“Quando Eu For e Vos Preparar Lugar”
Ao concluir o último artigo da coluna intitulada “Siga-Me”, “Fixando O Olhar na Eternidade”, afirmei que da próxima vez exploraríamos a eternidade juntos. Então, aqui estamos nós. Você está pronto?
Jesus disse na última noite de Sua existência humana: “E, quando Eu for e vos preparar lugar" (João 14:2, ARA). A expressão “quando Eu for” transmite a sensação de que Ele estava muito confiante e motivado em preparar algo especial no futuro. Mas de que Ele estava falando?
Onde deve estar nosso foco e visão quando se trata da eternidade? Esta é uma questão importante.
Dizem que o aventureiro Cristóvão Colombo “não sabia para onde estava indo, não sabia onde estava quando chegou lá, nem onde havia estado quando voltou — e fez tudo isso com capital emprestado”.
Colombo estava procurando uma passagem para um novo reino além do que conhecia e, de certa forma, nós também estamos. Mas, diferentemente da jornada de Colombo, nosso Pai Celestial e Jesus Cristo nos guiam e nos ajudam a entender para onde estamos indo, para quem e por quê. Ter esse vívido entendimento dentro de nós é vital para manter nossa peregrinação espiritual em resposta ao chamado ascendente de Deus através do convite de seguir a Cristo (ver Filipenses 3:14; Mateus 4:19).
Hoje em dia, esse entendimento divino vem através da Bíblia. Então, vamos abrir a eternidade escritura por escritura.
A comunhão íntima na eternidade
Nosso primeiro passo adiante na descoberta do “lugar preparado” é compreender a maneira pela qual Deus Pai e Seu Filho existem em Seu estado sobrenatural e incriado. Deus oferece essa autorrevelação em Isaías 57:15: “Porque assim diz o Alto e o Sublime, que habita na eternidade e cujo nome é Santo: Em um alto e santo lugar habito...”
Aqui somos apresentados a um reino diferente além de nosso mundo sujeito ao tempo e ao espaço. A palavra hebraica para a eternidade nesse versículo é ‘ad, que diz respeito à continuidade, carregando um sentimento de eternidade e perenidade, sem princípio nem fim. Mas isso não define um simples lugar. Nenhum “X” artificial e tangível poderia marcar um local chamado eternidade. Mais propriamente, a eternidade designa a existência ilimitada de Deus. E enfocar nessa eternidade é enfocar em Deus, que sozinho tem vida inerente e eterna.
Nesses termos, há uma surpreendente passagem no livro de Eclesiastes sobre os seres humanos que nos diz que Deus “pôs a eternidade no coração do homem” (Eclesiastes 3:11, ARA). Ao criar seres à Sua imagem, propositadamente, Deus plantou neles uma semente de anseio, que apenas um relacionamento íntimo com Ele, o Eterno, pode satisfazer.
Mesmo com a expulsão do homem do Jardim do Éden, ainda existe uma intensa sede e uma grande fome de significado na vida além do "agora", desta bolha de tempo e espaço. A história humana e nossa história pessoal demonstram como buscamos a eternidade em todos os lugares errados e por meios incorretos. Simplificando, não há atalhos para a eternidade!
Há quase dois mil anos, na última noite de Sua vida mortal, Cristo orou fervorosa e especificamente: “Pai, é chegada a hora; glorifica a Teu Filho, para que também o Teu Filho Te glorifique a Ti, assim como Lhe deste poder sobre toda carne, para que dê a vida eterna a todos quantos Lhe deste” (João 17:1-2).
Jesus implora que o Pai esteja com Ele nesse momento que está sendo oferecido como supremo sacrifício expiatório para reconciliar e restituir a humanidade a Deus e para que possamos receber a vida eterna.
Então, Ele define o que é a eternidade: “E a vida eterna é esta: que conheçam a Ti só por único Deus verdadeiro e a Jesus Cristo, a Quem enviaste” (versículo 3, grifo nosso). Aqui descobrimos que a vida eterna se baseia principalmente em um relacionamento íntimo e pessoal com Deus!
Aqui, a palavra “conhecer” é traduzida do termo grego ginosko, que indica uma estreita, calorosa e até ardente intimidade. Este termo é aplicado à condição de Maria, que ainda não havia conhecido um homem quanto à relação matrimonial física (Lucas 1:34) — como seu equivalente hebraico do Antigo Testamento, yada, ele também era usado para união carnal (ver Gênesis 4:1).
Sem dúvida, o desejo de Deus é conectar-se intimamente, não de forma carnal, mas em espírito e santidade com aqueles que foram criados à Sua imagem (ver 1 Coríntios 6:16-17). Através das Escrituras, o eco da voz de Deus declara Sua intenção de querer ser nosso Deus e nós Seu povo (Levítico 26:12; Hebreus 8:12).
A eternidade tem um custo!
Uma vez que entendemos que a eternidade é antes de tudo definida por um relacionamento íntimo e pessoal com Deus, que habita na eternidade, e que Jesus Cristo é "o caminho" e "a porta" para entrar nessa existência (ver João 10:7; 14:6) então, podemos começar a compreender esse magnífico futuro que está sendo preparado para nós. Ao contrário de Colombo, nossa jornada espiritual em direção à eternidade não se ampara em um "capital emprestado", mas foi pago por um gratuito e perfeito presente de amor.
O livro profético de Apocalipse, que termina com uma descrição da eternidade, começa com esta realidade: “Toda a glória seja àquele que nos ama e nos libertou de nossos pecados por meio de Seu sangue” (Apocalipse 1:5, Nova Versão Transformadora).
