Uma Visão Bíblica do Dinheiro e da Riqueza

Você está aqui

Uma Visão Bíblica do Dinheiro e da Riqueza

As pessoas que creem na Bíblia possuem visões extremamente divergentes sobre o que ela diz—incluindo sobre o dinheiro. Alguns veem o dinheiro como a raiz de todos os males e acreditam que a pobreza faz a pessoa se aproximar de Deus. Outros aceitam o evangelho da "saúde e riqueza", acreditando que os cristãos são destinados quase automaticamente a serem financeiramente prósperos ou até milionários.

Existem pessoas que aceitam estas idéias contraditórias e pensam que elas vem diretamente da Bíblia. Então, o que a Bíblia realmente diz sobre esse assunto? O dinheiro é bom ou mau? Para fundamentar a administração das finanças pessoais devemos começar considerando se é correto os cristãos acumularem riquezas.

A riqueza e a Bíblia

A primeira vez que a Bíblia menciona alguém endinheirado, ela fala de um homem justo, Abrão que "era muito rico em gado, em prata, e em ouro" (Gênesis 13:2). Depois encontramos Deus prometendo que, através dos descendentes desse homem, todas as nações da Terra seriam abençoadas (Gênesis 18:18; 22:18; 26:4). Abraão foi rico, mas também foi "o pai dos que creem" (Romanos 4:11).

Deus não é contra as riquezas. Na realidade, Ele é a origem das bênçãos financeiras (1 Samuel 2:7; Provérbios 10:22) e nos lembra que ser diligente também leva à riqueza (Provérbios 10:4).

Quando temos mais dinheiro do que precisamos para as despesas normais, devemos ser sábios e guardar também para eventualidades futuras. A Bíblia fala bem do poupador, quando diz que a formiga acumula sabiamente comida durante o inverno (Provérbios 6:6-11). Também fala bem de alguém que prover para os filhos e os netos: "O homem de bem deixa uma herança aos filhos de seus filhos, mas a riqueza do pecador é depositada para o justo" (Provérbios 13:22).

De fato, devemos entender que ter bastante dinheiro nos coloca em uma posição melhor para ajudar os necessitados. Por outro lado, a pobreza limita a nossa capacidade de ajudar os outros.

Armadilhas espirituais a serem evitadas

Porém, os exemplos positivos que acabamos de mencionar não é o quadro completo. O seguidor de Deus que quer ganhar dinheiro e continuar a segui-Lo deve evitar certas armadilhas espirituais. É fácil para uma pessoa que acumula bens materiais passar a confiar no dinheiro—em lugar de Deus—como sua fonte de proteção e estabilidade (Provérbios 18:11).

O apóstolo Paulo arrazoou sobre o dinheiro e a tentação: "Mas os que querem ser ricos caem em tentação, e em laço, e em muitas concupiscências loucas e nocivas, que submergem os homens na perdição e ruína. Porque o amor ao dinheiro é raiz de toda a espécie de males; e nessa cobiça alguns se desviaram da fé, e se traspassaram a si mesmos com muitas dores" (1 Timóteo 6:9-10).

De tais palavras algumas pessoas tiram a ideia de que a Bíblia ensina que o dinheiro é a raiz de todos os males. Porém, Paulo escreveu algo completamente diferente—que "o amor ao dinheiro é raiz de toda a espécie de males". O dinheiro, por si só, não é mau, mas colocar o dinheiro e a riqueza material como a maior prioridade da vida é uma grande armadilha espiritual.

Nessa passagem, Paulo aprimora a perspectiva sobre a riqueza que Jesus Cristo tinha apresentado alguns anos antes. Ao falar das prioridades de um cristão (Mateus 6:24-33), Jesus disse: "Não podeis servir a Deus e a Mamom" (versículo 24). A palavra Mamom foi traduzida de uma palavra semelhante em aramaico que significa riquezas, especialmente riquezas que mudam o foco da pessoa para longe de Deus. Nesse sentido, a riqueza é personificada como um senhor competindo com Deus, sendo assim inaceitável.

Apesar de reconhecer que as pessoas têm necessidades materiais, Cristo enfatizou que nossa maior prioridade deve ser sempre Deus. Jesus ensinou que temos de "buscar primeiro o reino de Deus, e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas" (versículo 33).

Os comentários de Paulo a Timóteo nos ensinam a não endeusar o dinheiro ou permitir que ele se coloque entre nós e Deus. O dinheiro simplesmente é uma ferramenta que pode ser usada para bem ou para o mal. A chave está em nossa atitude.

Paulo acrescenta este conselho ao rico: "Manda aos ricos deste mundo que não sejam altivos, nem ponham a esperança na incerteza das riquezas, mas em Deus, que abundantemente nos dá todas as coisas para delas gozarmos; que façam o bem, enriqueçam em boas obras, repartam de boa mente e sejam comunicáveis; que entesourem para si mesmos um bom fundamento para o futuro, para que possam alcançar a vida eterna" (1 Timóteo 6:17-19, grifo do autor).

Podemos buscar riqueza e vida eterna?

Noutra ocasião, um jovem perguntou a Jesus o que alguém devia fazer para herdar a vida eterna. Depois de Jesus ter lhe dito que deveria guardar os mandamentos de Deus, o homem Lhe respondeu que tinha guardado todos desde sua juventude (Marcos 10:17-20). "E Jesus, olhando para ele, o amou e lhe disse: Falta-te uma coisa: vai, vende tudo quanto tens, e dá-o aos pobres, e terás um tesouro no céu; e vem, toma a cruz, e segue-me. Mas ele, pesaroso desta palavra, retirou-se triste; porque possuía muitas propriedades".

