A Tecnologia Pode Tornar O Ser Humano Imortal?
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A Tecnologia Pode Tornar O Ser Humano Imortal?
Qual é o segredo da consciência e do intelecto humanos?
Tudo é puramente matéria — uma questão de programação bioquímica que a ciência pode reproduzir?
Ou existe um elemento espiritual e imaterial na mente? Isso seria o que muitos chamam de alma ou outra coisa? E o que isso tem a ver com a vida após a morte?
Diante do crescente avanço da inteligência artificial, alguns têm renovado a esperança de que a vida humana possa ser prolongada por meios digitais, em que as pessoas terão a mente consciente e a memória “salvas” num computador, continuando a existir como seres sencientes, separados dos limites do corpo humano físico. Isso é coisa de ficção científica, porém, cada vez mais pessoas têm aceitado e buscado essa possibilidade.
Wesley Smith, pesquisador sênior do Center for Human Exceptionalism, parte do Discovery Institute, apontou: “Os transumanistas, como frequentemente são chamados, buscam diversas abordagens para alcançar, se não exatamente a vida eterna, pelo menos uma existência ilimitada. Alguns pretendem aumentar radicalmente a esperança de vida através da biotecnologia, como o retardo do envelhecimento celular, a produção de órgãos clonados para substituir partes desgastadas do corpo e a utilização de terapias com células estaminais”.
“Mas a proposta de imortalidade transumanista mais proeminente hoje em dia visa transferir as nossas mentes para computadores com inteligência artificial onde poderemos ‘viver num cloud computing” [banco de dados em nuvem] ou como seres cibernéticos. O programa de computador resultante dessa “transferência mental” seria teoricamente um clone da mente do ser humano do qual foi derivado — tendo a mesma personalidade, lembranças, gostos, desgostos, e assim por diante. Alguns cientistas e futuristas de renome mundial realmente esperam que os pesquisadores desenvolvam a tecnologia para realizar esse feito na primeira metade deste século” (“Your Mind Uploaded in a Computer Would Not Be You” [A transferência da mente humana para um computador, em tradução livre], site First Things, 2 de março de 2018, grifo nosso). Leia o artigo “A Corrida Pela Imortalidade” em nossa edição de julho-agosto de 2018 para saber mais sobre esse assunto (link no box Aprofundando o Tema no fim deste artigo).
Esse tipo de pensamento pressupõe que as pessoas são máquinas puramente biológicas, com pensamento, consciência e emoções humanas resultantes de processos computacionais de sistemas neurológicos — sistemas que evoluíram através de um “concurso fortuito de átomos”. Contudo, além da “imaginação” de uma existência animatrônica, toda a base para essa ideia é nada mais do que fantasia.
O homem e a mente humana não são acidentes do acaso. Eles são o resultado do projeto de um Deus Criador para um propósito extraordinário. E eles não são apenas físicos e bioquímicos na forma como atuam. A existência humana é muito mais do que aparenta ser — ou algo que pode ser manipulado pela tecnologia de transferência de dados.
Mas o que é o homem? A que atribuímos a incrível engenhosidade e tecnologia da civilização humana? Isso vai muito além de simplesmente ter um cérebro físico mais avançado do que o dos animais. Muitos creem em uma “alma imortal” e espiritual independente do corpo, e é comum pensar que a Bíblia ensina esse conceito. Contudo, isso não é verdade.
Então, qual é a base da mente humana? E o que isso significa para o antigo desejo das pessoas de viverem eternamente? Isso seria realmente possível?
Um espírito de entendimento no homem
A Bíblia menciona um “espírito” que faz parte da composição do homem. Ela apresenta a criação do homem dessa forma: “Fala o SENHOR, o que estende o céu, e que funda a terra, e que forma o espírito do homem dentro dele” (Zacarias 12:1). E Jó 32:8 diz: “Na verdade, há um espírito no homem, e a inspiração do Todo-Poderoso o faz entendido” (ACF).
A palavra hebraica ruach, traduzida como “espírito” nessa passagem, refere-se literalmente a um vento ou sopro, uma expiração de ar — observe o uso paralelo da palavra “sopro” (neshamah) na passagem de Jó. Por trás dessa terminologia está a ideia de uma força invisível, fazendo um paralelo com o uso da palavra grega pneuma do Novo Testamento. Os termos ruach e pneuma são usados para referir-se à existência e ao poder de Deus, bem como para a existência de anjos e demônios — todos os seres imateriais ou espirituais (ver João 4:24; Salmos 104:4).
