O Encontro Com Outras Pessoas Pelo Caminho
O melhor sermão não é o que é pregado ou ouvido, mas o que é “vivido” em tempo real com pessoas reais diante de um Deus muito real. E aí é que reside o nosso testemunho mais eficaz em aceitar o convite de seguir a Jesus.
Reflita um pouco nesse evento milagroso no livro de Atos em que Pedro e João se aproximaram do templo em Jerusalém (Atos 3:1-10). Quando estavam para entrar no templo, encontraram um coxo que diariamente pedia esmola aos que cruzavam seu caminho.
Sabemos que esse homem foi curado milagrosamente pelos apóstolos, mas o que me intriga é o que logo precedeu aquele momento. O versículo 4 diz: “E Pedro, com João, fitando os olhos nele, disse: Olha para nós”. Esta situação é muito diferente da atitude das outras pessoas que passavam correndo por esse homem apressadas para cumprir suas obrigações religiosas, aparentemente importantes. Ao fitar os olhos nesse indivíduo, Pedro e João chamou a atenção dele e ofereceu-lhe dignidade.
Com quem Pedro e João aprenderam esse método de lidar com as pessoas que cruzavam com eles nos caminhos da vida? Eles aprenderam Daquele que nos oferece o convite para segui-Lo, não apenas através de palavras, mas por meio de exemplos práticos de como lidar com aqueles que cruzavam Seu caminho.
O realismo espiritual prático
Às vezes, podemos estar espiritualmente impedidos de permitir que a luz de Cristo brilhe através de nós em uma sociedade cada vez mais sombria. E podemos até estar perguntando: "Por onde começo, e isso terá realmente um impacto?" O que podemos extrair do exemplo Daquele que declarou o seguinte: “Eu sou o caminho, e a verdade, e a vida” (João 14:6).
Vamos refletir sobre esse convite de segui-Lo, levando em conta quatro passos práticos de como Jesus lidou com aqueles que cruzavam Seu caminho. Descobriremos que essas escolhas feitas nesses momentos fugazes de encontro são as que realmente fazem diferença em um viver semelhante ao de Cristo.
Primeiro Passo: Aceitar sua esfera de influência pessoal
Sejamos espiritualmente realistas quanto ao que somos capazes de fazer. Não podemos interagir com o mundo inteiro de uma vez, por mais que desejemos. Até mesmo Jesus, embora Ele tenha vindo para libertar todas as pessoas do mundo através de Seu sacrifício, não encontrou todas as pessoas de uma vez durante Sua existência humana. Ao viajar pela região montanhosa da Galileia, Ele não estava muito preocupado com o que poderia ocorrer a seguir.
Contudo, Ele assumiu a responsabilidade pessoal por aqueles que estavam cruzando Seu caminho naquele momento e que estavam ao Seu alcance imediato — uma pessoa, um coração de cada vez, Ele nunca se esquivou de lidar com essas pessoas de uma maneira intimamente focada, sendo totalmente atencioso com elas.
Um estudo cuidadoso mostrará que a maioria dos encontros registrados de Jesus não ocorreram em sinagogas ou no pátio do templo, mas em locais comuns, como em cisternas de vilas, em casamentos, em jantares, em áreas rurais e nas estradas. Mas aqui está a diferença, o exemplo dEle e onde nós poderíamos chegar: O coração e mente de Cristo estava sempre preparado e disponível para qualquer um que porventura cruzasse Seu caminho.
Deus nos concedeu um ambiente repleto de ocasiões para dar nosso testemunho pessoal do fato de Cristo viver em nós. E você não precisa ir para muito longe para fazer isso. Pense nisso quanto ao seu cônjuge, filhos, parentes, colegas de trabalho, vizinhos, colegas de escola, outros membros da congregação e também muitos desconhecidos que cruzam diariamente nosso caminho.
Aqui está mais uma observação sobre o realismo espiritual e o desafio que está diante de nós: Jesus viveu em uma sociedade de ritmo lento, em que a média de velocidade de deslocamento das pessoas era de cerca de cinco a seis quilômetros por hora. Em geral, caminhar era a forma de se locomover e interagir com outras pessoas. As pessoas não tinham smartphones para atraí-las para uma existência isolada. O ritmo de vida e as distrações eram muito diferentes das atuais. Entretanto, a maior distração de todas já existia, assim como ainda existe hoje — a natureza humana egocêntrica e interesseira.
Uma chave vital para permanecer alerta e pronto é aprender a simplesmente obedecer a Deus quando Ele diz: “Aquietai-vos e sabei que Eu sou Deus” (Salmos 46:10). Este é o primeiro e mais importante passo para resistir ao egocentrismo. Esforce-se com a orientação de Deus para se ajustar espiritualmente em servi-Lo como Sua testemunha terrena. Peça a Deus para desenvolver em você um senso de antecipação de que Ele o usará diariamente para fazer a diferença na vida de alguém, não pelo que você sabe ou diz, mas pelo fato de como seus caminhos compartilhados se conectam, mesmo sendo por um só momento. E ao pedir isso, prepare-se conscientemente para atender ao um pedido de oração em tempo real com pessoas reais.
