A Circuncisão Versus Uma "Nova Criação" em Cristo: (Passagens de Gálatas)

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A Circuncisão Versus Uma "Nova Criação" em Cristo

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A prática judaica de exigir que os gentios (não judeus) fossem circuncidados para serem aceitos em sua comunhão ameaçava a unidade da Igreja primitiva. Os apóstolos realizaram uma conferência especial em Jerusalém, para tratar dessa questão a fim de que a perspectiva correta da justificação mediante a fé em Cristo e de Cristo não fosse distorcida.

Em uma carta enviada às congregações gentias no final da conferência, os apóstolos confirmaram por escrito que eles estavam todos de acordo sobre esta matéria. Eles explicaram: "Soubemos que alguns saíram de nosso meio, sem nossa autorização, e os perturbaram, transtornando a mente de vocês com o que disseram" (Atos 15:24, NVI).

Aqueles que perturbavam as igrejas de Antioquia e de outras áreas tentaram convencer os gentios cristãos dizendo o seguinte: "Se vocês não forem circuncidados conforme o costume ensinado por Moisés, não poderão ser salvos" (Atos 15:1, NVI).

O Novo Testamento fala sobre a circuncisão do coração. Mas Moisés também já tinha profetizado isso há muito tempo: "O SENHOR, teu Deus, circuncidará o teu coração e o coração de tua descendência, para amares o SENHOR, teu Deus, de todo o coração e de toda a tua alma, para que vivas" (Deuteronômio 30:6, ARA).

Paulo também confirma isso, escrevendo que o "judeu é quem o é interiormente, e circuncisão é a operada no coração, pelo Espírito, e não pela Lei escrita. Para estes o louvor não provém dos homens, mas de Deus" (Romanos 2:29, NVI). Assim, os verdadeiros judeus — verdadeiros cristãos — são aqueles que são circuncidados espiritualmente, com o espírito rebelde da mente humana contido, suprimido e controlado em obediência a Deus por meio de Seu Espírito.

Muitos daqueles que insistiam que os gentios crentes deviam observar os aspectos simbólicos exteriores da lei eram motivados por um desejo de harmonia com a comunidade judaica não cristã. Mas, como foi descrito no Capítulo 2 deste guia de estudo (Uma Nova Aliança Para Transformar o Coração), esses aspectos da lei não são mais necessários. O livro de Hebreus explica isso detalhadamente. Mas essa carta aos hebreus ainda não havia sido escrita quando a questão da circuncisão dos gentios levou a uma crise na Galácia.

Paulo enfatiza a importância da morte de Cristo

Ao abordar este mesmo assunto, Paulo explicou aos Gálatas: "Todos os que querem mostrar boa aparência na carne, esses vos obrigam a circuncidar-vos, somente para não serem perseguidos por causa da cruz de Cristo" (Gálatas 6:12).

Na Igreja primitiva do Novo Testamento, alguns falsos mestres tentaram persuadir os gentios convertidos de que eles não poderiam ser justificados (ter seus pecados perdoados) simplesmente arrependendo-se, crendo no evangelho, e aceitando o sacrifício de Jesus Cristo para o perdão dos seus pecados.

Em vez disso, estavam ensinando que a justificação só seria possível se eles fossem circuncidados e anuíssem às outras leis temporárias que foram dadas no Monte Sinai. Os apóstolos rejeitaram categoricamente este argumento. Paulo argumentou energicamente contra isso em sua carta aos Gálatas.

Os cristãos gentios na província da Galácia estavam sendo seduzidos a aceitarem a circuncisão para que as barreiras da comunhão entre eles e os judeus fossem removidas. Os judeus limitavam suas interações com os gentios, em sua maioria atividades comerciais. Comer juntos na mesma mesa era proibido. No início, até Pedro hesitou em ir contra esse tabu (Atos 10:25-29).

Quem estava seduzindo os Gálatas argumentou que a circuncisão é essencial para ser plenamente aceito entre o povo de Deus (os judeus). A circuncisão teria aberto a porta para a comunhão dos gentios em toda a comunidade judaica. Ela também teria retirado grande parte da tensão entre os cristãos e os judeus não crentes.

