Comentário Bíblico
Êxodo 3-4
Deus Fala Com Moisés Através da Sarça Ardente
Chegou a hora de Deus libertar os israelitas de acordo com a profecia entregue a Abraão no décimo quinto capítulo de Gênesis. O Todo-Poderoso chama Moisés, que estava cuidando do rebanho de seu sogro, atraindo-o com uma visão milagrosa — uma sarça que queimava mas não era consumida pelo fogo. Deus enfatizou que Ele era o Deus de Abraão, Isaque e Jacó, a quem foram entregues as promessas da aliança. E agora chegou a hora de cumprir parte dessa aliança, tirando os israelitas do cativeiro e levando-os para a terra que Ele havia prometido aos seus descendentes.
Às vezes, precisamos ser pacientes com as provações que nos afligem. As promessas de Deus são sempre confiáveis. Contudo, às vezes parece uma eternidade quando estamos cercados por provações. Entretanto, quando Deus resolve intervir, isso acontece de forma rápida! "E Deus não fará justiça aos Seus escolhidos, que clamam a Ele de dia e de noite, ainda que tardio para com eles? Digo-vos que, depressa, lhes fará justiça. Quando, porém, vier o Filho do Homem, porventura, achará fé na terra?" (Lucas 18:7-8).
Assim como Deus preparou Moisés para tudo o que viria acontecer, atualmente Ele prepara Seu povo para os eventos que ocorrerão no futuro.
Continuando no quarto capítulo, uma vez que Deus sabe como a mente humana raciocina, Ele preparou Moisés para que demonstre autoridade através de alguns milagres — porém, não para que ele fosse considerado um salvador autossuficiente, mas para que fosse visto realmente como apenas um servo enviado por Deus. Sem dúvida, Deus sabe exatamente como chamar a atenção de alguém. Os três milagres que Deus possibilitou Moisés realizar seriam um grande testemunho para os egípcios — e também para os israelitas, que estavam bastante influenciados pela religião egípcia. A serpente era um dos deuses do Egito. E a lepra era uma doença incurável que faria qualquer médico da época acreditar em um "deus" se ocorresse uma cura. Por último, mas não menos importante, o Nilo também era adorado, e profanar suas águas com sangue chamaria a atenção de todos!
E também podemos começar a ver o caráter manso e discreto de Moisés sendo revelado nesse capítulo. Certamente, a profunda humildade de Moisés (Números 12:3) foi principalmente o resultado de sua proximidade com Deus, mas é evidente que também estava enraizada em sua própria personalidade. Embora nessa época, Moisés, como mais tarde pregou Estevão, já era "poderoso em palavras e obras", parece que lhe faltava autoconfiança. Mas não é incomum que pessoas talentosas e bem-sucedidas não serem confiantes. Nesse caso, essa fraqueza foi transformada em força, porque a autoconfiança logo foi substituída por uma grande confiança e fé em Deus. Contudo, nesse ponto, Moisés estava se concentrando em sua aparente incapacidade e tentando se livrar dessa grandiosa tarefa.
Mas talvez ele estivesse simplesmente tão maravilhado com Deus que se julgasse incapaz de representá-Lo. Entretanto, considerando quem é Deus e Seu poder, Moisés não deveria ter sido tão presunçoso ao pensar que Ele estava cometendo um erro ao escolhê-lo — e que Deus não poderia utilizá-lo conforme necessário. Embora Deus entendesse a personalidade de Moisés, este estava testando Sua paciência ao não se concentrar em todos os milagres e apoio de Deus. E, como Deus logo disse, Ele era o Deus Criador — Aquele que projetou e criou a boca humana. Contudo, Deus é muito misericordioso e compreensivo. Embora irritado com Moisés por sua aparente falta de fé, Deus ainda lhe deu a ajuda de seu irmão mais velho, Arão. Mas, provavelmente, Deus já pretendia que Arão participasse dessa empreitada, que deveria servir como sumo sacerdote de Israel. Mas parece que em pouco tempo, Moisés já estava falando diretamente com Faraó, ou seja, sem a ajuda de Arão (ver Êxodo 8:9, 26, 29).
Quando chegamos a Êxodo 4:24, é chocante ler que Deus procurou matar Moisés! Por quê? Observe o relato no quarto capítulo do confronto entre Moisés e sua esposa. Parte da aliança de Deus com Abraão, Isaque e Jacó envolvia o reconhecimento dessa aliança através do ato da circuncisão. Então, qualquer homem dentre o povo de Deus que não fosse circuncidado seria “extirpado” ou eliminado. Quando analisamos os destinatários das promessas da aliança, podemos ver que elas não se estenderam à linhagem nascida de Abraão e Quetura. Os midianitas eram descendentes de Abraão e Quetura através de Midiã.
Embora o próprio Midiã talvez tenha sido circuncidado, assim como Ismael, provavelmente, depois que os filhos de Quetura foram mandados embora (Gênesis 25:6), eles não continuaram a prática de circuncidar seus filhos. Em vez disso, "os midianitas praticavam a circuncisão em um noivo logo antes de seu casamento, em vez de circuncidar os bebês do sexo masculino... Muitos povos vizinhos a Israel praticavam a circuncisão, mas nenhum, exceto Israel, circuncidava bebês" (The Nelson Study Bible [Bíblia de Estudo Nelson, em tradução livre], nota de Gênesis 25:24).
Então, analisando os versículos 24 a 26, fica evidente que Deus estava responsabilizando Moisés pelo dever de circuncidar seu filho, mas ele havia delegado isso para sua esposa, Zípora, que se opôs a fazer isso. Ela acabou fazendo isso, mas com relutância e ressentimento, chamando Moisés de "esposo sanguinário". E também podemos nos perguntar por que apenas um filho estava em questão já que Moisés tinha dois filhos (Êxodo 4:20; 18:3-4). Uma sugestão é que, "muito provavelmente, Moisés manteve um de seus filhos incircunciso, apesar do que Deus havia ordenado" (mesma nota). Talvez Zípora tenha ficado tão chateada com a circuncisão de um filho que exigiu que seu próximo filho não fosse circuncidado. Em todo o caso, Moisés não estava seguindo as instruções de Deus. E isso envolvia o próprio sinal do povo da aliança — sendo violado por aquele que seria o líder daquela nação. Diante de tudo isso, a desobediência de Moisés se tornou uma transgressão gravíssima. Então, encontramos esta breve inserção — o registro de um incidente que, sem dúvida, teve um grande impacto sobre Moisés.