O Domingo de Páscoa: Disfarçando Uma Verdade Bíblica

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O Domingo de Páscoa

Disfarçando Uma Verdade Bíblica

Em contraste com o público em geral, que considera o Natal o mais importante feriado cristão, muitos teólogos consideram o Domingo de Páscoa como uma festa de primazia, pois comemora a ressurreição de Jesus. Assim como acontece com o Natal, descobrimos que os costumes populares associados à celebração do Domingo de Páscoa—coelhos e ovos de páscoa—não têm nada a ver com o relato bíblico da vida de Cristo, neste caso a Sua ressurreição dos mortos.

Então, de onde surgiram essas práticas?

A Enciclopédia Britânica diz: “Como no Natal, assim também no Domingo de Páscoa, os costumes populares refletem muitos resquícios de costumes pagãos antigos—neste caso, estão ligados a ritos de fertilidade da primavera, como os símbolos do ovo de páscoa e do coelho da páscoa” (15 ª edição, Macropédia, Vol. 4, pág. 605, “Ano da Igreja”).

A história do Domingo de Páscoa na antiguidade

As raízes da celebração do Domingo de Páscoa datam de muito antes da vida, morte, e ressurreição de Jesus Cristo. Vários costumes do Domingo de Páscoa podem ser rastreados até as antigas celebrações da primavera em honra a Astarte, a deusa da primavera e da fertilidade. A Bíblia se refere a ela como “Astarote, a abominação dos sidônios” (2 Reis 23:13) e, como O Dicionário Expositivo Completo das Palavras do Antigo e do Novo Testamento de Vine menciona, “a Rainha do Céu”, cujo adoração Deus condenou (Jeremias 7:18; 44:24-28).

Francis Weiser, professor de filosofia no Colégio Boston, informa os seguintes fatos: “A origem do ovo de páscoa é baseado nas tradições da fertilidade das raças indo-europeias . . . O coelhinho da páscoa teve sua origem na tradição pré-cristã da fertilidade. As lebres e os coelhos eram os animais mais férteis que nossos antepassados ​​conheciam, assim serviram como símbolos da nova vida abundante na primavera” (Manual de Festas e Costumes Cristãos, 1958, págs. 233, 236). (Para mais informações sobre estes símbolos, consulte “Os Símbolos da Fertilidade: Inferiores à Nobreza de Deus” na página 33).

Os rituais e costumes da fertilidade foram incorporados às práticas religiosas no início da história humana. Depois que Adão e Eva rejeitaram a Deus no Jardim do Éden (Gênesis 3), a humanidade buscou outras explicações para a vida. As forças da natureza e as estações do ano, que não podiam ser controlados, começaram a ser vistos como deuses, deusas e poderes sobrenaturais a ser adorados e temidos. O homem logo criou seus próprios deuses, contrariando a instrução de Deus contra a idolatria (Êxodo 20:3-6; Deuteronômio 5:7-10).

“As nações pagãs fizeram estátuas ou imagens para representar as forças que adoravam. A maioria desses ídolos estava sob a forma de animais ou seres humanos. Mas, às vezes, os ídolos representavam poderes celestiais, como o sol, a lua e as estrelas; as forças da natureza, como o mar e a chuva; ou as forças da vida, como morte e a verdade . . .

“Com o tempo, um elaborado sistema de crenças nessas forças naturais foi desenvolvido na mitologia. Cada civilização e cultura tinha sua própria estrutura mitológica, mas as estruturas muitas vezes eram muito semelhantes. Os nomes dos deuses podiam ser diferentes, mas as suas funções e ações eram sempre as mesmas. O mito mais importante que cruzava as linhas culturais era o do ciclo de fertilidade. Muitas culturas pagãs acreditavam que o deus da fertilidade morria a cada ano durante o inverno, mas depois renascia anualmente na primavera. Os detalhes diferem entre as culturas, mas a ideia principal era a mesma” (Novo Dicionário Bíblico Ilustrado de Nelson, 1995,”Deuses Pagãos”, pág. 508).