Mas tentar resolver essa questão da circuncisão ameaçava criar um problema de identidade muito maior. A circuncisão física só identificava os judeus como descendentes naturais de Abraão. Deus estava oferecendo a ambos, judeus e gentios, tanto a justificação como a salvação, como Seus filhos através de Jesus Cristo, e não através da circuncisão carnal. A proteção adequada de sua identidade como os filhos justificados de Deus era o que estava em jogo.

Portanto, o objetivo da carta de Paulo aos Gálatas era deixar claro que se tornar descendentes adotados de Judá (o bisneto de Abraão de quem deriva o termo judeu) através da circuncisão não tinha nem um valor para os gentios quanto à salvação. Até os judeus circuncidados tinham de ser justificados pelo sangue de Cristo e depois viver uma vida dirigida pelo Espírito.

No entanto, muitos gentios cristãos da Galácia ficaram impressionados (ou intimidados) pelo argumento da circuncisão. Eles viam como uma forma razoável de mudar a sua identidade social ambígua, ou seja, nem idólatras nem judeus.

Deus inspirou Paulo a ver o quadro completo de uma maneira muito diferente. O que os gálatas gentios estavam sendo seduzidos a aceitar mudaria toda a sua percepção da importância do sacrifício de Cristo para eles. Isso teria obscurecido entendimento deles de que a justificação é pela graça de Deus através da fé no sangue derramado de Cristo e da obediência fiel, que vem através da habitação de Cristo neles pelo Espírito Santo.

Paulo percebeu que essa mudança representaria implicitamente a circuncisão e a obediência diligente à lei como a forma de obter a vida eterna. E isso ameaçava minar a fé deles em Cristo como seu Salvador e Redentor. E poderia obscurer o fato de que eles ― pela justificação através da fé ― já haviam obtido uma melhor identidade como filhos de Deus e herdeiros da promessa feita diretamente a Abraão, melhor ainda do que jamais poderiam obter através da circuncisão física.

Seu ponto era que eles não tinham necessidade de ser adotados como judeus para se tornar "filhos de Deus" (Gálatas 3:26) e receber a vida eterna.

A Justificação não é "através da lei"

Paulo respondeu: "Não anulo a graça de Deus; pois, se a justiça [ou seja, a justificação] vem pela Lei, Cristo morreu inutilmente!" (Gálatas 2:21, NVI). Percebendo que a obediência à lei através de meios físicos (incluindo a lei da circuncisão), como forma de justificação, implicaria que a fé em Cristo, como nosso Redentor e Salvador, seria vista como desnecessária ou insuficiente.

Na verdade, isso teria mudado a justificação do reino de misericórdia e capacitação através da fé para a esfera da dívida legítima — para o que pode ser obtido através de um esforço de obediência diligente e natural. E teria ignorado o fato de que a Bíblia declara que toda a humanidade está "debaixo do pecado, a fim de que a promessa, que é pela fé em Jesus Cristo, fosse dada aos que creem" (Gálatas 3:22, NVI).

Depois de ter pecado, mesmo com a diligência atenta em observa de lei — de qualquer lei ou regra — que alguém consiga alcançar, nunca pode resultar na obtenção do perdão.

O milagre de uma "nova criação"

Tal como Paulo enfatizou, temos que enfatizar que a Nova Aliança diz respeito a circuncidar o coração — tornando-nos uma "nova criação" em Cristo. Esse é o milagre de Deus ao escrever Sua lei em nossos corações e mentes através do dom do Espírito Santo e não pela circuncisão física.

Então, como o Espírito Santo deve ser recebido? Isso ficou claro no início da Igreja, no dia em que o Espírito Santo foi dado aos discípulos.

"E disse-lhes Pedro: Arrependei-vos, e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo para perdão dos pecados, e recebereis o dom do Espírito Santo"(Atos 2:38).

