O Sacrifício de Crianças
Embora quase catorze anos tenha se passado, a imagem continua a ser uma lembrança viva na minha mente. Um policial do lado de fora de um tribunal segurando em sua mão esquerda a cabeça de um menino de seis anos de idade, decapitado em um ritual de sacrifício de infantes.
O horrível assassinato ocorreu na África Ocidental. Os autores deste ato hediondo, que incluía pelo menos um parente próximo do menino, foram presos, julgados e executados dentro de algumas semanas. Mas o sacrifício de crianças continua sendo uma realidade hoje em dia.
O sacrifício de uma criança—para a maioria das pessoas das nações ocidentais—traz à luz algumas lembranças de aulas sobre a história antiga. Claro que todos nós sabemos que já ocorreu uma vez no passado, mas certamente não agora, não no nosso mundo civilizado contemporâneo.
Sem dúvida, nos tempos bíblicos, as crianças eram assassinadas desta forma —e o Deus da Bíblia condena veementemente esta prática. Em 2 Reis 3:26-27, lemos que "vendo o rei dos moabitas que a peleja prevalecia contra ele... Então, tomou a seu filho primogênito, que havia de reinar em seu lugar, e o ofereceu em holocausto sobre o muro".
Em Jeremias 7:30-31 lemos que Deus condena o sacrifício de crianças: "Porque os filhos de Judá fizeram o que era mal aos meus olhos, diz o Senhor . . . E edificaram os altos de Tofete... para queimarem a seus filhos e a suas filhas; o que nunca ordenei, nem me subiu ao coração".
Não é um assunto agradável para se pensar. Mas a realidade é que o sacrifício de crianças ainda está por aí e é muito mais comum do que você pensa.777
O sacrifício de crianças continua
Evidentemente, as crianças podem ser sacrificadas de muitas maneiras. Outra nação do oeste da África, Serra Leoa, foi recentemente assolada por uma terrível guerra civil onde dezenas de milhares de soldados eram crianças, adolescentes e pré-adolescentes. Um dos métodos usados pelos soldados para intimidar o lado adversário era o de cortar seus membros. O resultado é que milhares de crianças perderam suas mãos, braços e pernas.
A África Ocidental não é a única parte do mundo onde as crianças são vítimas da guerra.
Os terroristas palestinos treinam homens e mulheres jovens, alguns ainda adolescentes, para serem homens-bombas, em seguida, enviam-nos a Israel para explodirem crianças judias. Os terroristas fundamentalistas Islâmicos não têm escrúpulos em assassinar crianças. Para eles, seu objetivo justifica os meios.
Dois meses depois da decapitação mencionada acima, terroristas líbios explodiram um avião da Pan Am sobre a cidade escocesa de Lockerbie, matando 270 pessoas, incluindo várias crianças. Uma foto em uma revista mostrou uma jovem que morreu neste avião. Alguém que a havia conhecido no aeroporto antes do voo fatal deixava um ramalhete de flores para ela, onde tinha uma simples inscrição: "Menina, você não merecia isso".
No momento do atentado, minha esposa e eu estávamos morando na África Ocidental, um país que era amigo da Líbia. Minha esposa voltava para casa em Detroit em um voo da Pan Am com destino a Londres no mesmo dia que ocorreu a atrocidade de Lockerbie, e o avião que explodiu também estava a caminho de Detroit via Nova Iorque, provindo da capital da Inglaterra. O voo dela era um mais cedo e direto do Reino Unido. Os amigos me ligaram para saber se ela era um dos passageiros nesse voo fatal. Fiquei muito feliz ao dizer que ela não estava nele, mas poderia muito bem ter escolhido esse voo como qualquer outro.
Lembro-me de expressar o meu repúdio a esse terrível ato terrorista, expressando meu desprezo pela desumanidade de quem facilmente pode explodir centenas de pessoas inocentes, inclusive crianças.
Mas a resposta de uma pessoa me chocou—e ressoa até hoje em minha mente: "Vocês norte-americanos fazem tanto alarde por causa da perda de algumas crianças mortas por terroristas. No entanto, a cada ano vocês matam milhões de seus próprios filhos".
Ele estava falando sobre o sacrifício de crianças nos Estados Unidos: O aborto.
As crianças não são valorizadas
É claro, o aborto não é uma praga apenas nos Estados Unidos. Muitas nações ocidentais permitem o aborto. Os antigos países comunistas da Europa Oriental incentivavam o aborto a tal ponto que se relata que as mulheres na União Soviética faziam cerca de sete abortos por cada criança que sobrevivia ao nascimento.
A Rússia pagou um alto preço por essa política devastadora. Eventualmente, a população russa diminuiu tanto que os próprios russos não conseguiram manter o controle sobre outras áreas da União Soviética, que começaram a ter populações mais numerosas.
Algo semelhante está acontecendo no Ocidente, onde a taxa de natalidade é tão baixa que milhões de pessoas de outras nações têm sido importadas a cada ano para manter em funcionamento as economias ocidentais que vêm se degradando, e uma crescente população idosa deve ser sustentada financeiramente por uma proporção cada vez menor de trabalhadores jovens.
