail Gorbachev, o último líder da União Soviética, tinha algo em mente quando apresentou a glasnost e a perestroika — porque a Bíblia realmente fala sobre uma perestroika muito maior, que incluirá a reconstrução de todas as nações.

Entretanto, primeiro deve haver uma glasnost, um diálogo entre o homem e Deus. O mundo de hoje está nas trevas porque rejeitou a Deus. Uma glasnost já foi estabelecida entre Deus e a Igreja que Seu Filho, Jesus Cristo, está construindo.

Veja o que o apóstolo Pedro diz sobre o futuro em Atos 3:18-21: "Mas Deus assim cumpriu o que já dantes pela boca de todos os Seus profetas havia anunciado que o Seu Cristo havia de padecer. Arrependei-vos, pois, e convertei-vos, para que sejam apagados os vossos pecados, de sorte que venham os tempos de refrigério, da presença do Senhor, e envie Ele o Cristo, que já dantes vos foi indicado, Jesus, ao qual convém que o céu receba até os tempos da restauração de todas as coisas, das quais Deus falou pela boca dos Seus santos profetas, desde o princípio" (grifo nosso).

Uma recriação do mundo está chegando! Mas não será nem um pouco semelhantes às tentativas fracassadas dos seres humanos de criar suas próprias utopias.

Os ideais do marxismo falharam. O comunismo na URSS falhou. Enquanto a China, o Vietnã, o Laos e Cuba afirmam oficialmente que são Estados comunistas, mas, na verdade, o país que se aproxima, de forma mais estrita, dos princípios comunistas é a Coreia do Norte — que não é um exemplo brilhante, pois é um país que mata de fome seus próprios cidadãos para produzir armas de destruição em massa para ameaçar os seus vizinhos.

Chegará um tempo em que o homem não mais olhará para os messias e sistemas políticos humanos falíveis para resolver seus problemas, mas dirão: “Vinde, e subamos ao monte do SENHOR, e à casa do Deus de Jacó, para que nos ensine os Seus caminhos, de sorte que andemos nas Suas veredas; porque de Sião sairá a lei, e de Jerusalém a palavra do SENHOR" (Miquéias 4:2).

Esse tempo vindouro — quando o Reino de Deus for estabelecido na Terra — é a promessa garantida de Deus e a grande esperança para a humanidade.

À medida que olhamos para os sistemas imperfeitos e falidos, que o homem tem criado durante mais de seis mil anos de experiência humana, e os perigos que afetam nosso mundo de hoje, devemos orar fervorosamente, dizendo: "Venha o Teu Reino!".