Absolutamente nenhuma obra que fizermos pode fazer com que ganhemos a remissão dos pecados ou o dom do Espírito Santo! Embora ambos ― a remissão dos pecados e o dom do Espírito Santo ― são condicionados ao arrependimento e à fé, todavia também são dons de misericórdia, como resultado do sacrifício de Cristo por nós.

Portanto, Paulo vai direto ao centro da questão: "Ó gálatas insensatos! Quem os enfeitiçou? Não foi diante dos seus olhos que Jesus Cristo foi exposto como crucificado? Gostaria de saber apenas uma coisa: foi pela prática da Lei que vocês receberam o Espírito, ou pela fé naquilo que ouviram? Será que vocês são tão insensatos que, tendo começado pelo Espírito, querem agora se aperfeiçoar pelo esforço próprio [ou seja, pela circuncisão]?" (Gálatas 3:1-3, NVI).

Aceitar a necessidade de circuncisão, e possivelmente outras obras cerimoniais da lei, teria sido uma negação tácita da suficiência da justificação através de Cristo. Isso teria substituído Seu sacrifício e ajuda pelas "obras físicas da lei".

A lei não é o problema

A questão não era se a lei de Deus é boa ou ruim. Mas se a observância da lei proporcionaria o perdão dos pecados e a vida eterna e se o esforço humano poderia mesmo atender aos requisitos da verdadeira obediência a Deus. O ponto de vista de Paulo é que pelas "obras da lei" nada se ganha em relação à justificação. A ideia de que alguém poderia ganhar o perdão e salvação pessoal é absurda.

A lei define o pecado e estabelece uma pena por isso. Isso nunca mudou. Mas a lei não consegue e não pode perdoar o pecado. Ela não fornece nenhuma maneira de trazer de volta ou reclamar inocência após se cometer pecado.

Assim, Paulo explica que, uma vez que as transgressões foram cometidas, é inútil buscar o perdão e a justificação através das "obras da lei" — porque "todos aqueles, pois, que são das obras da lei estão debaixo da maldição; porque escrito está: Maldito todo aquele que não permanecer em todas as coisas que estão escritas no livro da lei, para fazê-las" (Gálatas 3:10).

Observe que a maldição — a pena de morte — é posta sobre aqueles que não conseguem fazer tudo que está na lei. A lei em si não é a maldição. A lei exige uma maldição de morte a todos aqueles que são desobedientes, não para todo aquele que sempre foi obediente — como foi Jesus Cristo! A maldição (morte) não recai sobre alguém que guarda a lei, mas sobre aqueles que transgredi-la.

A culpa espiritual e a pena de morte resultante disso de toda a humanidade foram colocadas sobre nosso Salvador, Jesus Cristo. O sacrifício de Cristo nos permite ser perdoados e justificados de nossos pecados. O perdão não vem de quaisquer obras que fizermos, porque Ele, o Único que nunca pecou, sofreu a "maldição" da morte que receberíamos por nossos pecados. A não ser que nos arrependamos — paremos de pecar (João 8:11) — pereceremos (Lucas 13:3, 5).

Somos crucificados com Cristo

Se nos arrependermos com fé de que Cristo morreu em nosso lugar, Paulo explica que seremos considerados "crucificados" com Ele. "Pois, por meio da Lei eu morri para a Lei, a fim de viver para Deus. Fui crucificado com Cristo. Assim, já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim. A vida que agora vivo no corpo, vivo-a pela fé no filho de Deus, que me amou e se entregou por mim" (Gálatas 2:19-20, NVI).

O fato de que Jesus Cristo teve que pagar a pena de morte que a lei exige pelas transgressões mostra que Deus ainda considera a Sua lei como obrigatória. Suas condições tinham que ser cumpridas.

Jesus enfrentou a exigência punitiva da lei em nosso lugar para que a graça de Deus pudesse ser disponibilizada para nós. Portanto, continua Paulo, "não anulo a graça de Deus; pois, se a justiça [ou seja, justificação] vem pela Lei, Cristo morreu inutilmente!" (versículo 21, NVI).