Na mitologia pagã o sol representava a vida. Supostamente, o sol morria por volta do solstício de inverno, o dia mais curto do ano. (Como discutido anteriormente, a data fixada para as celebrações do Natal está radicada nesse mito). Os rituais da fertilidade da primavera complementavam o renascimento do sol, cujos símbolos de sobrevivência estão entrelaçados nas celebrações pascais.

Além de coelhos e ovos, outro costume popular do Domingo de Páscoa foi originado na era pré-cristã: “O presunto suíno também era popular entre os europeus e norte-americanos na páscoa, porque o porco era considerado um símbolo de sorte na cultura europeia pré-cristã” (A Enciclopédia da Religião [The Encyclopedia of Religion], 1987, pág. 558, “Easter” [Domingo de Páscoa]).

Rituais de sexo nas culturas antigas

Os antigos rituais da fertilidade giravam em torno da depravação e da imoralidade sexual explícita. Tais rituais foram referidos ao longo da Bíblia por uma variedade de nomes e descrições.

A deusa da fertilidade, babilônica e assíria, era Ishtar, de onde deriva o nome Astarte e Astarote, e muito provavelmente a deusa da primavera anglo-saxônica Eostre ou da germânica Ostara, e donde se originou a palavra inglesa Easter que significa [Domingo de] Páscoa (e que também nos deu origem à palavra Este, a direção do nascer do sol).

Ishtar simbolizava a Mãe Terra nos ciclos naturais da fertilidade terrena. Muitos mitos cresceram em torno desta divindade feminina. Ela era a deusa do amor, e a prática ritualística da prostituição se espalhou no culto da fertilidade dedicada ao seu nome.

“Os templos de Ishtar tinham muitas sacerdotisas, ou prostitutas sagradas, que, simbolicamente, realizavam os rituais da fertilidade do ciclo da natureza. Ishtar foi identificada como a deusa fenícia Astarte, a Astarote semita, e a Inanna suméria. Também existem fortes semelhanças entre Ishtar e a Isis egípcia, a grega Afrodite, e a Vênus romana.

“Associado a Ishtar estava o jovem deus Tamuz (Ezequiel 8:14), considerado ambos divino e mortal. Na mitologia babilônica, Tamuz morria anualmente e renascia ano após ano, representando o ciclo anual das estações e das colheitas. Mais tarde, essa crença pagã foi identificada com os deuses pagãos Baal e Anat da terra de Canaã” (Novo Dicionário Bíblico Ilustrado de Nelson, “Deuses Pagãos”, pág. 509). Acreditava-se que Ishtar realizava o renascimento ou a ressurreição de Tamuz na primavera, coincidindo com o desabrochar da natureza. (Para mais detalhes, consulte “A Ligação com a Ressurreição” na página 30).

Em todo o Antigo Testamento, Deus manifestou sua ira contra Seu povo quando serviam a esses falsos deuses (Juízes 2:13-14; 10:6-7; 1 Reis 11:5-11; Ezequiel 8:14-18).

O Domingo de Páscoa não era parte do culto da Igreja primitiva

O Novo Testamento não menciona uma celebração de Domingo de Páscoa. Os primeiros cristãos não tinham nada a ver com esse tipo de páscoa pagã. Em vez disso, eles celebraram a verdadeira Páscoa no 14o dia, instituída por Deus séculos antes na época do Êxodo (Êxodo 12:6-14; Levítico 23:5). O próprio Jesus Cristo guardou esta festa (Mateus 26:17-18) e lhe deu um significado mais claro sob a Nova Aliança, com a instituição dos símbolos do pão e do vinho, Seu corpo afligido e sangue derramado, que significa Seu sofrimento e morte a nosso favor (versículos 26-29). Ele é o Cordeiro de Deus, oferecido como o sacrifício da verdadeira Páscoa pelos pecados do mundo (João 1:29; 1 Coríntios 5:7).

