A Era de Ouro de Israel

A Era de Ouro de Israel

A aliança pela qual a antiga Israel se tornaria "o povo de Deus" (Juízes 20:2) foi feita no Monte Sinai, logo após os israelitas terem sido libertados da escravidão egípcia. A aliança de Deus com a nação foi baseada em Suas promessas e na aliança com Abraão (Êxodo 2:23-24; 33:1). Nela Deus definiu o relacionamento que queria com os descendentes de Jacó, nesse momento a inexperiente nação de Israel se dirigia para a Terra Prometida.

Deus ofereceu esta aliança a Israel como um manifesto unilateral das oportunidades que Ele estava oferecendo aos descendentes de Abraão, e uma explicação sem ambiguidade das obrigações dos israelitas para com Ele. A parte deles ao fazer esta aliança era somente a de aceitar ou rejeitar a oferta de Deus e depois, após aceitá-la, cumprir com o compromisso que firmaram.

Deus concedeu-lhes a mesma oportunidade que havia dado a Abraão, ou seja, concordar de andar em Sua presença irrepreensivelmente. Ele constantemente lembrava-os: "Porque eu sou o SENHOR, que vos faço subir da terra do Egito, para que eu seja vosso Deus, e para que sejais santos; porque eu sou santo" (Levítico 11:45). A eficácia do relacionamento dependia de sua atenção constante em viver e comportar-se como um povo santo—separado.

Quando os filhos de Israel ouviram os termos da aliança de Deus, eles tiveram duas opções distintas. Eles podiam aceitar o papel de viver como povo santo de Deus—Seus representantes diante das nações (Deuteronômio 4:6)—ou podiam aceitar as consequências de se recusar a cooperar.

Naquela época, a perspectiva de sua sobrevivência sem a ajuda de Deus era desanimadora. Deus acabara de libertá-los da crueldade da escravidão egípcia. Eles não tinham pátria, e nenhuma outra nação estava inclinada a aceitá-los como habitantes. Eles se encontraram em uma terra de ninguém, em um ambiente hostil e rancoroso.

Deus, sabiamente, tornou a opção de se tornarem Seu povo santo atraente demais para ser recusada. Mas Ele não os forçou a esta posição sem seu pronto consentimento. Eles tinham de fazer uma escolha.

Ele falou-lhes do Monte Sinai e revelou-lhes Seus Dez Mandamentos—Sua definição básica de santidade. Os Mandamentos, juntamente com os estatutos e sentenças que Deus revelara a Moisés, tornaram-se "o Livro do Aliança”. Moisés então "pegou o Livro do Aliança e leu aos ouvidos do povo, e eles disseram: Tudo o que o Senhor tem falado faremos, e obedeceremos” (Êxodo 24:7; compare com o versículo 3).

Apesar da aliança, os israelitas da geração que Deus acabara de libertar da escravidão egípcia ainda estavam incertos e desconfiados da intenção de Deus. Eles disseram a Moisés: "vimos que Deus fala com o homem e que o homem fica vivo. Agora, pois, por que morreríamos? Pois este grande fogo nos consumiria; se ainda mais ouvíssemos a voz do SENHOR, nosso Deus, morreríamos. Porque, quem há, de toda a carne, que ouviu a voz do Deus vivente falando do meio do fogo, como nós, e ficou vivo?” (Deuteronômio 5:24-26).

Os israelitas temeram ficar muito próximos de Deus. Eles não confiavam nEle. Eles careciam da fé de Abraão. Então, disseram a Moisés, "Chega-te tu e ouve tudo o que disser o SENHOR, nosso Deus; e tu nos dirás tudo o que te disser o SENHOR, nosso Deus, e o ouviremos e o faremos" (versículo 27). Eles não estavam prontos para um relacionamento genuinamente íntimo e pessoal com Deus.

Por que a Nova Aliança seria necessária

Naturalmente, Deus conhecia seus corações melhor do que eles. Ele entendia que a aliança que estava fazendo com eles possuía um grande ponto fraco: Não havia provisão nesta para mudar o coração humano. Isso teria que esperar até a primeira vinda do Messias, até que Jesus Cristo pudesse ser morto como o Cordeiro de Deus sacrifical (Hebreus 9:26).