A conclusão de Paulo é baseada nessas verdades essenciais:

  • Uma vez que se incorre na pena de morte, a lei não pode libertar dessa penalidade aqueles que são culpados.
  • Portanto, Jesus Cristo sofreu, em Sua crucificação, a pena de morte por causa das nossas transgressões.
  • Uma vez que reconheçamos através do arrependimento que temos pecado, se temos na morte de Cristo como pagamento legal pela pena de morte que merecemos, e que agora nos comprometemos a obedecê-Lo com a Sua ajuda, então Deus nos considera como "mortos para a Lei" e, portanto, reconciliados com Deus.
  • Para nós sermos considerados como mortos para a lei, ela ainda tem que estar em vigor. A justificação não teria sentido se não existisse lei para ser transgredida.
  • Somente com o perdão de nossa pena de morte é que podemos nos tornar "filhos de Deus" e "coerdeiros com Cristo" da eterna promessa feita a Abraão (Romanos 8:16-17).
  • A circuncisão era apenas o sinal físico que identificava os descendentes de Abraão, segundo a carne. Embora tivesse um valor simbólico para o povo de Israel, ela nada provê para a justificação e é inútil para a extinção da culpa.
  • Portanto, o desejo que alguns gálatas tinham de aceitar a circuncisão com o intuito de resolver seu problema de relacionamento com a comunidade judaica —"somente para não serem perseguidos por causa da cruz de Cristo" (Gálatas 6:12) — estava a ponto de ameaçar o relacionamento deles com Deus.

Esse desejo estava desviando-os do que é realmente importante para serem aceitos como povo santo de Deus. Essa aceitação não pode ser conquistada por nenhuma "obra da lei" — e, sem dúvida, nem pela circuncisão.

O contexto social de Gálatas 3

Algumas argumentações de Paulo, no terceiro capítulo de Gálatas, estão intimamente ligadas à analogia que ele suscitou no capítulo 4.

Um filho menor de um latifundiário romano não era reconhecido como seu herdeiro até que o proprietário declarasse oficialmente seu parentesco de filho, posteriormente em sua vida. O status de um filho menor de idade na família era pouco diferente da de um escravo de confiança da família.

O jovem era, provavelmente, muito bem tratado, mas legalmente ele tinha poucos direitos. Um guardião (geralmente um escravo adulto) era designado para ele, como seu guia e instrutor de autodisciplina. Seu guardião também cuidava de como e onde ele iria receber sua formação acadêmica.

Paulo compara tal situação familiar de um filho menor de idade a de um escravo (Gálatas 4:1). Seu status final, no que diz respeito à hereditariedade familiar, era determinado numa data posterior.

Fisicamente, os filhos de Israel eram filhos de Abraão e potenciais herdeiros da promessa que Deus lhe deu. Mas suas transgressões puseram-nos em um estado de escravidão ao pecado. Mas o pecado trouxe-lhes a pena de morte — invalidando sua reivindicação imediata à herança eterna que Deus prometeu a Abraão por meio de Sua semente justa, Jesus Cristo.

O pecado deixou-os numa situação em que necessitavam de um processo para serem perdoados — ser justificados e permanecer justificados. Durante certo período de tempo — até que Cristo viesse e oferecesse a Sua vida por seus pecados (e pelos pecados de todas as pessoas) — eles foram colocados sob uma “custódia” temporária. Esta custódia — os rituais, as cerimônias e os sacrifícios — tipificavam esplendidamente a Cristo.

Para eles ou qualquer outra pessoa poder herdar a vida eterna é preciso se tornar "filhos de Deus mediante a fé" (Gálatas 3:26). Isto é realizado por meio do que as Escrituras chamam de justificação — sendo feito justos para com Deus através da limpeza de um passado injusto e recebendo a ajuda espiritual necessária para obedecer de coração. Esse é o foco de Paulo no livro de Gálatas.

A lei temporária era como uma guarda custodiada de Israel

Quando Deus estabeleceu o povo de Israel como uma nação, Ele não os libertou imediatamente da escravidão do pecado. Mas os colocou sob uma "custódia" para guardá-los de abandonar totalmente a esperança na redenção futura, que foi prometida a Abraão e seus descendentes.

