A invasão da Ucrânia pela Rússia: Uma Perspectiva Bíblica

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A invasão da Ucrânia pela Rússia: Uma Perspectiva Bíblica

“Há décadas em que nada acontece, mas há semanas em que décadas acontecem”. Esta citação é atribuída a Vladimir Lenin, o fundador da União Soviética. Sem dúvida, isso se encaixa nos tempos atuais.

A invasão da Ucrânia pela Rússia desencadeou eventos que possivelmente vão acontecer nas próximas décadas. Em toda a Europa e além, os governos estão reavaliando, apreensivamente, alguns aspectos da ordem global que têm prevalecido desde o fim da Segunda Guerra Mundial e da Guerra Fria.

Enquanto este artigo está sendo escrito, grande parte das tropas russas estão num impasse na Ucrânia ao encontrar uma forte resistência do exército ucraniano e de cidadãos voluntários que pegaram em armas. As tropas russas estão usando mísseis para bombardear cidades de forma indiscriminada, buscando gerar medo na população civil e levar o país ao colapso. Milhões de cidadãos fugiram para países vizinhos em busca de segurança. Essa é a pior crise humanitária da Europa desde 1945.

E muitos se perguntam se há algo na profecia bíblica que pode nos ajudar a entender o que está acontecendo. Certamente! Neste artigo discutiremos uma passagem do livro de Daniel que contém uma perspectiva profética sobre os eventos que estão ocorrendo.

Essa invasão é um evento grandioso que exige bastante atenção à Palavra de Deus e muita sobriedade quanto ao impacto dessa guerra na humanidade. As cenas que assistimos de ataques com mísseis a hospitais e prédios públicos que abrigavam civis mostram a brutalidade da invasão russa. Algo realizado sem uma causa justa, o que nos faz pensar em forças invisíveis atuando nesse horrendo cenário. A realidade subjacente é que existem forças espirituais doutra dimensão em ação. Essa guerra que vemos se originou da mente do diabo, o principal assassino e mentiroso (João 8:44).

A perspectiva de Jesus Cristo sobre os eventos do fim dos tempos

Quando Jesus já estava perto de findar Seu ministério na Terra, os discípulos Lhe perguntaram: “Quando serão essas coisas e que sinal haverá da Tua vinda e do fim do mundo?” (Mateus 24:3). Em Sua resposta, Jesus listou várias tendências ou condições importantes. As primeiras quatro delas correspondem aos primeiros quatro selos do sexto capítulo de Apocalipse. E a abertura de cada um deles revela um cavaleiro e um cavalo que representam uma grande tendência que se intensifica no fim dos tempos. Muitas vezes, juntos eles são chamados simplesmente de Os Quatro Cavaleiros do Apocalipse — esse último termo se refere ao nome grego do livro.

Vamos ver como Jesus as listou em Mateus 24, a primeira diz o seguinte: “Acautelai-vos, que ninguém vos engane, porque muitos virão em Meu nome, dizendo: Eu sou o Cristo; e enganarão a muitos” (versículos 4-5, grifo nosso).

Continuando: “E ouvireis de guerras e de rumores de guerras; olhai, não vos assusteis, porque é mister que isso tudo aconteça, mas ainda não é o fim. Porquanto se levantará nação contra nação, e reino contra reino, e haverá fomes, e pestes, e terremotos, em vários lugares. Mas todas essas coisas são o princípio das dores” (versículos 6-8).

Religião falsa, guerra, fome e pestes e desastres são listados como o início das dores ou, como traduzem outras versões, “as primeiras dores de parto” — que aumentam em frequência e intensidade.

Todos esses problemas têm sido parte da condição do mundo ao longo da história humana. Contudo, o estabelecimento do fim dos tempos e a abertura dos selos pelo Cordeiro (Apocalipse 5:9) indicam que isso será ainda mais severo, pois precede mais julgamentos de Deus e a ira do diabo, durante esse tempo de turbulência mundial conhecido como a Grande Tribulação (Mateus 24:21).

Dois anos atrás vimos um precursor, que foi a pandemia do novo coronavírus que fez o mundo entrar em confinamento. E milhões de pessoas morreram por causa dessa praga que atingiu o mundo inteiro. Entretanto, isso ainda está longe daquilo que a profecia mostra que acontecerá no mundo quando o quarto cavaleiro, que representa pestilências e outras pragas mortais, começar sua cavalgada. De certa forma, tudo isso que estamos vivendo é um pequeno ensaio geral de algo muito pior que está por vir.

A Europa desperta do sono

Agora uma guerra eclodiu na Europa. E esta é diferente dos recentes conflitos em outros lugares como Iraque ou Afeganistão. Historicamente, a Europa foi o centro de duas catastróficas guerras mundiais do século vinte. Milhões de pessoas morreram nesses conflitos, e a ordem mundial foi alterada. Essas guerras faziam parte da história profetizada da sucessão de poderes geopolíticos e seus governantes descritos como diferentes “bestas”, com cabeças e chifres profeticamente significativos, em Daniel 7 e Apocalipse 13 e 17.