Vamos absorver completamente essa realidade. A vida eterna com Deus Pai e Jesus Cristo tem um custo — mas Ele já pagou por nós. Por isso é que o apóstolo Paulo foi inspirado a escrever que "o dom gratuito de Deus é a vida eterna, por Cristo Jesus, nosso Senhor" (Romanos 6:23).
Exatamente, a salvação é um presente! Nenhum esforço humano pode ganhar ou merecer a entrada na eternidade. Ela é recebida pela graça de Deus através do dom do sangue de Cristo — embora, como dizem outras escrituras, seja necessário arrependimento, submissão a Deus, obediência e mudança de atitude através do Espírito Santo de Deus para se receber esse dom.
Então, diante disso, em que situação nos encontramos agora? Jesus Cristo, que existia desde a eternidade, entrou em nosso reino do tempo e espaço e, depois de viver e morrer na carne, Ele voltou definitivamente para a eternidade, onde agora está preparando um lugar para nós! Por sua vez, captar isso e entregar voluntariamente nossas vidas à fé, reconhecendo esse supremo ato de amor, sinaliza nosso contínuo apreço, enquanto, com a ajuda de Deus, nos esforçamos para sermos santos, como Ele é santo (ver Levítico 19:2; 1 Pedro 1:16). Isso significa procurar obedecer a Deus e nos tornar semelhantes a Ele em todos os aspectos para sermos “perfeitos, como é perfeito o Vosso Pai, que está nos céus” (Mateus 5:48).
O que estamos esperando?
Entretanto, algumas pessoas podem opor-se à própria ideia de vida eterna, pensando: "Não quero continuar vivendo porque o que estou passando já parece uma eternidade — e você está falando de uma verdadeira eternidade?" Certamente! Mas estou falando de uma eternidade digna e com propósito e em união íntima com nosso Pai Celestial e Seu Filho Jesus Cristo, nosso irmão mais velho (Hebreus 2:9-12). Eles nos prometem um futuro maravilhoso, algo muito diferente da errônea crença popular de viver uma vida preguiçosa no céu por bilhões de anos!
Esse mesmo Irmão mais velho nos cumprimentará no limiar do tempo e espaço e a eternidade e nos acolherá em Seu nível de existência — mantendo assim Sua promessa de ter ido preparar um lugar para nós. Ao contrário de Colombo, saberemos que chegamos ao nosso destino final — a vida eterna na família e no Reino de Deus.
E isso me leva a outra pergunta: Por que desejamos a eternidade? Seria apenas para deixar para trás os problemas deste reino de tempo e espaço? (Certamente, isso parece mais do que humanamente razoável!) Ou seria para nos deleitar em nosso encontro supremo para unirmos ao nosso Pai Celestial e Jesus Cristo?
Entenda que os primeiros cristãos não estavam apenas esperando algo acontecer. Eles estavam esperando alguém chegar — voltar! Pense nisso como ir receber alguém no aeroporto. Você estaria no aeroporto esperando apenas a chegada de um avião ou esperando alguém sair dele? Imagine alguém que você ama e que também te ama! Você está ali para ver o rosto e o sorriso dessa pessoa e também abraçá-la. Às vezes, você quer continuar abraçando-a e nunca soltá-la. E não é isso o que realmente importa?
Lembre-se da conexão que Jesus fez, em João 17:3, entre a vida eterna e nosso conhecimento de Deus Pai e de Si mesmo. Então, no fim do dia, — ou, talvez deva dizer, do tempo e do espaço — formular a eternidade não dirá respeito a usar uma fita métrica ou ver um relógio que parou perpetuamente, mas será sobre você e Deus. Trata-se de experimentar o amor dEle e, por sua vez, de sua resposta à penetrante pergunta de Jesus: "Você Me ama?" (como Ele perguntou ao apóstolo Pedro em João 21:15-17). Jesus quer saber se Ele é o suficiente para você. E somente você, como fez Pedro, pode dar a resposta sobre sua motivação para almejar a eternidade.
O desejo de ver tudo cumprido
Antes de concluir, as Escrituras descrevem o momento final desse encontro quando a porta da eternidade se abre e Deus Pai vem abraçar a humanidade aperfeiçoada — nesse caso, não na pista de um aeroporto, mas como descreve o apóstolo João em Apocalipse 21:1-3:
“E vi um novo céu e uma nova terra. Porque já o primeiro céu e a primeira terra passaram...E eu, João, vi a Santa Cidade, a nova Jerusalém, que de Deus descia do céu, adereçada como uma esposa ataviada para o seu marido. E ouvi uma grande voz do céu, que dizia: Eis aqui o tabernáculo [ou morada] de Deus com os homens, pois com eles habitará, e eles serão o Seu povo, e o mesmo Deus estará com eles e será o Seu Deus”.
E Apocalipse 22:3-4 descreve ainda mais o incrível encontro íntimo e pessoal que os servos fiéis de Deus terão com Ele, declarando sobre a cidade vindoura: “Nela estará o trono de Deus e do Cordeiro, e os Seus servos o servirão. E verão o Seu rosto, e na sua testa estará o Seu nome”.
Moisés não teve permissão para ver o rosto de Deus e continuar vivo (Êxodo 33:20). Contudo, ele ainda o verá, como todos os fiéis de Deus. Então, esse será o cumprimento desta promessa de Jesus: "Bem-aventurados os limpos de coração, porque eles verão a Deus" (Mateus 5:8).
Começamos apenas a vislumbrar a eternidade, porém já sabemos que os fiéis de Deus sabem para onde estão indo, quem nos receberá e o custo para entrar nela. Por meio das Escrituras, entendemos que a marca que define a eternidade é o relacionamento. Agora podemos dar um passo adiante nesse reino ao aceitarmos o convite de seguir a Jesus, vendo além do que Cristo adiantou-se para preparar.
No próximo artigo, vamos continuar examinando e nos aprofundando nesse tema da eternidade.