Observe a resposta de Deus à declaração dos israelitas de que O obedeceriam: "Eu ouvi a voz das palavras deste povo, que te disseram; em tudo falaram eles bem. Quem dera que eles tivessem tal coração que me temessem e guardassem todos os meus mandamentos todos os dias, para que bem lhes fosse a eles e a seus filhos, para sempre!” (Deuteronômio 5:28-29).

Mas eles não tinham tal coração. Deus não incluiu um novo coração, capacitado pelo Seu Espírito, como parte da promessa do direito de primogenitura. Essa benção viria mais tarde, como parte da promessa real que Deus deu a Judá, e Ele iria cumpri-la após a morte de Cristo (Isaías 53:11-12; ­Jeremias 31:31-33; Hebreus 8:3-12).

Observe o que Pedro disse séculos mais tarde quando Deus finalmente tornou o Espírito Santo acessível a todo o Seu povo naquela Festa de Pentecostes, depois da morte de Cristo. Ele exclamou: "Arrependei-vos, e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo para perdão dos pecados, e recebereis o dom do Espírito Santo. Porque a promessa vos diz respeito a vós, a vossos filhos e a todos os que estão longe: a tantos quantos Deus, nosso Senhor, chamar" (Atos 2:1, 38-39).

Visto que Deus não lhes deu o Espírito Santo, as pessoas da antiga Israel nunca foram totalmente capazes de viver de acordo com as leis de Deus e, portanto, tornarem-se um povo verdadeiramente santo. Sua natureza humana e as influências dos outros povos ao seu redor iriam desviá-los constantemente.

Até mesmo a geração que Deus tirou do Egito, através de grandes milagres, morreu na região despovoada do deserto do Oriente Médio, por causa de sua constante incredulidade, teimosia, queixas e desobediência. Deus não permitiu àquela geração herdar a terra que Ele havia prometido aos descendentes de Abraão. Aquelas pessoas estavam relutantes em refletir a santidade que Ele desejava.

Todavia, Deus manteve Sua promessa a Abraão e deu a terra da promessa a seus filhos sob a liderança de Josué. "Serviu, pois, Israel ao SENHOR todos os dias de Josué e todos os dias dos anciãos que ainda viveram muito depois de Josué e que sabiam toda a obra que o SENHOR tinha feito a Israel" (Josué 24:31).

Aqui se encontra uma importante lição. Somente por que uma geração do Seu povo era desobediente não significava que Deus iria desistir do que prometeu a seus filhos. Eles também são herdeiros de Sua promessa a Abraão.

Deus pode, por algum tempo, reter ou adiar as bênçãos que prometeu. Mas Ele eventualmente lhas daria. Ele sempre mantém Sua palavra. Por essa razão podemos estar certos de que Deus cumprirá as profecias bíblicas a respeito dos filhos de Israel nos últimos dias.

Israel torna-se um reino 

Nos séculos seguintes, Deus enviou profetas e juízes para liderar o povo e para lhes ensinar Seus caminhos e resolver suas divergências. Mas muitas vezes eles viravam as costas para Ele (Salmo 78:56-57). Eles não conseguiam corresponder às expectativas do compromisso de ser um povo santo. A Bíblia resume a era dos juízes nestas palavras: "Naqueles dias, não havia rei em Israel, porém cada um fazia o que parecia reto aos seus olhos” (Juízes 21:25).

Contudo, durante aquela era, e mais tarde, Deus ouvia suas orações em tempos de crise e lutava suas batalhas quando clamavam por Sua misericórdia (Salmo 106:39-45). "Porém o SENHOR teve misericórdia deles, e se compadeceu deles, e tornou para eles, por amor do seu aliança com Abraão, Isaque e Jacó; e não os quis destruir e não os lançou ainda da sua presença” (2 Reis 13:23).

Finalmente, Israel pediu ao profeta Samuel um rei. "Então, todos os anciãos de Israel se congregaram, e ... disseram-lhe: Eis que já estás velho, e teus filhos não andam pelos teus caminhos; constitui-nos, pois, agora, um rei sobre nós, para que ele nos julgue, como o têm todas as nações. Porém essa palavra pareceu mal aos olhos de Samuel, quando disseram: Dá-nos um rei, para que nos julgue. E Samuel orou ao SENHOR.