Apesar do sacrifício bárbaro ocasional de crianças e de guerras horríveis envolvendo crianças-soldados, geralmente as pessoas na maioria dos países mais pobres, valorizam seus filhos muito mais do que muitos no Ocidente. Uma razão para isto é a economia. Em países sem programas de seguridade social eficazes, os filhos são a segurança para a velhice— eles vão cuidar de seus pais quando estes estiverem velhos demais para cuidar de si mesmos. Essa é a forma como era nos países ocidentais, até muito recentemente.
Além disso, nos países mais pobres, as taxas de mortalidade infantil são mais elevadas do que no Ocidente. Esses casais precisam ter muitos filhos para assegurar que pelo menos alguns cheguem à idade adulta. Além disso, os valores religiosos e a tradição, muitas vezes proíbem o uso de controle de natalidade, enquanto as pressões da família garantem que a maioria das mulheres dê à luz com frequência. A família ajuda a cuidar das crianças, que são consideradas membros de uma grande unidade familiar. Todos esses fatores fazem com que a taxa de natalidade dos países mais pobres seja, quase sempre, cinco ou mais vezes superiores aos das nações mais ricas.
A discrepância entre estas taxas de natalidade levou a uma das maiores migrações da história de um movimento maciço de povos das nações pobres do mundo para o mundo Ocidental das nações ricas, um movimento que, alguns advertem, pode levar à extinção do Ocidente. Se assim acontecer, o aborto será um grande colaborador no declínio e queda da civilização ocidental. Desde que a Corte Suprema dos Estados Unidos legalizou o aborto em 1973, as autoridades estimam que quarenta e dois milhões de crianças foram abortadas somente neste país.
Considere o seguinte: Após os acontecimentos de 11 de setembro, muitos têm alertado para um conflito crescente entre o fundamentalismo islâmico—cada vez mais atraente para os jovens dos países pobres com altas taxas de natalidade—e o Ocidente irreligioso, com taxas de natalidade em queda livre. Se um conflito militar generalizado viesse a acontecer, os Estados Unidos já teriam menos de quinze milhões de homens—que são todos aqueles em idade militar que foram abortados nas últimas três décadas.
Uma questão de conveniência
Parte do problema no Ocidente é que as crianças geralmente não são mais valorizadas como antes. Uma razão é que os governos têm assumido o papel de provedor das famílias. Agora que os sistemas de seguridade social têm usurpado o papel tradicional da família em cuidar dos idosos, não parece haver necessidade de os pais terem filhos para cuidar deles nos anos posteriores.
Para agravar o problema, os altos impostos que são necessários para pagar as aposentadorias e cuidados médicos com pessoas idosas, que vivem cada vez mais, resulta em que a maioria das mães se encontra trabalhando em tempo integral, levando a taxa de natalidade ainda mais para baixo e incentivando cada vez mais pessoas a optar pela conveniência do aborto.
E vamos ser honestos. Nós estamos falando de conveniência, não é mesmo? Temos que admitir isso. As crianças são um inconveniente, não são? Elas exigem muito de nosso tempo, e o tempo é curto, especialmente com todos os entretenimentos e aparelhos eletrônicos disponíveis para nos divertir, os quais custam dinheiro, o que significa que temos de trabalhar mais horas, o que significa que as crianças são ainda mais inconvenientes. Não admira que tantos busquem o número de telefone da clínica de aborto mais próxima. Essas pessoas não querem crianças carentes atrapalhando seu estilo de vida.
Ironicamente, a taxa de natalidade em queda nos países mais ricos significa que não haverá número suficiente de jovens trabalhadores para pagar a conta de seguridade social daqui a algumas décadas, considerando a situação atual. A solução proposta em muitos países é simplesmente importar trabalhadores estrangeiros. Mas será que pessoas de diferentes culturas vão se contentar em pagar impostos para cuidar de pessoas brancas ricas em sua velhice? E será que a mistura cultural resultante na alta densidade de países europeus poderia levar a novos conflitos raciais e religiosos, já que é um problema para muitos? Talvez o Ocidente tenha entendido errado. Talvez haja necessidade de uma reformulação cultural aqui.
As crianças são uma bênção
Houve um tempo em que nossos ancestrais consideravam os filhos uma bênção. Na época vitoriana, em ambos os lados do Atlântico, as famílias tinham muitos filhos. Como resultado, a Grã-Bretanha e os Estados Unidos se expandiram e prosperaram. Hoje os descendentes, britânicos e norte-americanos, do século dezenove estão em declínio numérico.
Quarenta anos atrás, numa época em que muitos cidadãos eram mais biblicamente conscientes do que são hoje, a maioria das pessoas nos países ocidentais eram contra o aborto, na época era considerado um crime. Não houve clamor nacional nas democracias ocidentais quando a lei foi mudada, porém mudanças constantes nas leis sobre o aborto ajudaram a alterar as atitudes do público até que o aborto se tornou aceitável para a maioria das pessoas. Agora o aborto é um assunto irrelevante na maioria dos países europeus.