Jesus disse aos Seus seguidores para continuar observando-a em Sua memória e de Sua morte (1 Coríntios 11:23-26). Logo, porém, começou a surgir pressões para substituir a verdadeira Páscoa [do 14o dia] pelos costumes populares do Domingo de Páscoa [Easter]. Este movimento foi a base para muitas contendas no decorrer dos próximos três séculos.

Observe como A Enciclopédia Britânica descreve este período: “Os primeiros cristãos celebravam a Páscoa do Senhor, ao mesmo tempo como os judeus, durante a noite da primeira lua cheia do primeiro mês da primavera (décimo quarto dia de Nisã [ou Abibe]). Em meados do segundo século, a maioria das igrejas havia transferido esta celebração para o domingo após a festa judaica. Mas certas igrejas da Ásia Menor apegaram-se ao antigo costume, por isso foram acusadas de “judaizantes” (Eusébio, História Eclesiástica, livro 5, capítulos 23-25). O primeiro Concílio Ecumênico de Nicéia, em 325 decretou que todas as igrejas deviam observar juntas a festa [Páscoa] num domingo” (15 ª edição, Macropédia, Vol. 4, págs. 604-605, “Ano da Igreja”).

“Depois de longas e ferozes controvérsias sobre a data (que é determinada pelo calendário lunar), definiu-se no Concílio de Nicéia, em 325, que a data para a Páscoa seria o primeiro domingo após a lua cheia que segue o equinócio da primavera. O Domingo de Páscoa se tornou o centro de uma estrutura litúrgica fixa dos tempos e festivais anuais da igreja” (ibidem, pág. 499, “Cristianismo”).

A pressão contra a Páscoa bíblica

Por que o Domingo de Páscoa substituiu a Páscoa bíblica do 14o dia?

Embora o Domingo de Páscoa fosse claramente de origem pagã, os líderes cristãos, dos primeiros dois séculos após a crucificação de Cristo, empregaram a mesma filosofia para estabelecer o novo feriado religioso, que mais tarde aplicaram ao estabelecimento do Natal. Acreditando que as pessoas são livres para escolher seus próprios tempos e os costumes para o culto a Deus, eles começaram a substituir gradualmente a Páscoa do décimo quarto dia, ordenada na Bíblia, pela celebração do Domingo de Páscoa criada por raciocínio humano.

Era mais fácil atrair adoradores pagãos ao cristianismo e manter a sua devoção através da identificação da festa da ressurreição da Primavera das religiões pagãs que era conhecida há muito tempo, com a ressurreição de Cristo.

O preconceito contra os judeus também parece ter sido um fator importante na decisão dos líderes da igreja para fazer tais alterações. De acordo com R.K. Bishop: “O desenvolvimento inicial da celebração do Domingo de Páscoa e as disputas associadas sobre o calendário, foram, em grande parte, resultado da tentativa do cristianismo de emancipar-se do judaísmo. O domingo já tinha substituído o Sábado judaico no início do segundo século, e apesar dos esforços na Ásia Menor para manter a data da Páscoa judaica, 14 de Nisã para a Páscoa [a verdadeira Páscoa], o Concílio de Nicéia, adotou o domingo anual seguinte à lua cheia após o equinócio primaveril (21 de março)” (Walter Elwell, editor, Dicionário Evangélico de Teologia [Evangelical Dictionary of Theology], 1984,”Easter “ [Domingo de Páscoa]).

Antes de 70 d.C., o cristianismo era “considerado pelo governo romano e pelas pessoas em geral como um ramo da religião judaica” (Jesse Lyman Hurlbut, A História da Igreja Cristã, 1954, pág. 34). O cristianismo e o judaísmo compartilhavam os dias de festas bíblicas, embora os cristãos as observassem com significados adicionais, introduzidos por Jesus e pelos apóstolos.