Segundo Passo: Aproximar-se das pessoas com um coração cristão
Todo ser humano é feito à imagem de Deus e, potencialmente, é Seu filho espiritual. Para que não esqueçamos, a revelação que recebemos dEle ocorreu somente por Sua graça — ainda assim, há muitos que precisam experimentar esse amor, essa esperança e essa paz de mente e coração. Mateus 9:35-38 descreve o que estava no caminho de Jesus. Enquanto “percorria Jesus todas as cidades e aldeias...E, vendo a multidão, teve grande compaixão [grego splanchnizomai, 'ser movido como pelas entranhas’, Dicionário Vine: O Significado Exegético e Expositivo das Palavras do Antigo e Novo Testamento, "Compaixão"] deles, porque andavam desgarrados e errantes como ovelhas que não têm pastor”. Será que isso tem alguma semelhança com o nosso mundo de hoje?
O que podemos compartilhar em nosso caminho de vida? Romanos 5:5 fala que o “amor de Deus” foi “derramado em nosso coração pelo Espírito Santo que nos foi dado”. Esta passagem fala de um amor não enraizado em solo humano, mas de uma afeição perfeita de nosso Pai Celestial e de Cristo que, intencionalmente, é “derramada” e espalhada para todos que tocam. Como discípulos de Jesus em desenvolvimento, entendemos que nós mesmos somos vasos humanos que expõem, compartilham e distribuem aos outros esse precioso dom do alto que nos foi dado gratuitamente?
Terceiro Passo: Concentrar-se no que Jesus fez por aqueles que cruzaram Seu caminho
O que vem a seguir é um pequeno, porém importante, passo prático que vai além de nossos argumentos mais ruidosos e pode criar um vínculo cristão.
A Escritura nos diz que “os ouvidos que ouvem e os olhos que veem foram feitos pelo SENHOR” (Provérbios 20:12, NVI). Que bênção! Mas, sinceramente, não usamos nossos olhos para alcançar todos os benefícios espirituais por causa da correria da vida, de nossa natureza humana e de uma falta de compreensão de que os olhos são "a lâmpada do corpo" (Mateus 6:22-24). Sem dúvida, os olhos são o espelho de nossas almas e daqueles que cruzam nosso caminho. Eles são uma ponte por meio da qual os relacionamentos são forjados e aprimorados. E eles precisam estar bem abertos para os outros!
Reflita por um momento a interação de Jesus com Zaqueu, um homem de pequena estatura de Jericó que queria vê-Lo chegar à cidade. Como a multidão bloqueava seu caminho, ele subiu em uma árvore para ter uma visão clara. As escrituras nos dizem: “Quando Jesus chegou, levantou o olhar para Zaqueu e o chamou pelo nome! "Zaqueu", disse Ele, "Depressa! Desça daí, pois hoje Eu vou hospedar-Me em sua casa!” (Lucas 19:5, Bíblia Viva).
Imagine o brilho nos olhos de Jesus ao ver esse homem se esforçando para subir em uma árvore para vê-Lo, e imagine o sorriso de Zaqueu quando Jesus o notou e fitou os olhos nele. Eu penso que, mais do que apenas olhar, eles conectaram seus corações. Então, seria de admirar que mais tarde Pedro e João viram aquele coxo perdido na multidão perto do portão do templo e lhe pediram que olhasse para eles?
Quarto Passo: Agradecer a Deus por qualquer pessoa que cruzar seu caminho
Esta última etapa é talvez a mais importante, se realmente quisermos aceitar o convite de seguir a Jesus. O que era incrível sobre Jesus era que Ele nunca tomava a glória para Si mesmo, mas sempre dirigia o louvor por Suas obras a Deus Pai. Ele nos deu o exemplo ao viver por estas palavras: “Na verdade, na verdade vos digo que o Filho por Si mesmo não pode fazer coisa alguma, se O não vir fazer ao Pai, porque tudo quanto Ele faz, o Filho O faz igualmente” (João 5:19).
Por que isso é tão importante? Porque a natureza humana, entregue a si mesma, deseja nossa íntima aprovação para tudo o que fazemos. “Olha o que eu fiz hoje!” Essa frase egocêntrica contrasta fortemente com a perfeita humildade do Filho de Deus, ainda que vivendo em carne humana. Ele exemplificou o grande entendimento de que o louvor deve ser dirigido principalmente para o alto. A resposta imediata de Jesus àqueles com quem se conectou ativamente no caminho da experiência humana ecoa nas palavras de Davi: “Louvar-te-ei, SENHOR, Deus Meu, com todo o meu coração e glorificarei o Teu nome para sempre” (Salmos 86:12 )
Agora é hora de eu parar de escrever e de você parar de ler e começar a praticar o que escrevi e de lidar, de forma cuidadosa e cristã, com todos os que encontrarmos hoje em nosso caminho, pela vontade de Deus, que é Quem merece receber toda a glória e honra.