"E disse o SENHOR a Samuel: Ouve a voz do povo em tudo quanto te disser, pois não te tem rejeitado a ti; antes, a mim me tem rejeitado, para eu não reinar sobre ele. ... Agora, pois, ouve a sua voz, porém protesta-lhe solenemente e declara-lhe qual será o costume do rei que houver de reinar sobre ele” (1 Samuel 8:4-9).

Deus honrou o pedido deles e instruiu Samuel a ungir Saul—aparentemente um dos mais vistosos homens de Israel — como seu rei (1 Samuel 10:17-24). Deus estava disposto a preparar e apoiar o rei de Israel se ele se comportasse corretamente. Mas Saul tornou-se arrogante, teimoso e obstinado. Fisicamente, ele parecia ser tudo o que o povo poderia querer de um rei, mas seu coração não era reto perante Deus. Assim, Deus decidiu substitui-lo.

Mil anos depois, Paulo explicou assim: "E, quando este foi retirado, lhes levantou como rei a Davi, ao qual também deu testemunho e disse: Achei a Davi, filho de Jessé, varão conforme o meu coração, que executará toda a minha vontade. Da descendência deste, conforme a promessa, levantou Deus a Jesus para Salvador de Israel” (Atos 13:22-23).

O início da era de ouro de Israel

A história da ascensão de Israel a uma era de ouro durante o reinado de Davi e seu filho Salomão, e depois sua desintegração em dois reinos separados, é uma história tanto de triunfo como de tragédia mordaz.

Juntos estes eventos ressaltaram a fidelidade de Deus às Suas promessas e a tragédia da fraqueza humana. E também realçaram a necessidade de uma grande mudança no espírito humano e o retorno de Cristo como o único rei perfeito do mundo.

Durante o reinado de Davi e Salomão, Deus cumpriu Sua promessa de que os descendentes de Abraão governariam um vasto território no Oriente Médio, do Egito ao Rio Eufrates. Israel tornou-se uma nação imponente.

Mas, por causa dos pecados de Salomão e seus sucessores, como também das transgressões do próprio povo, Israel perdeu tudo nas décadas posteriores à morte de Salomão. Eis como aconteceu.

Davi tornou-se monarca das tribos de Israel em duas etapas. Primeiro, a tribo de Judá o ungiu rei em Hebrom (2 Samuel 2:3-4). Daquela cidade Davi reinou por aproximadamente sete anos antes de as outras tribos fazerem aliança com ele e aceitá-lo também como rei. Assim começou um período de unidade em Israel (2 Samuel 5:1-5; 1 Crônicas 11:3).

Como rei, Davi herdou um exército grande e dinâmico. Quase trezentos e cinquenta mil guerreiros armados das tribos de Israel estiveram presentes à sua cerimônia de coroação (1 Crônicas 12:23-40). Logo ele começou a dominar os vizinhos hostis que há anos incomodavam os israelitas.

Davi reinou um total de quarenta anos, trinta e três dos quais em Jerusalém, cidade que ele conquistou dos jebuseus e tornou capital de Israel. Seu governo deu início a ascensão de Israel à preeminência militar e econômica no Oriente Médio. Os historiadores modernos tendem a ignorar o registro bíblico e a subestimar imensamente o tamanho e a extensão dos reinos de Davi e Salomão.

Como explica o dicionário bíblico New Unger's Bible Dicionary: "A tendência dos estudiosos no passado tinha sido a de dar pouco crédito aos dados bíblicos do poder e glória de Salomão... A arqueologia provou a ampla extensão do império davídico-salomônico conforme apresentado nos livros de Reis. O principal fundo histórico do período davídico-salomônico também foi comprovado.

"A glória de Salomão costumava ser frequentemente rejeitada como um 'exagero semítico' ou um conto romântico. Até foi argumentado que um domínio tão vasto não poderia ter existido entre os grandes impérios como Egito, o Reino Hitita, Assíria e Babilônia. Os monumentos, entretanto, têm mostrado que durante o período de 1100 a 900 a.C. os grandes impérios ao redor de Israel estavam em declínio ou temporariamente inativos, assim Salomão pôde governar com o esplendor atribuído a ele na Bíblia" (1988, "Salomão").