A desastrosa retirada dos Estados Unidos do Afeganistão e agora a brutal invasão da Ucrânia pela Rússia forçaram os Estados europeus a repensar suas relações de segurança. A Alemanha anunciou sua intenção de aumentar massivamente os gastos com defesa e o tamanho de suas forças armadas. Qualquer pessoa com conhecimento de história sabe que uma Alemanha poderosa e armada no coração da Europa sempre lançou uma sombra sinistra naquela região.

Desde os dias do Império Romano, a Europa tem desempenhado um papel fundamental nos assuntos mundiais e nas profecias bíblicas. A ação da Rússia despertou do sono outras nações europeias. E, de forma célere, estão ocorrendo grandes eventos que podem levar ao desencadeamento de importantes eventos proféticos.

Um artigo do Wall Street Journal expôs claramente a evolução disso: “Na Europa, a agressão de Putin conseguiu praticamente da noite para o dia o que décadas de discursos de presidentes estadunidenses não conseguiram. O chanceler alemão Olaf Scholz deu fim ao Nordstream 2, o gasoduto de onze bilhões de dólares que levaria gás da Rússia para a Alemanha, e prometeu diversificar os suprimentos russos. Ele anunciou que a Alemanha vai aumentar imediatamente os gastos com defesa em cem bilhões de euros e prometeu gastos militares anuais no valor de 2% do PIB alemão, muito acima dos 1,4%. Ele também prometeu enviar armas para a Ucrânia, inclusive lançadores de foguetes antitanque e mísseis do tipo Stinger que podem derrubar aeronaves russas”.

“A neutralidade está diminuindo. A Finlândia, não membro da OTAN, e a neutra Suécia se alinharam firmemente com o Ocidente contra a Rússia e, pela primeira vez, a maioria dos políticos em ambos os países agora apoiam a entrada na OTAN. E as duas estão enviando armas para a Ucrânia” (“The World That Putin Has Made” [O Mundo Que Putin Edificou, em tradução livre], Richard Fontaine, 11 de março de 2022). Referindo-se a essa ação importante como a Europa “cruzou seu próprio Rubicão”, o artigo continuou mostrando a verdade deste ditado: “Há semanas em que décadas acontecem”.

E ainda afirmou: “Putin procurava deter a expansão da OTAN, reverter os desdobramentos da aliança e dominar o que considera a esfera de influência da Rússia. Porém, é mais provável que o resultado seja o oposto disso. Em última análise, a guerra poderá deixar a OTAN maior, mais unida, mais armada e com destacamentos militares mais próximos da Rússia. Durante décadas, os membros da União Europeia estiveram bastante divididos sobre como lidar com a Rússia. Agora o problema é encontrar maneiras de uma ação alinhada. Essa guerra no continente pode ter ajudado a criar uma nova Europa”.

Escassez de alimentos no horizonte?

Outra diferença entre essa invasão russa e outro conflito recente é a possível escassez de alimentos em todo o mundo. A Ucrânia e a Rússia responsáveis por mais de 20% das safras mundiais de grãos e respondem por cerca de 30% das exportações mundiais de trigo. As nações em desenvolvimento mais pobres da África, Ásia e Oriente Médio dependem disso para manter grande parte de seu suprimento de alimentos. Nações como Quênia e Egito importam grãos dessa região.

Contudo, os ucranianos não vão conseguir plantar muito este ano, se é que vão plantar alguma coisa, pois estão lutando por sua própria sobrevivência. As sanções contra a Rússia vão impedir suas exportações. Essa cadeia de fornecimento de alimentos será interrompida e muitas pessoas vão sofrer e passar fome. E o fato da Rússia e da Ucrânia figurarem entre os maiores exportadores de fertilizantes do mundo vai agravar ainda mais o problema, pois esses suprimentos também vão diminuir pelas mesmas razões. O preço dos fertilizantes já estão disparando em todo o mundo, o que levará a custos mais elevados e menos rendimento das colheitas.

Em 7 de março de 2022, o estrategista geopolítico Peter Zeihan escreveu o seguinte em seu site: “A Rússia é a maior exportadora mundial de trigo, e ela invadiu a Ucrânia, que é a quinta maior exportadora do mundo. A estratégia de guerra da Rússia usa as estratégias pioneiras de achatamento de Grozny, implementada na Segunda Guerra da Chechênia, que foram aprimoradas durante a destruição de Aleppo na Guerra Civil Síria. A artilharia russa agora está destruindo a infraestrutura civil da Ucrânia, uma cidade de cada vez”.