No entanto, duas revoltas judaicas contra o Império Romano, em 64-70 e 132-135, conduziram à perseguição generalizada dos judeus e à supressão de suas práticas religiosas. Os judeus foram expulsos de Jerusalém e proibidos de voltar, sob pena de morte. Por causa dessa grande pressão, alguns cristãos começaram a abandonar as crenças e práticas, que eram vistas como sendo bastante judaicas. Ao longo do tempo muitos abandonaram o descanso e o culto semanal do dia de Sábado em favor do culto no Domingo, o dia pagão do sol, e também abandonaram a Páscoa bíblica [do décimo quarto dia] em favor do Domingo de Páscoa para se distanciar dos judeus.

A Nova Enciclopédia Católica explica: “Originalmente, ambas as observâncias [a Páscoa bíblica do 14o dia e o Domingo de Páscoa] eram permitidas, mas aos poucos se percebeu que era um absurdo os cristãos celebrarem a Páscoa numa festa judaica, e foi exigido comemorar em unidade essa principal festa cristã” (1967, Vol. 5., pág. 8, “A Controvérsia do Domingo de Páscoa”).

O debate da Páscoa bíblica do 14o dia e o Domingo de Páscoa

A aceitação do Domingo de Páscoa em vez da Páscoa bíblica do 14o dia não aconteceu sem resistência. Dois líderes religiosos da metade do segundo século—Policarpo, bispo de Esmirna, na Ásia Menor, e Aniceto, bispo de Roma—debateram muito este assunto.

Aniceto argumentava pelo Domingo de Páscoa, enquanto Policarpo, um estudioso do apóstolo João, defendia a observância da “Páscoa cristã, no dia 14 de Nisã, o primeiro mês do calendário eclesiástico judaico, independentemente do dia da semana” (A Enciclopédia Britânica, 15 ª edição, Macropédia, vol. 8, pág. 94, “Policarpo”).

Policarpo ensinou a observância da Páscoa como a Igreja primitiva tinha observado. Eusébio mencionou que Policarpo disse que este era o caminho que “ele sempre tinha observado com João, o discípulo do Senhor, e o resto dos apóstolos, com quem estivera associado” (A História Eclesiástica de Eusébio, 1995, págs. 210-211). Esses cristãos do segundo século ainda estavam seguindo o exemplo de Jesus Cristo em observar a Páscoa bíblica (comparar 1 Coríntios 11:1; 1 Pedro 2:21; 1 João 2:6).

Várias décadas depois, outro líder da igreja na Ásia Menor, Polícrates, discutiu o mesmo assunto com o novo bispo de Roma, Victor. Eusébio escreveu sobre a continuidade do debate:

“Houve uma discussão considerável nessa ocasião, em conseqüência de uma diferença de opinião com respeito à observância da temporada pascal [a Páscoa bíblica]. As igrejas de toda a Ásia, seguindo uma tradição mais antiga, acreditavam que eles deveriam manter o décimo quarto dia da lua para a festa da Páscoa do Salvador, no mesmo dia que os judeus receberam a ordem de matar o cordeiro pascal . . .

“Os bispos . . . da Ásia, perseverando a observação do costume que lhes fora transmitido por seus pais, eram liderados por Polícrates. Aliás, ele também havia reafirmado a tradição transmitida a eles numa carta dirigida a Victor e à Igreja de Roma. ‘Nós’, disse ele, ‘portanto, observamos o dia legítimo, sem tirar nem colocar nada. Pois, na Ásia grandes luzes caíram no sono, que acordarão novamente no dia do retorno Senhor, no qual Ele virá com glória do céu, e levantará todos os santos do Senhor . . .

“Além disso, João, que descansava sobre o seio de nosso Senhor . . . também Policarpo de Esmirna, bispo e mártir. Thraseas . . . Sagaris . . . Papirius e Melito . . . Todos estes observavam o décimo quarto dia da Páscoa, segundo o Evangelho, sem desviar em nenhum aspecto, mas seguindo a regra da fé. Além disso, eu, Polícrates, que sou o menor de todos vocês, de acordo com a tradição dos meus parentes, alguns dos quais tenho seguido. E lá eram sete parentes meus [que eram] bispos, e eu sou o oitavo, e eles sempre observaram o dia em que as pessoas (ou seja, os judeus) removiam o fermento”.