A chave para o sucesso de Davi

Qual era a chave para o sucesso militar e político de Davi? Encontramos a resposta revelada no primeiro desafio militar que ele enfrentou após consolidar todas as tribos de Israel sob sua liderança.

"Ouvindo, pois, os filisteus que Davi fora ungido rei sobre Israel, subiram todos para prender a Davi; ouvindo-o, desceu Davi à fortaleza. Mas vieram os filisteus e se estenderam pelo vale dos Refains.

 “Davi consultou ao SENHOR, dizendo: Subirei contra os filisteus? Entregar-mos-ás nas mãos? Respondeu-lhe o SENHOR: Sobe, porque, certamente, entregarei os filisteus nas tuas mãos. Então, veio Davi a Baal-Perazim e os derrotou ali; e disse: Rompeu o SENHOR as fileiras inimigas diante de mim, como quem rompe águas” (2 Samuel 5:17-20, ARA).

Davi não precisou sair em busca de problemas. Eles vieram até ele. Mas quando chegaram Deus lhe deu a vitória. Conforme o tempo passava, seus inimigos formavam alianças entre si para derrotar o reino— mas falhavam em entender que esse reino foi estabelecido por Deus. Davi foi vitorioso até contra alianças de vizinhos hostis. "E Davi foi se tornando cada vez mais poderoso, pois o SENHOR dos Exércitos estava com ele" (1 Crônicas 11:9, NVI).

O sucesso de Davi era obra de Deus. Ele tornou-se o monarca mais poderoso do Oriente Médio naquela época. Contudo, ele não construiu monumentos em honra a si próprio como era costume de praticamente todos os outros reis da antiguidade. Por essa razão, já que seus feitos estão registrados somente na Bíblia, a maioria dos historiadores se recusa a reconhecer a proeminência de Israel sob o domínio de Davi e de seu filho e sucessor, Salomão.

Os críticos da Bíblia sugerem que há pouca evidência arqueológica para apoiar as reivindicações bíblicas da grandeza de Israel sob o domínio de Davi e Salomão. No entanto, a falta de evidência é perfeitamente compreensível à luz da história de Israel e da região.

Os exércitos batalharam e invadiram a área inúmeras vezes através dos séculos. Somente Jerusalém foi conquistada mais de vinte vezes, várias das quais envolveram sua total destruição. Os registros em pergaminho e papiros dos tempos antigos em Israel há muito se tornaram pó. Mas apesar de tais evidências especificas serem raras, de nenhuma maneira são inexistentes. À luz da perfeita exatidão da Bíblia em inúmeras áreas, não temos razão para questionar suas afirmativas acerca de Israel sob o domínio de Davi e Salomão. (Para mais informação acerca da precisão da Bíblia, você pode pedir ou baixar da internet o nosso livro A Bíblia Merece Confiança?)

Salomão herda um império

O Rei Salomão herdou de seu pai, Davi, um imenso, poderoso e próspero império no Oriente Médio. "Porque [Salomão] dominava sobre tudo quanto havia da banda de cá do rio Eufrates, de Tifsa [provavelmente a moderna Dibseh, onde o norte da Síria faz fronteira com o sul da Turquia] até Gaza [a cidade filistéia na costa mediterrânea], sobre todos os reis da banda de cá do rio; e tinha paz de todas as bandas em roda dele" (1 Reis 4:24).

Naquela época, o povo de Judá e Israel "era tão numeroso como os grãos de areia da praia do mar; eles comiam, bebiam e eram muito felizes. E Salomão governava todos os reinos, desde o Eufrates até a terra dos filisteus, chegando até a fronteira do Egito. Esses reinos traziam tributos [impostos] e foram submissos a Salomão durante toda a sua vida" (versículos 20-21, NVI).

Duas outras potências do Oriente Médio, Egito e Tiro (norte de Israel, na costa no atual Líbano) optaram em se tornar aliadas de Davi e Salomão, ao invés de atacarem Israel e se arriscarem a serem conquistadas. Estas duas potências expandiram grandemente o escopo do poder comercial e político de Israel, embora durante o reinado de Salomão suas influências culturais e religiosas também contribuiriam para o eventual colapso de Israel.