Por que mudar? Os liberais dos anos sessenta pensavam que o aborto reduziria o número de gravidezes indesejadas. Ironicamente, muito mais crianças nascem fora do casamento hoje do que antes da leis do aborto—e trinta por cento de todas as gravidezes terminam em uma visita à clínica de aborto.
Hoje, o aborto é o procedimento cirúrgico mais comum nos países ocidentais. Junto com a pílula anticoncepcional, usada pela primeira vez em 1960, a legalização do aborto transformou radicalmente a moral dos jovens ocidentais, pois agora podem se entregar ao sexo sem pensar seriamente nas consequências.
Curiosamente, a Bíblia diz que as crianças são uma bênção de Deus— quem, como o Criador dos homens e mulheres, definiu o processo reprodutivo no momento da criação. No entanto, alguns cristãos professos se encontram no grupo "pró-escolha" e limitam o número de seus filhos através do aborto.
Ao estabelecer os israelitas como nação, Deus também pediu ao Seu povo escolhido que fizesse uma escolha. Eles poderiam obedecer a Deus e colher as incomparáveis recompensas ou bênçãos, ou poderiam rejeitar Deus e Suas leis e colherem tormentas (Oséias 8:7), na forma de inevitáveis consequências negativas que a Bíblia chama de maldições. Essas bênçãos e maldições podem ser encontradas em Deuteronômio 28.
Uma das bênçãos prometidas para a obediência era muitos filhos. "Bendito o fruto do teu ventre . . ." (versículo 4). Uma das consequências profetizadas por causa da desobediência era o inverso: "Maldito o fruto do teu ventre . . ." 7(Versículo 18).
Mais um alerta se encontra no versículo 62: "E ficareis poucos homens, em lugar de haverdes sido como as estrelas dos céus em multidão, porquanto não destes ouvidos à voz do Senhor, vosso Deus". (Evidentemente que isto não significa que os casais que não têm filhos ou têm poucos filhos estão debaixo desta particular maldição de Deus. Pois, muitos casais cristãos, apesar de terem o favor de Deus, são incapazes de ter filhos).
As crianças não são apenas uma bênção de Deus. Cada criança no útero tem o potencial da vida eterna no Reino de Deus. As Escrituras mostram claramente que os fetos são seres humanos—e que abrir o útero para fazer um aborto é, portanto, assassinato. Observe as seguintes escrituras:
Deus disse a Jeremias: "Antes de formá-lo no ventre eu o escolhi; antes de você nascer, eu o separei e o designei profeta às nações" (Jeremias 1:5, NVI).
Ao refletir sobre como deveria tratar seus servos, Jó concluiu: "Aquele que me fez no ventre materno não os fez também? Não foi ele que nos formou, a mim e a eles, no interior de nossas mães?" (Jó 31:15, NVI).
As vidas preciosas no útero
No Novo Testamento, vemos que a prima de Maria, Isabel, estava grávida de João Batista no momento em que ela estava carregando Jesus em seu ventre. "Quando Isabel ouviu a saudação de Maria, o bebê agitou-se em seu ventre, e Isabel ficou cheia do Espírito Santo" (Lucas 1:41, NVI). No versículo 44 ela diz a Maria: "Logo que a sua saudação chegou aos meus ouvidos, o bebê que está em meu ventre agitou-se de alegria". O bebê que Isabel carregava era claramente um ser humano, independente da sua condição neste momento, embora ainda em seu útero.
Ao pensar sobre Maria, precisamos lembrar que ela "achou-se ter concebido do Espírito Santo" (Mateus 1:18). Ninguém, naquela época, acreditava que esta era a verdadeira origem de sua concepção. Para a família, os amigos e os vizinhos—até mesmo para o próprio José, por um tempo—ela era simplesmente uma mãe solteira. Hoje, sem dúvida, muitos a incentivaria a fazer um aborto.
Devemos lembrar que Deus criou o homem à Sua imagem (Gênesis 1:26). Todo ser humano tem o potencial para a vida eterna. Porém, Deus não quer que "alguns se percam, senão que todos venham a arrepender-se" e que possam receber a vida eterna (2 Pedro 3:9). Até mesmo as crianças ainda por nascer merecem esta oportunidade.
Será que Deus defende a pró-escolha? Como já vimos, Deus nos dá uma escolha. Mas Ele nos diz o que escolher. A escolha que Ele quer que façamos está bem resumida em Deuteronômio 30:19: "Os céus e a terra tomo, hoje, por testemunhas contra ti, que te tenho proposto a vida e a morte, a bênção e a maldição; escolhe, pois, a vida, para que vivas, tu e a tua semente".
Escolha a vida. Esse é o mandamento de Deus! O aborto—o sacrifício moderno de crianças—nunca deveria ser uma opção a considerar. BN