“Eu, pois, irmãos, agora tenho sessenta e cinco anos no Senhor, tendo conferido com irmãos em todo o mundo, e tendo estudado todas as Escrituras Sagradas acerca do assunto, não fico nada espantado com essas coisas com que estou sendo ameaçado e intimidado. Pois os que são maiores do que eu disseram, que ‘devemos obedecer a Deus antes que a homens’” (págs. 207-209).

Infelizmente, o raciocínio das pessoas venceu em vez das instruções de Deus e do exemplo de Jesus Cristo e seus discípulos originais.

Um novo tema no culto

Conforme o domingo de Páscoa substituiu a Páscoa bíblica, não apenas uma nova data foi marcada (o primeiro domingo após o equinócio da primavera ao invés do dia bíblico de 14 de Nisã), mas um novo tema foi introduzido. Ao invés de comemorar a morte de Cristo, conforme indicado nas Escrituras (1 Coríntios 11:26), o novo feriado foi criado para celebrar a Sua ressurreição. Este novo tema adaptava-se facilmente aos símbolos de fertilidade dos pagãos. E também ajudava a distinguir a comunidade cristã dos judeus, um dos principais objetivos dos líderes da igreja nessa época.

Embora a ressurreição de Cristo seja uma base importante da esperança que temos de sermos também ressuscitados (1 Coríntios 15:17; Romanos 5:10), e fundamental para a continuação do plano de salvação de Deus, nem Deus Pai nem Cristo e muito menos as Escrituras nos orienta expressamente a celebrar este evento.

Na verdade, o amor de Deus é, antes de tudo, expresso a toda a humanidade através da crucificação de Jesus Cristo (João 3:16; Hebreus 9:28). Sua morte, pela qual nossos pecados podem ser perdoados, é o foco principal da Páscoa, e não a Sua ressurreição. Muitos dos detalhes de Sua morte e dos eventos que conduziram e rodearam essa morte foram profetizados precisamente nas Escrituras Hebraicas com centenas de anos de antecedência.

A decisão voluntária de Deus Pai de entregar Seu Filho Unigênito—e o consentimento de Jesus Cristo em entregar Sua vida à tortura e execução como sacrifício pelos pecados da humanidade—foram ações muito mais exigentes do que a demonstração do poder de Deus sobre a morte mediante a ressurreição.

A humanidade necessita de um Salvador

Não há muito que discutir. A Bíblia descreve o pecado e nossa necessidade de perdão e reconciliação com Deus (o tema da Páscoa biblicamente ordenada e dos Dias dos Pães Asmos) com muito mais frequência do que o assunto da ressurreição. Dentro da versão da Bíblia Almeida Revista e Corrigia, a palavra pecado é usada 559 vezes em comparação com a palavra ressurreição, que aparece apenas 41 vezes. Não se esqueça de que o pecado foi a causa da morte de Cristo. Somente por meio do arrependimento de nossos pecados e reconciliação com Deus pela morte de Cristo podemos ter certeza de sermos ressuscitados (Atos 2:38; João 5:29; João 11:25).

Isso não significa minimizar a importância da ressurreição de Cristo. Pois, ela também é um passo crucial no processo de salvação (1 Coríntios 15). Depois de sermos reconciliados com Deus Pai, pela morte de Seu Filho, por fim, somos salvos pela vida de Cristo, sendo que Ele intercede por nós como nosso Sumo Sacerdote e vive em nós através do Espírito Santo, nos ajudando a vencer o pecado (Romanos 5:10; Hebreus 4:14-16; 1 João 2:1; Gálatas 2:20). O processo de nossa saída do pecado é retratado na festa bíblica imediatamente após a Páscoa, os Dias dos Pães Asmos, durante os quais ocorreu a ressurreição de Cristo.