“Estamos presenciando um festival de violência na ininterrupta destruição das cidades ucranianas de Kiev, Kharkiv, Mariupol. Mas, por conta do barulho das explosões dos grandes centros populacionais da Ucrânia, a aniquilação, metódica e abertamente hitlerista, de cidades e aldeias ucranianas tem sido esquecida. As cidades e as aldeias são a espinha dorsal que sustenta o setor agrícola ucraniano. A Ucrânia não vai plantar nesta primavera ou verão. O mundo perdeu uma de suas maiores e mais confiáveis fontes de trigo, girassol, cártamo e cevada”.

“A Ucrânia também não voltará tão cedo às fileiras dos principais fornecedores de alimentos. A onda russa de destruição deliberada logo chegará à cidade portuária de Odessa. Esta cidade não é apenas a capital comercial da Ucrânia, sua queda não representará apenas o fim da faixa marítima da Ucrânia, como também é o ponto de exportação de quase todas as commodities agrícolas da Ucrânia. Até que seja libertada do controle russo e reconstruída, grande parte das exportações ucranianas permanecerão interrompidas” (“The Ukraine War: Agriculture Edition” [A Guerra na Ucrânia: Edição Agricultura, em tradução livre], Zeihan.com, grifo no original).

Novamente, isso é um precursor do que vemos na profecia de Cristo e no cenário de Apocalipse. A guerra leva à rupturas, que leva à escassez de alimentos, que leva à fome, que leva a doenças epidêmicas — e também leva ao aumento de todas essas coisas.

Precisamos de uma pausa para analisar o que a Bíblia diz que acontecerá nos próximos anos. A profecia é tão real quanto qualquer notícia nas manchetes de hoje — na verdade, é ainda mais real, pois há tantas mentiras sendo contadas pela mídia e pelos governos. Quanto mais entendermos sobre profecia, mais bem preparados ficaremos para lidar com o abalo das turbulências. Deus nos avisa antecipadamente o que acontecerá no mundo para que possamos nos arrepender e abraçar o evangelho de Seu vindouro reino de paz e salvação.

E o que virá depois de tudo isso?

O capítulo onze do livro de Daniel contém a profecia mais longa e detalhada da Bíblia. A partir do versículo 40, ele descreve especificamente os eventos do fim dos tempos: “E, no fim do tempo, o rei do Sul [da perspectiva de Jerusalém] lutará com ele [um futuro rei do Norte], e o rei do Norte o acometerá com carros, e com cavaleiros, e com muitos navios; e entrará nas terras, e as inundará, e passará. E entrará também na terra gloriosa, e muitos países serão derribados, mas escaparão das suas mãos estes: Edom, e Moabe, e as primícias dos filhos de Amom” (Daniel 11:40-41).

Essa profecia chave detalha a invasão do Oriente Médio por uma potência chamada rei do Norte. A história e a profecia identificam essa potência como uma sucessora dos gregos, sírios e romanos— um avivamento romano do fim dos tempos centrado na Europa. O rei do Sul é uma potência localizada no Oriente Médio e na África Setentrional e, provavelmente, se aplica a uma confederação de estados árabes muçulmanos que atacam essa potência do norte, provocando uma retaliação. Essa potência europeia do norte então devasta a “terra gloriosa”, a Terra Santa de Israel e Jerusalém. Provavelmente haverá uma conexão religiosa com esse ato, conforme indicado por outras profecias.

Esse cenário segue um longo padrão na história que remonta à ascensão do islamismo e sua penetração nas regiões que faziam parte do Império Romano — Israel, Egito, África setentrional, Espanha e Gália (França), onde os muçulmanos foram derrotados na Batalha de Tours em 732 d.C. pelos exércitos de Carlos Martel, avô de Carlos Magno. Mais tarde, no século doze, a Europa cristã lançou as Cruzadas enviando exércitos para libertar Jerusalém do controle muçulmano. Em duas ocasiões na Idade Média, durante o Renascimento, os exércitos muçulmanos tentaram novamente conquistar a Europa, mas foram impedidos em Viena pelos exércitos do Sacro Império Romano. A profecia de Daniel mostra mais um confronto entre esses dois poderes no tempo do fim.

Há muito tempo alguns vêm se perguntando como isso poderia ocorrer. Durante décadas, a Europa careceu de capacidade militar e vontade de fazer algo assim. Como essa realidade geopolítica poderia mudar para permitir que isso aconteça? Devido ao ataque da Rússia à Ucrânia, uma nação soberana vizinha da União Europeia, agora podemos ver a Europa se mexendo e saindo do sono, como uma besta despertando. A Europa recebeu um alerta chocante.