Por isso, Paulo começa comparando o corpo instrutivo da lei levítica, ritualística, cerimonial e sacrificial, baseada no templo (que começou a ser recebida no Monte Sinai e que incluía a circuncisão) com a promessa feita a Abraão. Esse sistema de lei tornou-se o guardião de custódia deles, algo muito semelhante à guarda custodiada descrita acima, ou seja, ter em custódia o filho do dono da propriedade.

Por exemplo, Hebreus 10:1 fala da "lei" que não é mais necessária: "Porque, tendo a lei a sombra dos bens futuros e não a imagem exata das coisas, nunca, pelos mesmos sacrifícios que continuamente se oferecem cada ano, pode aperfeiçoar os que a eles se chegam".

Embora o termo geral "lei" seja usado neste versículo, o contexto mostra claramente que a referência é apenas para a categoria específica da lei de sacrifícios.

O objetivo principal do livro de Gálatas é explicar que a justificação ― tornar-se justo ante Deus ― não vem pelo mero esforço humano. As obras de lei — qualquer lei, seja do homem ou de Deus — não podem nos salvar. Somente o sacrifício de Jesus Cristo pode perdoar os pecados e nos justificar. E só Cristo, vivendo em nós através do Espírito Santo, pode nos manter justificados diante de Deus.

O livro de Hebreus dá esta mesma explicação: "Porque, se o sangue dos touros e bodes e a cinza de uma novilha, esparzida sobre os imundos, os santificam, quanto à purificação da carne, quanto mais o sangue de Cristo, que, pelo Espírito eterno, se ofereceu a si mesmo imaculado a Deus, purificará a vossa consciência das obras mortas, para servirdes ao Deus vivo?

"E, por isso, é Mediador de um novo testamento, para que, intervindo a morte para remissão das transgressões que havia debaixo do primeiro testamento, os chamados recebam a promessa da herança eterna" (Hebreus 9:13-15).

Os sacrifícios somente poderiam purificar no sentido físico e conjunto. Eles não podiam perdoar pecados no sentido espiritual da palavra. A verdadeira redenção espiritual e perdão dos pecados vêm somente através do sacrifício de Jesus Cristo. O fato de que os sacrifícios de animais não sejam mais necessários não tem qualquer influência sobre as leis espirituais subjacentes de Deus, que ainda são necessárias e exigidas.

Como afirma Hebreus 8:7-10 [versão Almeida Corrigida e Fiel]: "Porque, se aquela primeira [aliança] fora irrepreensível, nunca se teria buscado lugar para a segunda [aliança]. Porque, repreendendo-os, lhes diz: Eis que virão dias, diz o Senhor, em que com a casa de Israel e com a casa de Judá estabelecerei uma nova aliança, não segundo a aliança que fiz com seus pais, no dia em que os tomei pela mão, para os tirar da terra do Egito; como não permaneceram naquela minha aliança, eu para eles não atentei, diz o SENHOR.

"Porque esta é a aliança que, depois daqueles dias, farei com a casa de Israel, diz o Senhor: porei as minhas leis no seu entendimento e em seu coração as escreverei; e eu lhes serei por Deus, e eles me serão por povo".

Sob a antiga aliança, Deus pronunciou as penalidades pela desobediência. E deu-lhes os recordativos simbólicos para que entendessem que precisavam de um sacrifício (Jesus Cristo) para o perdão dos seus pecados.

O que está incluído na "lei de Deus"?

Paulo se refere a "toda a lei" em Gálatas 5:3. Ele não se limitou apenas aos princípios espirituais que definem o pecado.

Nela estão três categorias principais de leis que foram codificadas para Israel no Sinai. Cada categoria serve a objetivos diferentes.

Primeiro, a lei contém os Dez Mandamentos e muitas outras ordenanças, preceitos, estatutos e juízos que distinguem permanentemente a justiça do pecado. Essas leis refletem a natureza divina do amor de Deus (comparar 2 Pedro 1:4; Mateus 22:37-40). Os princípios fundamentais eram conhecidos pelos servos de Deus muito antes de Moisés.