Porém, a Bíblia novamente nada instrui aos cristãos quanto a realizar uma comemoração especial da ressurreição de Cristo e não há nenhum registro bíblico de que os primeiros cristãos tenham feito isso. Mas está muito claro que, tanto Jesus Cristo como também o apóstolo Paulo esperam que os discípulos de Cristo comemorem Sua morte sacrificial por nós numa cerimônia especial (Mateus 26:26-28; 1 Coríntios 5:7; 11:23-28).

No entanto, a celebração do Domingo de Páscoa prevaleceu. Aqueles que permaneceram fiéis ao exemplo de Cristo em guardar a Páscoa (no dia 14) e os Dias dos Pães Asmos diminuíram em número e foram perseguidos por aqueles que escolheram o Domingo de Páscoa.

Como é que Deus considera estas mudanças, de cunho puramente humano, na adoração ordenada por Ele, será considerado no capítulo seguinte. Mas agora vamos examinar como é que as tradições desse feriado religioso não coincidem com o registro bíblico.

Ressurreição no domingo de manhã?

A escolha de um Domingo para o dia de Páscoa foi baseada na suposição de que Cristo ressuscitou do sepulcro cedo numa manhã de domingo.

A crença popular diz que Cristo foi crucificado numa sexta-feira e ressuscitou no domingo. Mas nenhuma destas suposições é apoiada pelo registro bíblico.

Mateus 12:38 mostra alguns dos escribas e fariseus pedindo a Jesus um sinal para provar que Ele era o Messias. Jesus disse-lhes que o único sinal que daria era o do profeta Jonas: “Pois, como Jonas esteve três dias e três noites no ventre da baleia, assim estará o Filho do Homem três dias e três noites no seio da terra” (versículo 40).

Mas como podemos encaixar “três dias e três noites no seio da terra” entre a crucificação numa sexta-feira à tarde e a ressurreição num domingo de manhã? O conceito tradicional de Sua crucificação e ressurreição só possibilita que Jesus tenha ficado enterrado apenas um dia e meio. [Ver págs. 26 e 27].

Alguns tentam conciliar as palavras de Cristo com sua crença numa crucificação na sexta-feira e ressurreição no domingo, arrazoando que a declaração de Cristo sobre “três dias e três noites” não exige literalmente um período de 72 horas. Eles argumentam que parte de um dia pode ser contado como um dia inteiro. Assim, uma vez que Jesus morreu à tarde—por volta da “hora nona” depois do amanhecer, ou cerca de três horas da tarde (Mateus 27:46-50)—eles acham que o restante da sexta-feira comporia o primeiro dia, o Sábado, o segundo, e parte do domingo, o terceiro.

No entanto, eles não levam em consideração que apenas duas noites— noite de sexta e noite de sábado—são contadas nessa explicação. Afinal, a Bíblia deixa claro que Jesus já havia ascendido antes da parte iluminada do domingo (João 20:1). Obviamente, alguma coisa está errada com esta conclusão comum a respeito de quando Cristo esteve no túmulo.

Cristo se refere especificamente a Jonas 1:17, onde afirma: “Esteve Jonas três dias e três noites nas entranhas do peixe”. Não temos razão para pensar que esses dias e noites eram fracionados. E nem há nenhuma base para pensar que Jesus quis dizer apenas duas noites e um dia, e partes de dois dias, quando Ele predisse o tempo que estaria no túmulo. Este tipo de raciocínio compromete a integridade das palavras de Jesus.

O sinal de Cristo foi cumprido?

Se Jesus estivesse no túmulo somente a partir da tarde de sexta-feira até a manhã de domingo, então o sinal dado de que Ele era o Messias prometido não foi cumprido. A afirmação de Sua messianidade repousa sobre o cumprimento de Suas palavras, e isso é uma questão muito séria.

