Comentário Bíblico
Deuteronômio 21:1-21
Leis da Família e da Sociedade
Em casos de dificuldades de se resolver um assassinato, primeiro era necessário determinar a jurisdição da cidade onde ocorreu o crime— pois seria responsabilidade dessa cidade fazer tudo o que for possível para investigar o assunto. Contudo, mesmo se o crime não fosse solucionado, ainda haveria algum tipo de expiação para evitar a contaminação da terra (Números 35:33). Assim, em vez de executar o perpetrador, os anciãos da cidade mais próxima tinham que levar uma novilha, que ainda não tinha sido usada para o trabalho, até um riacho e degolá-la — embora algumas traduções dizerem que ela era desnucada. Então, os anciãos tinham que lavar as mãos sobre o pescoço da novilha, indicando assim sua inocência e obtendo expiação (versículos 1-9). Outro tipo específico de novilha, ou seja, uma novilha vermelha, também era usada para certas purificações (Números 19:2). Essa tradição de lavagem pública das mãos para indicar inocência era tão difundida no mundo antigo que, mais tarde, Pôncio Pilatos faria isso para se declarar inocente do assassinato de Jesus (Mateus 27:24). Nesse caso, a água corrente também podia simbolizar a contaminação da terra sendo levada embora.
Deuteronômio 21:10-14 relata a permissão para um israelita se casar com uma mulher estrangeira prisioneira de guerra. Observe que se exigia que ela "raspasse a cabeça e aparasse as unhas". Segundo a Bíblia de Estudo Thomas Nelson: "Esse ritual tinha a intenção de dar tempo à mulher para se ajustar à nova cultura e prantear a separação forçada de sua família. E também era um símbolo de purificação, pois ela estava se preparando para se tornar parte de uma nova comunidade" (nota sobre Deuteronômio 21:12). E como Deus proibia claramente um israelita de se casar com pagãos que adoravam ídolos, essa mulher tinha que aceitar o verdadeiro Deus de Israel (como, de certa forma, implicam os versículos 12-13 ao mostrar que a mulher estava sob a autoridade do marido).
Os versículos 15-18 discutem a situação indesejada em que um marido tinha duas esposas, uma mais amada que a outra, e as consequências para o filho primogênito da esposa menos amada. Nesse caso, Deus ainda exigia que o filho primogênito recebesse a porção dobrada da herança paterna a que tinha direito. As pessoas se perguntam por que os homens tinham permissão para se casar com mais de uma mulher nos tempos antigos. A resposta é que essa nunca foi a intenção original de Deus. Jesus disse que no princípio, quando Ele criou Adão e Eva, "os dois" se tornariam "uma só carne", e que nenhum “dos dois" deveria se separar. Mas por causa da dureza do coração humano, Deus permitiu que os homens tivessem mais de uma esposa, assim também como permitiu que eles se divorciassem de suas esposas (Mateus 19:1-9). O registro bíblico mostra, no entanto, que ter mais de uma esposa trazia muitos problemas para a família. As dificuldades disso podem ser vistas nos exemplos reveladores de Abraão, Jacó e Salomão.
Os versículos 18-21 tratam dos filhos rebeldes, beberrões e glutões, que obstinadamente se recusavam a obedecer aos pais — obviamente se referindo a filhos adolescente e não a uma criança pequena. Entretanto, isso não se tratava apenas de uma "típica" rebeldia na adolescência. Em vez disso, denotava alguém que tinha uma reputação de "imprestável" por um longo período. E para impedir que outros imitassem o estilo de vida detestável desse filho rebelde— evitando assim que esse flagrante desrespeito à autoridade parental se transformasse em desacato a todas as autoridades, inclusive a de Deus, a ponto de essa pessoa eventualmente se tornar um perigo para a sociedade — seus pais tinham que denunciá-lo aos anciãos e ele deveria ser executado.
Hoje em dia, essa punição pode soar exagerada aos nossos ouvidos. Mas tenha em mente que as leis de Deus foram estabelecidas para criar uma sociedade pacífica, produtiva e segura para todas as pessoas. Embora severa, essa punição em particular foi determinada para proteger os outros. E, conhecendo a natureza humana, Deus percebeu que quando um jovem mostrava uma atitude rebelde e acintosa por um longo período de tempo, desonrando e rejeitando a autoridade de seus pais e dos outros, além de demostrar pouco ou nenhum autocontrole ou disposição para assumir a responsabilidade por suas ações, seria apenas uma questão de tempo até que essa atitude insolente o levasse a ferir ou até mesmo matar uma pessoa. Então, se com o tempo ele não demonstrou nenhuma vontade de mudar, então o problema deveria ser resolvido antes que ele ferisse ou assassinasse alguém. Essa punição "tiraria o mal do meio" de Israel e faria com que outros "ouvissem e temessem" (versículo 21).
Será que nossas sociedades atuais poderiam ser muito diferentes se os jovens soubessem que estavam sujeitos a essa penalidade se rejeitassem qualquer autoridade e padrões decentes de comportamento? Muitos problemas que assolam nossas sociedades, como criminosos reincidentes, gangues e adolescentes assassinos, seriam extintos antes que tivessem a chance de começar. Toda a sociedade estaria muito mais segura e melhor. Ademais, pessoas inocentes não teriam que viver com medo de bandidos. Tenha em mente também que esse não era o fim definitivo dessas pessoas. Pois, Deus sabia que as ressuscitaria num mundo futuro em que elas seriam capazes de entender melhor as consequências de seus atos e se arrependerem (Apocalipse 20:5, 11-12; Ezequiel 37:1-14; “O Oitavo Dia: A Vida Eterna Oferecida a Todos”, guia de estudo bíblico “As Festas Santas de Deus: O Plano de Deus Para a Humanidade”, pp. 46-51). Sem dúvida, Deus é um Deus de justiça, misericórdia e preocupação amorosa pelo bem-estar de todos.