Esta categoria de lei não era temporária. Ela não teve origem no Sinai e nem acabou com o sacrifício de Jesus Cristo. As leis desta categoria, incluindo os Dez Mandamentos e outros regulamentos da vida espiritual diária, são "santos e justos e bons", e Paulo disse que “servi-as” com o seu coração (Romanos 7:12, 14, 25).

Segundo, "toda a lei" inclui os regulamentos simbólicos que apontavam para o papel de Cristo, que solucionaria o problema da humanidade com o pecado. Estes sacrifícios, ofertas e cerimônias físicas cumpriam uma necessidade temporária. E fizeram isso muito bem! No entanto, sua observância não é mais necessária. Hebreus 9:9-10 explica isso claramente. Jesus tornou-se o sacrifício pelo pecado que isso representava.

Terceiro, a lei tinha regulamentos que permitiram a administração do governo na antiga Israel. As ordenanças estabeleciam punições para transgressões específicas que se enquadravam nesta categoria. Tais ordenanças nacionais — embora, dadas a um povo que ainda não tinha recebido o Espírito Santo — ainda são úteis como exemplos de julgamentos bons, firmes e piedosos.

Como Paulo explicou a Timóteo: "Toda Escritura divinamente inspirada é proveitosa para ensinar, para redarguir, para corrigir, para instruir em justiça para que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente instruído para toda boa obra" (2 Timóteo 3:16-17). Esses escritos antigos estão cheios de princípios e exemplos que explicam e ilustram o comportamento justo. Esta é uma das razões pelas quais disse Jesus: "Nem só de pão viverá o homem, mas de toda palavra de Deus" (Lucas 4:4).

A razão para a Aliança do Sinai

Paulo queria que os gálatas entendessem um propósito principal da Aliança do Sinai e, especialmente, todo o corpo de lei temporária dado com ela. O propósito era preparar o povo de Israel para o arrependimento genuíno e a justificação através de Cristo em um tempo posterior.

Por isso, muitos recursos temporários lhes foram dados por meio de Moisés. Essas características simbólicas serviram como um "recordativo" da culpa e da necessidade de redenção, mas não poderia "tirar os pecados" (Hebreus 10:1-4).

E isso mantinha os israelitas constantemente conscientes da sua necessidade de um Redentor. Nos escritos dos profetas posteriores, Deus revelou muitos mais detalhes sobre esse futuro Redentor.

Esses aspectos simbólicos e temporários da lei eram necessários pelo tempo que durou a Aliança do Sinai. Mas com a vinda do Redentor — que tanto é o Salvador como o Sumo Sacerdote de todos os que são resgatados — eles não são mais necessários. "Certo é que, quando há mudança de sacerdócio, é necessário que haja mudança de lei" (Hebreus 7:12, NVI).

Essa mudança parcial na lei (não uma rejeição do aspecto eterno da própria lei) incluiu apenas os recursos limitados dentro da totalidade do que foi dito no Sinai.

O foco principal da Nova Aliança é oferecer perdão para o pecado (como prefigurado na Aliança do Sinai) e criar um pensamento justo e uma atitude em conformidade dentro da pessoa. E isso é feito escrevendo, os mesmos fundamentos da “lei" espiritual e imutável dada a Moisés, no coração e na mente, em vez de escrever em meros objetos externos, como tábuas de pedra.

A Nova Aliança também oferece o dom do Espírito Santo — para que se "maneje bem a palavra da verdade" (2 Timóteo 2:15). O Espírito Santo fornece a motivação interna e a unidade necessária para obedecer às leis de Deus que distinguem o bem do mal (Romanos 8:7-9).

O exemplo da fé de Abraão

Em ambos as alianças, a lei de Deus define o pecado e contrasta-o com a justiça. Mas a lei não consegue e nem pode perdoar o pecado. Para esclarecer este ponto, Paulo entrega aos gálatas uma lição de história.