A aliança de Salomão com Hirão de Tiro provavelmente é a principal razão da importância histórica e do poder e influência de Israel terem sido obscurecidos na história ocidental. Os historiadores modernos, ao descreverem a influência universal do Império Fenício, centralizaram-no ao redor de Tiro e tendem a omitir que, sem dúvida, Salomão foi o poder da região mediterrânea oriental na época.

Israel e o Império Fenício

A Bíblia revela que a história de Israel e da Fenícia foi muito mais entrelaçada do que a maioria dos historiadores tem reconhecido. Em geral, elas prosperaram juntas nos bons tempos e sofreram juntas durante os maus tempos. Elas tinham inimigos comuns. E ascenderam ao poder internacional juntas, e, mais tarde, foram conquistadas pelo Império Assírio mais ou menos na mesma época.

O povo da área costeira ao redor de Tiro e Sidon compartilhava de um alfabeto e quase a mesma linguagem semítica com Israel. A não ser pelas pequenas diferenças culturais e dialéticas, as línguas pareciam ser idênticas.

O relacionamento especial de Israel com o Rei Hirão de Tiro começou durante o reinado de Davi (1 Crônicas 14:1) e continuou depois do reinado de Salomão. Os historiadores reconhecem Tiro como a principal cidade dos poderosos fenícios.

A Enciclopédia Encarta 1999 diz que os fenícios "tornaram-se os comerciantes e navegadores mais notáveis da antiguidade. As frotas das cidades costeiras viajaram por toda parte do Mediterrâneo e até no Oceano Atlântico, e outras nações concorreram para empregar navios e tripulações fenícias em suas esquadras ... as cidades-reinos fundaram várias colônias, notavelmente Utica e Cartago no norte da África, nas ilhas de Rodes e Chipre no Mar Mediterrâneo, e Tarshish no sul da Espanha. Tiro era a líder das cidades fenícias antes de ser subjugada, mais uma vez, pela Assíria durante o século VIII a.C." ("Fenícia").

Salomão expandiu muitíssimo a sociedade de Israel com Hirão. Parece que uma aliança de parentesco foi realizada formalmente entre os dois governantes, um "tratado de fraternidade" (Amós 1:9, NVI). Como veremos, aquele relacionamento demonstraria ser um dos erros mais trágicos de Salomão. Mas temporariamente ele aumentou grandemente a prosperidade de ambos os reinos, e foi esta sociedade que atingiu fama internacional como o Império Fenício.

Ao avaliar o poder e o prestígio dos poderosos fenícios, os historiadores tendem a não olhar além das cidades marítimas na costa do atual Líbano. Eles falham em reconhecer a sociedade que existiu entre Hirão de Tiro, e Davi e Salomão de Israel. Consequentemente, eles falham em ver que Davi e Salomão, não Hirão, eram os governantes dominantes da sociedade comercial que se tornou conhecida no mundo exterior como Fenícia.

A contribuição de Israel ao poder fenício

Em seu livro Lebanon Yesterday and Today ("Líbano Ontem e Hoje", sem título no Brasil), John Christopher descreve sucintamente a região que os historiadores consideram como a antiga Fenícia. "Quando a Fenícia estava no auge de seu poder, por volta de 1000 a.C. [durante o reinado de Davi e Salomão], as principais cidades-estados eram, de sul a norte, Tiro, Sidon, Biblos e Aradus (situada em uma ilha distante da costa síria além da fronteira libanesa)" (1966, p.43).

Mas antigamente a palavra Fenícia, às vezes, referia-se a muito mais que apenas essas poucas cidades costeiras. Incluía até mesmo grande parte da área interior da "terra de Canaã" que era o território da antiga Israel. Esta importante informação quase sempre é omitida nos registros históricos da antiga Fenícia.

Christopher explica: "Durante o terceiro milênio [a.C.], Biblos e a costa libanesa em geral eram frequentemente referidas como a terra de Canaã, e seus habitantes como cananitas. Algum tempo depois apareceram os termos mais familiares, Fenícia e fenícios. A Fenícia ocasionalmente se referia à região litoral da terra muito mais extensa de Canaã que estendia-se bastante ao interior" (p.41, ênfase do editor).