Pelo visto, a Rússia desempenha um papel na profecia de Daniel. Em relação ao rei do Norte,  versículo 44 diz que então estará no Oriente Médio, e que “rumores do Oriente e do Norte o espantarão”. Isso poderia significar as duas direções leste e norte ou uma direção combinada, nordeste, para a qual não havia uma palavra específica na língua hebraica em que Daniel escreveu essa profecia. Em todo caso, a Rússia está ao norte de Israel e da região circundante, bem como a nordeste, estendendo-se por toda a Ásia.

A invasão da Terra Santa pelo rei do Norte provocará um efeito cascata em outras partes do mundo. As nações muçulmanas que cercam Jerusalém, próximas e distantes, provavelmente vão considerar isso como outra “cruzada” contra o islamismo e reagirão. A tradição muçulmana ainda vê o conflito com a Europa e o Ocidente como parte de uma longa jihad, ou luta, pela supremacia.

Além dessas nações muçulmanas ao norte, há apenas uma grande potência e essa é a Rússia. A profecia não limita a probabilidade de que a China possa estar envolvida nessa ação, principalmente se o termo "leste" for entendido com algo à parte — e Apocalipse mostra vários reis do Oriente reagindo contra a ocupação do Oriente Médio pela Europa.

Essas outras profecias de Apocalipse descrevem dois grandes exércitos do oriente avançando pelo rio Eufrates, a fronteira oriental do antigo Império Romano. Então, exércitos vão avançar rumo à Terra Santa em preparação para o que é descrito como a “batalha, naquele grande Dia do Deus Todo-poderoso” (Apocalipse 16:14). Para mais detalhes sobre essas importantes profecias, peça ou baixe o guia de estudo bíblico gratuito O Oriente Médio na Profecia Bíblica.

Por que isso é importante?

Para a maioria das pessoas, a Ucrânia pode parecer distante e principalmente irrelevante. E há alguma nação se apressando para enviar seus soldados à Ucrânia? Após a desastrosa retirada do Afeganistão no ano passado, a maioria dos analistas acredita que os Estados Unidos não enviarão tropas e, provavelmente, nenhum país europeu fará isso.

Além do terrível custo humano e das consequências econômicas em outros países, por que essa crise internacional é importante? Por que um estudante da Bíblia deve se preocupar com um evento como esse?

A maioria das pessoas acham que isso não tem nada a ver com a Bíblia e com a vida espiritual de cada um. Mas isso seria um erro. Como mostramos, o que está acontecendo agora na Ucrânia está mudando a face da Europa. E isso poderia alterar ainda mais este mundo de rápida evolução que conhecemos em algo radicalmente diferente, e com consequências que podem afetar muitos países e milhões de pessoas.

Quando a Guerra Fria acabou, resultando na dissolução da União Soviética em 1991, o mundo entrou no que alguns chamam de “férias da história”. No ano seguinte, o cientista político e economista Francis Fukuyama escreveu um livro chamado O fim da História e o Último Homem. Pensava-se que os grandes conflitos mundiais finalmente terminariam e surgiria um período de ordem global benigna.

Esse sonho foi destruído em 11 de setembro de 2001. Hoje, dois anos após o surgimento da pandemia de Covid-19, a China busca substituir os Estados Unidos como líder mundial em todas as principais áreas. Os Estados Unidos estão passando por uma crise doméstica que ameaça seu papel histórico entre as nações. Em poucas semanas, vimos uma nova Europa despertar de décadas de letargia. O mundo ainda ficará chocado com o resultado disso. Talvez não aconteça imediatamente, mas está prestes a acontecer.

O corolário de “férias da história” é “férias da profecia”. Você pode até achar que não tem nenhuma necessidade de entender a profecia bíblica e sua relevância para o cenário mundial de hoje, mas você está redondamente enganado. A verdade é que você não pode tirar “férias da profecia” sendo um estudante sério da Bíblia.

Os eventos mundiais não saem de férias, nem Deus. A profecia bíblica é a única ferramenta para entender devidamente o que está acontecendo em nosso atual cenário geopolítico, cultural e religioso. Com uma base sólida de entendimento profético, você pode ter tranquilidade, confiança e certeza de que Deus controla a história e os principais eventos mundiais.

Quando entendida corretamente, a profecia bíblica deve nos motivar a ter uma compreensão séria da vida e a ter um comportamento santo (2 Pedro 3:11). Vivemos em um momento crítico da história moderna. As semanas estão passando. Os eventos dos últimos dois anos mudaram drasticamente o mundo e isso será ainda mais devastador em nossa vida. Você precisa estar preparado!

Permita que esses eventos sirvam como um alerta para você particularmente, como o apóstolo Paulo escreveu aos cristãos em romanos: “E isto digo, conhecendo o tempo, que é já hora de despertarmos do sono; porque a nossa salvação está, agora, mais perto de nós do que quando aceitamos a fé” (Romanos 13:11).