Ele remete à aliança feita com Abraão, o alicerce sobre o qual estão baseadas ambas a Aliança do Sinai e a Nova Aliança. Essa aliança [com Abraão] continha a "promessa" de que a "Semente" de Abraão iria obedecer perfeitamente a Deus, de modo a se qualificar em todos os aspectos como o Redentor de "todas as famílias da terra" (Gênesis 12:3; Gálatas 3:7-8, 29).

Uma vez que Jesus Cristo é esse Redentor, somente através da nEle e dEle — e não apenas através de tentar, por conta própria, a obedecer as "obras de lei" — é que a libertação da penalidade do pecado e do próprio pecado torna-se possível. A fé de Abraão é apresentada como o principal exemplo que devemos imitar a este respeito.

"Não foi mediante a Lei que Abraão e a sua descendência receberam a promessa de que ele seria herdeiro do mundo, mas mediante a justiça que vem da fé" (Romanos 4:13, NVI). É claro, que a fé fazia parte disso e foi demonstrada pela obediência de Abraão.

Paulo está tocando no ponto de que "um homem não é justificado pelas obras da lei, mas pela fé de Jesus Cristo, assim temos também crido em Jesus Cristo, para sermos justificados pela fé de Cristo, e não pelas obras da lei, porque pela as obras da lei nenhuma carne será justificada" (Gálatas 2:16, tradução livre da versão inglesa do Rei James). Ele continua: "Pois, se a herança depende da Lei, já não depende de promessa. Deus, porém, concedeu-a gratuitamente a Abraão mediante promessa" (Gálatas 3:18).

Para entender tudo o que Paulo está dizendo, temos de compreender ambos os aspectos da justificação. Em algumas partes, o foco de Paulo está no aspecto de que a justificação é a reconciliação — lidando com os "pecados dantes cometidos" (Romanos 3:25), a ênfase desse aspecto da justificação se encontra na limpeza das transgressões através da fé no sangue de Jesus Cristo. Em outras partes, ele se concentra em permanecer justificados pela obediência continuada — que também só é possível através de Cristo.

O propósito da lei

Visto que a justificação não veio através do sistema legal entregue à antiga Israel, Paulo pergunta: "Logo, para que é a lei [seus aspectos e ‘custódias’ temporários]? Foi ordenada por causa das transgressões, até que viesse a posteridade a quem a promessa tinha sido feita, e foi posta pelos anjos na mão de um medianeiro" (Gálatas 3:19).

Sem a lei preexistente e imutável de Deus não poderia haver transgressões ou pecados — assim, não haveria nenhuma culpa e nem necessidade de perdão, de justificação ou de um Salvador. Portanto, além de explicar a justiça, a lei de Deus também define e condena as transgressões. Por causa das transgressões da lei preexistente, as leis cerimoniais e sacrificiais foram acrescentadas apenas como recordativos temporários e disciplinar do pecado, como deixa claro Jeremias 7:21-23.

As promessas feitas a Abraão eram espirituais e essas mesmas promessas são feitas ao povo de Deus hoje, para aqueles que se arrependeram e receberam o Espírito Santo. O atual povo de Deus, assim como o justo Abraão (ver Gênesis 26:5), deve guardar a lei imutável de Deus, que define o pecado — embora ele não possa perdoar o pecado.

Os aspectos da lei acerca dos sacrifícios e do sacerdócio simbolizavam a redenção da culpa que o sangue derramado de Cristo iria disponibilizar no futuro. Mas agora, já que Ele foi sacrificado como o verdadeiro "Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo" (João 1:29), esses meros aspectos simbólicos da lei não são mais necessários.

Os princípios de governo da lei ensinaram ao povo de Israel a olhar para Deus como seu Governante supremo. Quando Jesus voltar, Ele vai estabelecer novamente esses aspectos do governo divino, mas desta vez sobre toda a Terra como o "Rei dos reis" (Apocalipse 17:14; 19:19-21). O governo justo, muito semelhante ao sistema administrativo dado à antiga Israel, será então aplicado a todos os povos e nações (Isaías 2:2-4).

