A Falsa Referência à Trindade Adicionada em 1 João 5:7-8

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Lê-se na versão Almeida Revista e Atualizada [ARA], também conhecida como a Edição Revista e Atualizada [RA]: “E há três que dão testemunho [no céu: o Pai, a Palavra e o Espírito Santo; e estes três são um. E três são os que testificam na terra]: o Espírito, a água, e o sangue, e os três são unânimes num só propósito”. As palavras entre colchetes e em itálico simplesmente não são parte dos manuscritos do Novo Testamento geralmente aceitos. O prefácio da Edição Revista e Atualizada, diz que as palavras entre colchetes “não se encontram no texto grego adotado pela Comissão Revisora”. Infelizmente, e particularmente neste trecho, algumas outras versões se lê essencialmente da mesma maneira.

Os comentários bíblicos que mencionam esse acréscimo nos dizem que este é um comentário falso adicionado ao texto bíblico. Considere as palavras do Novo Comentário Bíblico, Revisado: “Nota-se que a AV [a Versão Autorizada (também conhecida como a versão do Rei Jaime)] inclui um material adicional neste ponto. Mas as palavras são claramente uma glosa [uma nota adicionada] e foram justamente excluídas pela NVI [Nova Versão Internacional] até de suas margens” (The New Bible Commentary: Revised, 1970, pág. 1269). A Bíblia na Linguagem de Hoje também exclui estas palavras adicionadas.

Na Nova Versão Internacional, 1 João 5:7-8, corretamente e de forma mais concisa diz: “Há três que dão testemunho: o Espírito, a água e o sangue; e os três são unânimes”. João personifica os três elementos aqui como testemunho, assim como Salomão personificou a sabedoria no livro de Provérbios.

Muitas outras versões mais recentes da Bíblia também reconhecem esse texto espúrio adicionado e omitem-o, incluindo a Nova Versão Internacional, Nova Tradução na Linguagem de Hoje, e A Bíblia da CNBB.

“A evidência textual é contrária a 1 João 5:7”, explica Neil Lightfoot, um professor do Novo Testamento. “De todos os manuscritos gregos, apenas dois o contém. Estes dois manuscritos são de datas muito posteriores, uma a partir do século XIV ou XV e outra do século XVI. Dois outros manuscritos têm esse versículo escrito na margem. Todos os quatro manuscritos mostram que este versículo foi aparentemente traduzido de uma forma tardia da Vulgata Latina” (Como a Bíblia Chegou Até Nós [How We Got the Bible], 2003, pág. 100-101).

O Comentário Bíblico Expositivo também descarta versões como as de Almeida que adicionam esse texto em 1 João 5:7-8, dizendo que é “obviamente uma glosa posterior sem mérito” (The Expositor’s Bible Commentary, Glenn Barker, vol. 12, 1981, pág. 353).

O Comentário Peake da Bíblia é muito incisivo em seus comentários, ao dizer: “A famosa interpolação após “três são os que testificam” não é impressa na NVI e com razão [porque] . . . Nenhum [manuscrito] grego respeitável a contém. Ela apareceu primeiramente em um texto latino do final do quarto século, que entrou na Vulgata [na versão Latina do quinto século, que se tornou a tradução medieval comum] e, finalmente, no NT [Novo Testamento] de Erasmo [que produziu os recentes textos gregos reunidos e uma nova versão latina no século XVI]” (Peake’s Commentary on the Bible, pág. 1038).

O Manual Popular de Dúvidas, Enigmas e “Contradições” da Bíblia nos diz: “Este versículo realmente não tem suporte entre os antigos manuscritos gregos . . . O seu aparecimento em posteriores manuscritos gregos baseou-se no fato de que Erasmo foi posto sob pressão eclesiástica para incluí-lo no seu NT grego de 1522, já que o havia omitido em suas duas edições anteriores, de 1516 e 1519, porque não existem manuscritos gregos que o contivesse” (Norman Geisler e Thomas Howe, 2008, pág. 339).

Os professores de teologia Anthony e Richard Hanson, em seu livro A Crença Razoável: Um Estudo da Fé Cristã, explicam o acréscimo injustificado no texto desta forma: “Isso foi acrescentado por alguma pessoa ou pessoas laboriosas da antiga igreja que achavam que o Novo Testamento infelizmente era deficiente no testemunho direto relativo à doutrina da trindade, que eles apoiavam, e então procuraram remediar essa falha . . . É um desperdício de tempo tentar encontrar a doutrina trinitária diretamente nas páginas do Novo Testamento” (1980, pág. 171).

Ainda assim, nem mesmo a formulação adicionada por si só consegue afirmar a doutrina da trindade. A adição, mesmo ilegítima, apenas apresenta o Pai, a Palavra e o Espírito Santo como testemunhas. E isso não diz nada sobre a personalidade de todos os três desde que o versículo 7 mostra a água e o sangue inanimados servindo ao mesmo propósito.

Além disso, a palavra Trindade não entrou em uso comum como um termo religioso até depois do Concílio de Nicéia, em 325 d.C., muitos séculos depois de os últimos livros do Novo Testamento estarem completos. A Trindade, definitivamente, não é um conceito bíblico.