Entretanto, o homem não foi formado como um ser espiritual, mas como um ser físico de carne e osso. Gênesis 2:7 diz que Deus soprou no primeiro homem o fôlego de vida e ele “foi feito alma vivente”. Nessa passagem, a palavra hebraica nephesh, às vezes traduzida como alma, refere-se a um ser de carne e osso assim como os animais. Mas o homem é único, pois Deus soprou nele um fôlego de vida especial, ao contrário do que é dito sobre os animais.
Ali havia uma conexão mais pessoal para um propósito maior. E isso se compara à menção em Jó de um espírito e sopro que dá entendimento. O termo ruach se refere, portanto, não apenas a uma poderosa força invisível, mas a um componente imperceptível que provê vida e inteligência — nesse caso, a peculiar inteligência humana. E Gênesis 1:26-27 também afirma que os seres humanos foram criados à imagem e semelhança de Deus.
Deus colocou no ser humano um espírito que o diferencia dos animais. Ele permitiu que Adão desse nome aos animais. Deus disse ao homem para cuidar e tomar conta da criação (Gênesis 2:15). O homem está acima da criação e é superior aos animais em mente e ser. Não somos da espécie animal. E não somos seres que se elevaram acima do resto da criação por algum processo evolutivo aleatório. A humanidade foi criada especialmente à imagem divina com a capacidade de se relacionar com Deus.
Embora sejamos seres físicos, temos um componente espiritual em nossa existência. O apóstolo Paulo menciona abertamente isso ao perguntar de forma retórica: “Porque qual dos homens sabe as coisas do homem, senão o espírito do homem, que nele está?” (1 Coríntios 2:11). Portanto, a autoconsciência e o intelecto humanos existem pela presença invisível do espírito humano.
E quanto ao cérebro? A ciência mostra que ele contém armazenamento de memória e funciona como um computador biológico em vários aspectos. Contudo, a função física do cérebro não é suficiente para explicar a grandiosidade do pensamento e da genialidade humana, especialmente em comparação com os animais. A diferença é o espírito no homem, que transmite ao cérebro a complexidade e a profundidade do pensamento e dos sentimentos humanos — atuando em conjunto, o cérebro humano e o espírito humano formam a mente humana.
Através do espírito humano, as pessoas desenvolveram culturas e civilizações. Pelo espírito humano, foram feitas grandes descobertas e a tecnologia da engenharia avançou a ponto de criar o nosso mundo moderno. Os animais não compõem sinfonias nem enviam foguetes à lua! Obviamente, os seres humanos são muito diferentes.
Pelo espírito humano o homem faz escolhas morais. Infelizmente, a humanidade tem feito muitas escolhas erradas nessa área da vida — abusando do potencial recebido através do espírito humano. Entretanto, Deus pretende que o homem aprenda lições importantes, especialmente acerca da necessidade de confiar totalmente na ajuda dEle.
O caminho para viver eternamente
Contudo, é importante entender que o espírito humano não é a mesma coisa que o falso conceito da alma imortal que muitos aprenderam. A ideia de que o homem nasce com uma alma consciente que sobrevive após a morte não tem apoio nas Escrituras. Esse conceito se originou da adulteração do cristianismo e do judaísmo primitivos pela religião e filosofia gregas. (Ver “Você Não Tem Uma Alma Imortal” a partir da página 10).
O espírito de uma pessoa não é a própria pessoa. Esse espírito não está vivo nem é autoconsciente, independente do corpo, e não vive em uma vida desencarnada após a morte. Quando uma pessoa morre, não tem consciência de absolutamente nada. Como o rei Salomão de Israel escreveu em Eclesiastes 9:5: “Os mortos não sabem coisa nenhuma” (ver também o versículo 10). Assim não há consciência após a morte até uma futura ressurreição (peça ou baixe nosso guia de estudo bíblico gratuito “O Que Acontece Depois da Morte?” para saber mais).
O apóstolo Paulo era um judeu altamente educado. Ele foi educado na tradição farisaica aos pés do renomado professor do primeiro século, Gamaliel (Atos 22:3; ver 5:34). Entretanto, Paulo também foi um estudioso do mundo grego. Pelo fato de ser de Tarso, um centro de aprendizagem grega, ele estava bem familiarizado com o pensamento filosófico grego. Em Atos 17, Paulo citou poetas gregos ao apresentar aos filósofos atenienses o Deus verdadeiro, reverenciado em seus monumentos como “o Deus Desconhecido”. Sem dúvida, ele conhecia as ideias platônicas da imortalidade da alma. E sendo um judeu instruído nas Escrituras, ele também sabia que não era isso que Deus tinha revelado sobre a natureza do homem.