Vamos examinar cuidadosamente os detalhes daqueles dias fatídicos. Cada um dos escritores dos Evangelhos informa sobre os eventos, mas também cada um apresenta diferentes aspectos que precisam ser sincronizados e harmonizados corretamente para gerar uma sequência e uma compreensão clara do que aconteceu. Veremos que, quando cada relato é considerado, os detalhes cronológicos se ajustam perfeitamente.

Por exemplo, João 19:31 preserva um ponto crucial que dá discernimento sobre as outras narrativas. O dia de preparação em que Jesus foi crucificado é descrito como a véspera do sábado. Mas João esclarece afirmando que “era grande” este sábado que se aproximava. Isto não se refere ao sábado semanal (ocaso de sexta-feira ao ocaso de sábado), mas ao primeiro dia dos Pães Asmos, que é um dos grandes dias, ou sábados, de Deus (Êxodo 12:16-17; Levítico 23:6-7), que poderia—e geralmente acontece—cair em outros dias da semana.

Alguns acreditam que, naquele ano, este grande dia caiu no sétimo dia da semana, coincidindo com o sábado semanal, de tal modo que o dia da preparação era na sexta-feira. Mas o relato de Lucas mostra que este não foi o caso. Observe a sequência de eventos descritos em Lucas 23.

O momento da morte de Jesus, assim como Seu sepultamento apressado por causa do sábado imediato, é narrado nos versículos 46-53. O versículo 54, em seguida, afirma: “Era o Dia da Preparação, e estava para começar o sábado” (NVI).

A menção de dois sábados

Muitos presumiram que aqui se estava mencionando o sábado semanal. Mas é uma ideia errada. Na verdade, era um sábado, que ocorreu numa quinta-feira, visto que o versículo 56 mostra que as mulheres, depois de verem o corpo de Cristo ser colocado no sepulcro, voltaram e “prepararam especiarias e unguentos” para o preparativo final do corpo.

Esse trabalho não poderia ser feito num dia de sábado, pois seria sido considerado uma violação do sábado. Isto pode ser verificado no relato de Marcos, que afirma: “E, passado o sábado, Maria Madalena, Salomé e Maria, mãe de Tiago, compraram aromas [que não podiam ser comprados naquele grande dia de sábado] para irem ungi-Lo” (Marcos 16:1).

As mulheres tiveram que esperar até este sábado terminasse para poderem comprar e preparar as especiarias que seriam utilizadas para ungir o corpo de Jesus. Então, como diz Lucas 23:56, foi depois de comprar e preparar as especiarias e óleos na sexta-feira que elas “descansaram no sábado, em obediência ao mandamento” (NVI). Este segundo sábado mencionado nos relatos dos Evangelhos é o sábado semanal regular, observado a partir do pôr-do-sol da sexta-feira até o pôr-do-sol do sábado.

Na comparação dos detalhes em ambos os Evangelhos—onde Marcos diz que as mulheres compraram especiarias após o sábado e Lucas relata que elas prepararam as especiarias e então descansaram no sábado—podemos ver claramente que são mencionados dois sábados diferentes. O primeiro foi um “grande dia” (João 19:31)—o primeiro dia da Festa dos Pães Asmos —que naquele ano, 31d.C., caiu numa quinta-feira. O segundo foi o sábado semanal do sétimo dia. (Veja abaixo “A Cronologia da Crucificação e Ressurreição de Cristo”).

O sinal do Messias

Depois que as mulheres descansaram no sábado semanal regular, então elas foram cedo ao sepulcro de Jesus no primeiro dia da semana (domingo), “sendo ainda escuro” (João 20:1), e descobriram que Ele já havia sido ressuscitado (Mateus 28:1-6; Marcos 16:2-6; Lucas 24:1-3). Quando permitimos que as Escrituras interpretem a si mesmas, todos os quatro relatos do Evangelho entram em harmonia e atestam a validade da promessa de Jesus de que estaria no túmulo por três dias e três noites—não apenas parte desse tempo.