Como observado anteriormente, "Não foi mediante a Lei que Abraão e a sua descendência receberam a promessa de que ele seria herdeiro do mundo, mas mediante a justiça que vem da fé" (Romanos 4:13, NVI) — que inclui o perdão dos pecados e a capacitação para a plena obediência a Deus. Portanto, uma vez que Jesus Cristo é o nosso Redentor e Salvador, sendo possível somente pelo dom da fé, pela qual podemos receber, e que vem de Deus através de Cristo, a libertação do pecado e de suas consequências (Efésios 2:8).

Gálatas 3:19: "Foi adicionada ... até que viesse o Descendente"

Para ressaltar a importância do papel de Cristo na redenção, Gálatas 3:19 observa que lei (temporária) "foi adicionada por causa das transgressões, até que viesse o Descendente a quem se fez a promessa..." (ARA, comparar com Gn 17:7).

Desde que Cristo veio e morreu por essas transgressões, a justificação pela graça mediante a fé tornou-se disponível para todos os que creem e se arrependem.

Essa justificação não se tornou disponível através da circuncisão como uma recompensa ganha pelas "obras da lei". Ela está disponível apenas como um dommediante a fé — assim como Abraão foi justificado pela fé. Os aspectos cerimoniais e sacrificiais da lei dados do Sinai realmente se tornaram desnecessários uma vez que Cristo (a “Semente” ou “Descendente”) havia chegado. Mas a “lei real” eterna e espiritual de Deus (Tiago 2:8) continua válida para os cristãos hoje em dia.

Lamentavelmente, muitos adulteram as palavras de Paulo, tirando-as do seu contexto, para contradizerem suas declarações.

Em Romanos 2:13 Paulo diz enfaticamente: "Porque os que ouvem a lei não são justos diante de Deus, mas os que praticam a lei hão de ser justificados". A justificação não está mesmo disponível para aqueles que se recusam a ser "cumpridores" da lei — isto é, a lei espiritual e eterna de Deus.

Um pré-requisito importante para o perdão e a capacitação através da justificação é o arrependimento (Atos 2:38), que inclui não apenas uma tristeza pela transgressão da lei no passado, mas também o compromisso de obedecer a lei de Deus, daquele ponto em diante.

Somente assim se é possível receber o Espírito Santo, que provê o "poder, o amor e a moderação" [ou domínio próprio] necessários para vencer o pecado (2 Timóteo 1:7, ARA). O fato de que a justificação é dada apenas para os "cumpridores" de lei espiritual de Deus torna a Sua lei essencial para esse processo.

Porque ninguém pode ganhar o perdão através de "obras" ou "obras da lei" (Romanos 3:28-30) e ninguém pode ter êxito em obedecer plenamente a Deus por conta própria. Paulo pergunta: "Anulamos, pois, a lei pela fé?" Sua resposta: "De maneira nenhuma! Antes, estabelecemos a lei" (versículo 31).

Ainda em Gálatas 3:21 Paulo confirma claramente que a lei e a promessa não se opõem, mas apoiam uma a outra: "Logo, a lei é contra as promessas de Deus? De nenhuma sorte; porque, se dada fosse uma lei que pudesse vivificar, a justiça, na verdade, teria sido pela lei".

A lei e a promessa cada uma tem um papel por estar "trazendo muitos filhos à glória" (Hebreus 2:10). Mas cada qual tem uma função diferente.

A lei explica a justiça e condena o pecado. E os aspectos simbólicos da lei aguardavam com expectativa a redenção. Mas o perdão dos pecados somente está disponível através do arrependimento e da fé em Jesus Cristo, o Redentor prometido.

Para alcançar o objetivo da Nova Aliança, as grandes leis espirituais Deus devem ser escritas nos corações e mentes daqueles que são perdoados e resgatados, assim eles terão o caráter para servi-Lo fielmente por toda a eternidade (Hebreus 10:16).

Mas antes que isso possa acontecer, em primeiro lugar, tem que se satisfazer a justiça de Deus através da justificação pelo sangue derramado de Jesus Cristo.