Quando escreveu duas cartas à igreja da cidade grega de Corinto, Paulo teve a oportunidade perfeita para confirmar as ideias gregas da imortalidade. Mas, em 1 Coríntios 15, o foco dele estava na futura ressurreição dos mortos em um corpo imortal — e ele referiu-se à morte como sendo semelhante ao sono, sem qualquer tipo de consciência. Como vimos anteriormente, ele também mencionou o espírito humano no segundo capítulo como sendo um meio para o conhecimento humano. Portanto, está claro que ele entendia que esse espírito não era algo consciente e separado do corpo.
Mas, evidentemente, o espírito humano fará parte da futura ressurreição.
Considere o que Salomão escreveu em Eclesiastes sobre o resultado da vida física. Ele relata uma série de ponderações mostrando que a vida se desgasta, o corpo envelhece e a morte chega — mas ele nos aconselha a pensar além disso: “Sim, lembre-se do seu Criador agora, enquanto você é jovem, antes que o fio de prata da vida seja cortado; antes que o copo de ouro se quebre; antes que o vaso se quebre junto à fonte e a roda se parta junto ao poço; antes que o pó volte à terra de onde veio e o espírito volte a Deus que o deu” (Eclesiastes 12:6-7, Bíblia Viva).
Então, na morte, o espírito retorna a Deus que o deu. Isso não se refere a uma alma consciente e imortal subindo ao céu, mas ao componente espiritual da mente do homem, que não pensa nem é autoconsciente, que volta à guarda de Deus. Mas para qual finalidade? Aparentemente, isso é para preservar todas as características da pessoa com o intuito de reconstitui-la depois, juntamento com sua forma de pensar, em uma futura ressurreição dos mortos (ver “O Que É O ‘Espírito no Homem’?”).
Então de alguma forma que só Deus sabe, a mente de uma pessoa é inteiramente “transferida” de volta para Ele e, posteriormente, “retransferida” para um futuro corpo ressuscitado — sem uma consciência intermediária. Isso ocorre no âmbito espiritual, através do onipotente poder de Deus, e está muito além do escopo e da capacidade de qualquer tecnologia humana.
Entretanto, ainda falta um elemento aqui.
Conexão eterna com Deus
A vida humana se encontra em perfeito equilíbrio quando há um relacionamento com Deus, o Criador da vida, baseado nos ensinamentos revelados em Sua Palavra, a Bíblia. Na verdade, fomos criados como seres relacionais. E Deus colocou no homem um espírito, uma parte do reino eterno, que permite uma conexão — um relacionamento entre os dois.
Mas esse espírito humano não é o suficiente para alcançar o relacionamento que Deus deseja ter conosco para nos tornar Seus verdadeiros filhos espirituais. Deus quer nos imbuir com o Seu próprio Espírito — o Espírito Santo — que, enfim, é o único meio para seguirmos os caminhos dEle e sermos transformados em seres imortais.
Em 1 Coríntios 2, observe o contexto da declaração de Paulo sobre o espírito humano. Ele diz que Deus nos revelou Sua verdade e planos “pelo seu Espírito; porque o Espírito penetra todas as coisas, ainda as profundezas de Deus. Porque qual dos homens sabe as coisas do homem, senão o espírito do homem, que nele está? Assim também ninguém sabe as coisas de Deus, senão o Espírito de Deus. Mas nós não recebemos o espírito do mundo, mas o Espírito que provém de Deus, para que pudéssemos conhecer o que nos é dado gratuitamente por Deus” (versículos 10-12).
O entendimento profundo que necessitamos não está disponível apenas pelo espírito humano. Precisamos do Espírito de Deus para revelá-lo.
E em Romanos 8, Paulo acrescenta a dimensão final disso. Ele mostra que precisamos do Espírito de Deus para superar a arraigada resistência a Deus em nossa natureza humana corrompida (versículos 5-10). Além disso, ele explica que é o Espírito de Deus unido ao espírito humano que permite ao homem participar da natureza divina como filho de Deus: “Porque o Espírito que vocês receberam de Deus não torna vocês escravos e não faz com que tenham medo. Pelo contrário, o Espírito torna vocês filhos de Deus” (versículo 15, BLH). E é por esse Espírito que “clamamos, Aba, Pai. O próprio Espírito testifica com o nosso espírito que somos filhos de Deus. Ora, se somos filhos, somos também herdeiros, herdeiros de Deus e coerdeiros com Cristo; se com Ele sofremos, também com Ele seremos glorificados” (versículos 16-17, ARA).
