O Que Foi 'Cancelado' Pela Morte de Jesus Cristo?

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A tradução inadequada e enganosa de uma passagem de Colossenses 2, em algumas versões da Bíblia, é frequentemente usada para apoiar a crença falsa de que a lei de Deus foi "cancelada" por Jesus Cristo, onde Ele é indevidamente acusado de que "a tirou do meio de nós, cravando-a na cruz" (usando as palavras do versículo 14).

O versículo em questão é Colossenses 2:14, onde se refere a Cristo dizendo o seguinte: "Tendo cancelado o escrito de dívida, que era contra nós e que constava de ordenanças, o qual nos era prejudicial, removeu-o inteiramente, encravando-o na cruz" (ARA). Será que isto quer dizer que a lei de Deus foi cancelada ou pregada na cruz, como muitos defendem?

Vamos primeiro observar que a lei de Deus não é algo que seja "contra nós". Pelo contrário, o mandamento é "santo, justo e bom" (Romanos 7:12). A Escritura sempre se refere ao fato de ela ser uma bênção para a humanidade.

De fato, Cristo removeu algo, que de certo modo foi pregado na cruz. Mas este algo foi o registro de nossos pecados — as nossas transgressões — e não a lei de Deus. Um olhar cuidadoso sobre texto de Paulo, no grego original, prova que isso é verdade.

A palavra grega traduzida como "riscado" ou "tendo cancelado" (ARA) ou "anulado" (BLH) em Colossenses 2:14 é exaleipho. Significa "lavar, ou esfregar completamente...para apagar, limpar, remover" (Dicionário Expositivo Completo das Palavras do Antigo e do Novo Testamento de Vine, 1985, "riscar").

As Escrituras sempre usa exaleipho em referência a limpar o pecado, e não a lei. Em Atos 3:19 Pedro usa esta palavra quando exorta seus ouvintes: "Arrependam-se, pois, e voltem-se para Deus, para que os seus pecados sejam cancelados" (NVI).

No Antigo Testamento, a palavra hebraica machah — traduzida como "cancelar" ou "riscar" (como exaleipho) — é utilizada para delitos e pecados. Isaías cita Deus dizendo: "Eu, eu mesmo, sou o que apaga [machah] as tuas transgressões por amor de mim..." (Isaías 43:25; comparar Salmo 51:1, 9; Êxodo 32:31-33). Somente os pecados, ou pessoas que insistem em continuar pecando, são apagados, não a lei de Deus. Isso fica claro quando examinamos a próxima frase usada por Paulo Colossenses 2:14.

O “escrito de dívida…que constava de ordenanças”

Os romanos pregaram duas coisas na cruz no momento da crucificação de Jesus Cristo: O próprio Jesus e uma inscrição que dizia que Ele era o "rei dos judeus" — a acusação de traição contra Roma pela qual Ele foi executado.

Mas Paulo acrescenta outra coisa, que também foi (figurativamente) pregada na cruz de Jesus Cristo: "o escrito de dívida, que era contra nós e que constava de ordenanças" (ARA).

A frase traduzida como "escrito de dívida...que constava de ordenanças" é cheirographon tois dogmasin no original grego. Este é o único lugar em que ela aparece no Novo Testamento.

O Léxico de Friberg explica que cheirographon dogma significa “estritamente um documento escrito à mão, em questões legais acerca de uma nota promissória, registro de dívidas, de obrigações; figurativamente em [Colossenses] 2:14 não no sentido próprio de lei, mas, como o registro de ônus...que suscitado contra a nós e que Deus, simbolicamente, removeu ao 'cravá-lo na cruz’" (software BibleWorks, grifo nosso).