Várias traduções da Bíblia reconhecem que esses eventos mostram que havia mais de um sábado. Em Mateus 28:1 algumas versões da Bíblia, incluindo o Novo Testamento Paralelo em Grego e Inglês de Alfred Marshall, a Tradução de Ferrar Fenton e a Tradução Literal de Green, traduzem corretamente esta frase como “depois dos sábados”. A Tradução Literal de Young e O Dicionário Completo de Estudo de Palavras do Novo Testamento (1992, pág. 1270) do mesmo modo reconhecem que aqui se refere a vários sábados.

O texto de Marcos 16:1-2 é confuso para alguns porque parece sugerir que as especiarias foram adquiridas após o sábado semanal, em vez de antes, na sexta-feira. No entanto, isso é explicado por Lucas 23:56, que mostra claramente que as mulheres compraram as especiarias antes e não depois do sábado semanal, “e descansaram no sábado segundo o mandamento”.  Marcos não mencionou este sábado semanal de descanso em seu relato, mas Lucas, que, mais tarde, também escreveu seu relato desses eventos, fez isso.

Alguns também tropeçam em Marcos 16:9 ao não levar em conta que não existe pontuação no original grego. Portanto, para ficar em harmonia com o texto apresentado nos outros evangelhos, uma melhor tradução seria:

“E Jesus, tendo ressuscitado, apareceu na manhã do primeiro dia da semana, primeiramente a Maria Madalena . . .”. Estes versículos não estão dizendo que Jesus ressuscitou cedo, na manhã de domingo, mas que Ele apareceu cedo, na manhã de domingo, a Maria Madalena, tendo já ressuscitado algum tempo antes.

Quando analisamos os detalhes em todos os quatro relatos dos Evangelhos, o quadro se torna claro. Jesus foi crucificado e sepultado no final da tarde de quarta-feira, pouco antes de um sábado, que começava ao entardecer. No entanto, este era um grande sábado, caindo naquele ano, no quinto dia da semana, do pôr-do-sol de quarta-feira ao pôr-do-sol de quinta-feira, ao invés de um sábado semanal, que é do pôr-do-sol de sexta-feira ao pôr-do-sol sábado. Ele permaneceu sepultado do pôr-do-sol de quarta-feira até o pôr-do-sol do sábado, depois de ser ressuscitado dos mortos. Assim, quando Maria Madalena chegou ao sepulcro, no domingo pela manhã antes do amanhecer, “enquanto ainda estava escuro”, ela encontrou a pedra removida e o sepulcro vazio.

Sem dúvida nenhuma, a duração do sepultamento de Cristo, antes de Sua ressurreição, que Ele predisse como prova de Seu caráter messiânico, foi exatamente o tempo que Ele disse que seria—igual aos “três dias e três noites [que Jonas ficou] na barriga do grande peixe” (Mateus 12:40). Assim, Jesus se levantou na tarde de sábado, próximo ao entardecer—não no domingo ao amanhecer—perfazendo assim, exatamente três dias e três noites depois que foi colocado no túmulo antes do pôr-do-sol da quarta-feira.

A profecia de Cristo sobre o tempo que Ele ficaria no túmulo foi cumprida com precisão. Como a maioria das pessoas não entende os grandes dias bíblicos observados por Jesus Cristo e seus seguidores, então elas não conseguem entender os detalhes cronológicos precisos, que foram preservados para nós nos Evangelhos [Ver págs. 28 e 29].

Um caminho melhor

Como vimos, o Domingo de Páscoa e seus costumes não se originaram da Bíblia, mas em rituais pagãos de fertilidade. É uma curiosa mescla de antigas práticas mitológicas e datação discricionária que obscurece e macula a prova da messianidade de Jesus Cristo e Sua ressurreição.

Agora que aprendemos sobre as fontes e origens desses dois importantes feriados religiosos, portanto, já estamos prontos para entender corretamente quais são os dias que o cristão deve observar. Deus, em Sua Palavra, nos mostra um melhor caminho de vida e com melhores dias de adoração que Ele escolheu para o Seu povo. O próximo capítulo revela os dias ordenados por Deus.