Então, o homem foi criado à imagem de Deus. Temos um espírito único que transmite o pensamento humano ao cérebro humano — formando a mente humana, que não pode ser reproduzida pela tecnologia humana. Através desse espírito único dentro de nós, temos a capacidade de nos conectarmos com Deus, correspondendo aos Seus ensinamentos. Mas isso não é tudo. Assim, nesse processo definido biblicamente, podemos receber o dom do Espírito Santo de Deus e, através dele, podemos atingir nosso potencial máximo de herdar a vida eterna e ser parte da família de Deus.
Apenas dessa forma nós, seres humanos, podemos transcender nossa existência mortal para realizar nosso incrível e eterno destino com Deus. Na verdade, o futuro que Deus planejou para nós é muito maior do que qualquer avanço da tecnologia moderna! Não se conforme com falsas esperanças. Confie em Deus e em Seu propósito final para sua vida!
O que é o “Espírito no Homem”?
Qual é a diferença entre um cérebro humano e um cérebro animal de tamanho equivalente? A ciência não foi capaz de explicar a grande diferença na capacidade de raciocínio entre o cérebro animal e a mente humana. Mas a Bíblia revela um componente espiritual que Deus concede a cada pessoa (Zacarias 12:1). A Bíblia ensina que esse espírito no homem transmite alguns aspectos à mente humana, o que inclui autoconsciência, intelecto, criatividade, personalidade e temperamento — tudo isso permite a realização e o conhecimento humano aquém da verdadeira compreensão espiritual (1 Coríntios 2:11).
A passagem de Eclesiastes 12:7 menciona esse espírito, dizendo que o espírito do homem retorna a Deus quando morremos. Alguns interpretam, erroneamente, isso como uma referência a almas justas indo para o céu. Entretanto, o contexto mostra que essa interpretação está errada. Pois, ela diz que o espírito de todos os que morrem, não apenas dos justos, volta para Deus que o deu. Os versículos anteriores mencionam o envelhecimento e a morte como um curso natural da vida de toda pessoa.
Como nosso guia de estudo bíblico “O Que Acontece Depois da Morte?” explica, Paulo escreveu que os mortos justos esperam em seus túmulos até a ressurreição (1 Tessalonicenses 4:14-18). E visto que Cristo voltará à Terra para reinar, os santos ressuscitados também estarão na Terra. Sem dúvida, ir para o céu após a morte não é a recompensa dos cristãos. (Ver também nosso guia de estudo bíblico “O Céu e o Inferno: O Que Realmente Ensina a Bíblia?”).
A passagem de Eclesiastes 12:7 encerra essa questão sobre o envelhecimento e a morte, dizendo: “E o pó [nossos corpos humanos físicos] volte à terra, como o era, e o espírito volte a Deus, que o deu”. Após a morte, o corpo humano se decompõe no pó do qual foi criado e o espírito do homem volta para Deus.
O que é o espírito no homem? É o próprio homem? Não, pois se fosse assim, Eclesiastes 12:7 não faria sentido. Essa passagem diz claramente que o corpo se decompõe. Então, o espírito no homem é uma alma imortal? Grande parte da principal corrente do cristianismo adotou essa ideia de uma alma imortal de antigas religiões pagãs, mas não é isso que as Escrituras ensinam.
Por que o espírito do homem retornaria a Deus após a morte? Pondere sobre como Deus ressuscitará os mortos. Ele não irá simplesmente devolver a vida aos cadáveres. Pois mesmo que o corpo permaneça intacto na morte, ele acabará se decompondo, assim como declarado em Eclesiastes 12:7. Certamente, os corpos da maioria das pessoas não existirão mais na época das ressurreições. Eles se decomporão em átomos e moléculas inativas.
Portanto, é provável que o espírito no homem sirva como registro permanente das características de cada ser humano, pelo qual Deus o ressuscitará no tempo determinado (1 Coríntios 15:23). Por analogia, é possível reconstruir um edifício destruído se tivermos a planta original dele. Assim, da mesma forma, Deus é capaz de recriar uma pessoa pelo registro preservado no espírito do homem.