O Dicionário Expositivo Completo das Palavras do Antigo e do Novo Testamento de Vine também explica: "Isto significa um memorando de dívida, ‘uma escrita à mão’ usada em contratos públicos e privados, e é uma palavra técnica nos papiros gregos. Um grande número de antigas notas manuscritas foi publicado e destas o doutor Deissmann diz: ‘uma fórmula estereotipada nesses documentos é a promessa de pagar o dinheiro emprestado: ‘eu pagarei’, e todos elas estão escritas de próprio punho do devedor, ou, se ele não pudesse escrever, na nota dele havia uma observação expressa: ‘Eu escrevi por ele’...”.

"Nos famosos papiros florentinos de 85 a.C., o governador do Egito dá esta ordem no curso de um julgamento — ‘Que o escrito seja riscado’, que corresponde à ‘cancelar o escrito’ de Colossenses 2:14" (Graham Scroggie, além de Vine, Sistema de Biblioteca Logos, 1997).

O Dicionário Teológico do Novo Testamento acrescenta: "O tema da metáfora da nota de dívida é bastante enfático para afirmação anterior...[que] Deus perdoou os pecados. Ele cancelou a nota da dívida por pegá-la e fixá-la na cruz de Cristo" (Gerhard Kittel, 1995, vol. 9, p. 436, grifo nosso).

A linguagem da época de Paulo associa esta palavra com uma dívida legal escrita à mão ou com uma pena devida, e não com a lei de Deus.

A última palavra que vamos examinar é "ordenanças", usada em "escrito de dívida...que constava de ordenanças". A palavra grega usada aqui é dogmasin, que denota "uma opinião, decreto (público)" (Robert Thomas, Novo Dicionário Padrão Americano de Aramaico-Hebraico e Grego, 1999). Esta expressão era utilizada em uma sentença oficial escrita à mão ou em uma acusação contra alguém por infringir uma lei.

Assim, a tradução Nova Versão Internacional registra assim este versículo: "Cancelou a escrita de dívida, que consistia em ordenanças, e que nos era contrária. Ele a removeu, pregando-a na cruz".

A Bíblia de Jerusalém traduz este versículo assim: "Apagou, em detrimento das ordens legais, o título de dívida que existia contra nós; e o suprimiu, pregando-o na cruz".

Na Bíblia na Linguagem de Hoje o versículo é lido desse jeito: "Anulou a conta da nossa dívida, com os seus regulamentos que nós éramos obrigados a obedecer. Ele acabou com essa conta, pregando-a na cruz”.

O que aconteceu na crucificação

Uma boa maneira de visualizar isto é considerar um detalhe do que aconteceu na crucificação de Cristo: "E, por cima da sua cabeça, puseram escrita a Sua acusação: ESTE É JESUS, O REI DOS JUDEUS" (Mateus 27:37). A Nova Tradução Viva diz: "Puseram acima da sua cabeça uma tabuleta onde estava escrito a acusação contra Ele".

Os líderes religiosos judeus acusaram Jesus de ter a ambição de substituir César como rei dos judeus. A acusação formal contra Ele diante de Pilatos era precisamente esta: "Qualquer que se faz rei é contra o César" (João 19:12).

Isso explica a pergunta de Pilatos a Jesus: "És tu o rei dos judeus?" (Mateus 27:11). Quando Jesus recusou-se a se defender, Pilatos aceitou a acusação dos líderes judeus e mandou pregar na cruz esta acusação ao crucificar Cristo.

O decreto manuscrito que Pilatos pregou acima da cabeça de Cristo declarava publicamente a acusação oficial pela qual Jesus foi crucificado. Esse decreto insinuou falsamente que Jesus era culpado de cometer traição contra César.

Portanto, Jesus foi oficialmente executado como um transgressor. Esta acusação era falsa. Mas ao aceitar a pena de morte pela falsa acusação, Ele se tornou o principal substituto do pecado para as acusações legítimas que Deus tem contra nós. Ele "riscou" as acusações que requerem a nossa morte por nossas transgressões, tomando sobre Si as acusações. Ao fazer isso, Ele tornou possível o perdão dos pecados (Colossenses 2:13).