"Então Jesus, olhando em redor, disse aos seus discípulos: Quão dificilmente entrarão no reino de Deus os que têm riquezas! E os discípulos se admiraram destas suas palavras; mas Jesus, tornando a falar, disse-lhes: Filhos, quão difícil é, para os que confiam nas riquezas, entrar no reino de Deus! É mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha, do que entrar um rico no reino de Deus" (versículos 21-25). (Ver também "O Fundo da Agulha").

Veja a reação dos discípulos quando ouviram os comentários de Jesus sobre como era difícil que um homem rico entrasse no reino: " . . . E eles se admiravam ainda mais, dizendo entre si: Quem poderá, pois, salvar-se? Jesus, porém, olhando para eles, disse: Para os homens é impossível, mas não para Deus, porque para Deus todas as coisas são possíveis" (versículos 26-27). A vida eterna é um presente para aqueles que buscam humildemente a Deus (João 3:16; Romanos 6:23; Efésios 2:8-10). Todos, ricos ou pobres, dependem da misericórdia de Deus para ter a vida eterna.

Uma lição sobre prioridades

Jesus explicou que a vida eterna é um assunto espiritual de extrema importância. Intrinsecamente, o erro não estava na riqueza daquele homem. As prioridades dele estavam incorretas—seu apego impróprio à riqueza material. Cristo percebeu que o homem estava mais interessado em seu próprio dinheiro do que em Deus. Realmente, o jovem ficou desapontado com as palavras de Cristo "e foi embora triste, porque ele possuía muitas propriedades" (Marcos 10:22).

Alguns tentam desvirtuar esse episódio, dizendo que se trata de uma lição sobre a proscrição dos mandamentos de Deus, que o jovem afirmou ter guardado desde a juventude—e argumentam que Jesus estava introduzindo um novo conceito de justiça. No entanto, a realidade é que Jesus desafiou o jovem quanto a seu compromisso com os mandamentos, provando-o em relação ao primeiro mandamento, que proíbe ter quaisquer deuses diante do verdadeiro Deus. E, sem dúvida, o jovem colocou sua riqueza acima de Deus.

Essa passagem não significa que devemos dar tudo o que temos—a não ser que também tenhamos um problema semelhante, ou seja, priorizar mais nossos bens materiais do que a Deus. É claro que Deus vai nos exigir outros sacrifícios. Em todo caso, o importante é nos submeter a Ele de todo o coração.

Deus revelou em sua Palavra, a Bíblia, todo o conhecimento essencial que os seres humanos precisam para ficar em harmonia com os Seus caminhos, tanto físicos quanto espirituais. Deus entregou instruções específicas a Seu povo sobre o auxílio aos pobres (Deuteronômio 14:28-29; 15:1-2; 26:12-14). Sua Palavra dá instruções até mesmo sobre como Seu povo deveria prover financeiramente para guardar as solenidades religiosas anuais (Deuteronômio 12:17-18; 14:22-27).

Jesus elevou a outro nível a lição da prioridade espiritual e financeira. Marcos continua: "Então Pedro começou a dizer a Ele, veja, nós deixamos tudo e O seguimos. Assim Jesus respondeu e disse, Seguramente, eu vos digo, não há ninguém que deixou casa ou irmãos ou irmãs ou pai ou mãe ou esposa ou filhos ou terras, por Minha causa e pelo evangelho que não receba cem vezes mais já neste tempo em casas e irmãos e irmãs e mães e filhos e terras, com perseguições e, no futuro, vida eterna" (Marcos 10:28-30).

Aqui, Jesus promete recompensas físicas e espirituais a quem O coloca em primeiro lugar. Assim, está claro que Ele não é contra a prosperidade—desde que não a façamos disso a maior prioridade de nossas vidas.

Ter sempre as prioridades corretas pode ser um verdadeiro desafio para as pessoas que foram abençoadas com bens materiais. Os ricos não devem se vangloriar em suas riquezas (Jeremias 9:23). Temos de nos lembrar da instrução de Cristo sobre nossas prioridades: " . . . ajuntai tesouros no céu, onde nem a traça nem a ferrugem consomem, e onde os ladrões não minam nem roubam. Porque onde estiver o vosso tesouro, aí estará também o vosso coração" (Mateus 6:20-21).

As pessoas são preconceituosas

As pessoas podem ter preconceitos a respeito do dinheiro. Às vezes, o rico menospreza os pobres e, outras vezes, o pobre menospreza os ricos. Jesus não tinha esse preconceito. Ele comeu com cobradores de impostos e com pecadores desprezado, sendo chamado de amigo deles, (Mateus 9:10; 11:19) e também pregava aos pobres (Mateus 11:5).

Ele não demonstrou nenhuma parcialidade e até se encontrava com os ricos (Mateus 27:57; Lucas 19:1-10). Foi um homem rico, que O seguia, que enterrou Jesus em sua tumba da família (Mateus 27:57-60). Jesus Cristo morreu por toda a humanidade, sem levar em conta a posição social ou financeira de ninguém.

As escrituras que repassamos mostram a neutralidade do dinheiro—nem é bom nem é ruim. Porém, nossa atitude quanto a ele, isso sim é importante. O dinheiro testa nossa submissão; ele torna visível se somos submissos a Deus ou a nossos bens. Na melhor das hipóteses, o dinheiro dever ser um instrumento usado para fins importantes. No próximo capítulo veremos que Cristo ensinou que um cristão tem obrigações financeiras—com Deus e com seu semelhante.