Do ponto de vista das cidades do litoral fenício, uma aliança de cooperação com Israel era uma necessidade geopolítica. Militarmente, Israel era a vizinha mais poderosa das cidades, poderosa demais para ser ignorada por Hirão de Tiro.

As conquistas de Davi das cidades de Edom, Moabe e Amon (atual Jordânia) e Arme (atual Síria) proporcionaram a Israel o controle sobre a maioria das principais rotas comerciais internas. Tiro e Sidon controlavam o comércio marítimo da região mediterrânea. A vulnerabilidade das cidades-portos fenícias era a quase total dependência do comércio para sua sobrevivência.

Israel era totalmente autossuficiente, produzindo grandes quantidades de produtos agrícolas de exportação como vinho, azeite de oliva e trigo. Mas a área costeira fenícia ao redor de Tiro e Sidon era montanhosa, restando pouca terra para a produção agrícola.

As cidades-portos de Tiro e Sidon compartilharam trabalhadores com Israel para a arrecadação de materiais para o templo de Israel (1 Reis 5:8-11, 18). Salomão até recrutou uma força de trabalho de trinta mil homens para trabalhar no Líbano para adquirir a madeira de lei destinada à construção do templo (versículos 13-14).

As cidades-portos fenícias também davam a Israel acesso direto aos vastos mercados internacionais através de seu controle marítimo do Mar Mediterrâneo. Os historiadores têm registros dos fenícios aventurando-se no Oceano Atlântico pelo menos até as Ilhas Britânicas, e alguns acreditam que eles viajavam muito mais além disso. Então, isso significa que Israel tinha o mesmo acesso a essas áreas.

As Escrituras até mencionam que duas tribos israelitas, Aser e Dã, haviam desenvolvido suas próprias habilidades marítimas muito antes dos dias de Davi e Salomão de Israel e do rei Hirão de Tiro (Juízes 5:17). Salomão construiu sua própria frota de navios e colocou-a na cidade-porto de Israel, Eziom-Geber (1 Reis 9:26), providenciando acesso econômico à África oriental e à Ásia pelos mares Vermelho e Arábico.

Embora os israelitas tivessem seus próprios navegadores experientes, os fenícios também os supriam com "marinheiros, conhecedores do mar, para trabalharem com os servos de Salomão," em suas aventuras marítimas comerciais (versículos 27-28). Para mais detalhes, leia "Comércio Internacional: Uma Fonte da Riqueza de Salomão", página XX.

Israel, sob o domínio de Davi e Salomão, era um sócio pleno na grandeza e fama internacional da Fenícia. A influência comercial e a política internacional de Salomão era bem maior do que os historiadores recentes têm compreendido. Durante essa época, provavelmente, alguns comerciantes de Israel se fixaram nas Ilhas Britânicas, estabelecendo pequenas colônias. Embora as informações históricas sobre este período sejam esparsas, muitas tradições antigas indicam que foi isso que aconteceu.

Por que Deus deu um império a Israel

Nos dias de Moisés, quando Israel veio a existir como nação, Deus explicou Seu propósito para fazer dos israelitas um povo influente e poderoso. Ele disse-lhes: "agora, pois, se diligentemente ouvirdes a minha voz e guardardes a minha aliança, então, sereis a minha propriedade peculiar dentre todos os povos; porque toda a terra é minha. E vós me sereis um reino sacerdotal e o povo santo” (Êxodo 19:5-6, ACF).

Deus pretendia usar Israel como uma nação modelo. Ele mandou Moisés dizer-lhes: "Nada acrescentareis à palavra que vos mando, nem diminuireis dela, para que guardeis os mandamentos do SENHOR, vosso Deus, que eu vos mando ... Guardai-os, pois, e fazei-os, porque esta será a vossa sabedoria e o vosso entendimento perante os olhos dos povos que ouvirão todos estes estatutos e dirão: Só este grande povo é gente sábia e inteligente" (Deuteronômio 4:2-6).

Deus queria que Israel fosse um exemplo para ensinar a outras nações os benefícios de obedecê-Lo — guardar fielmente Suas leis. Quando Deus estabeleceu Israel como uma grande nação Ele deu a Salomão uma sabedoria que excedia o entendimento dos outros governantes da região. Salomão ganhou fama internacional por sua sabedoria (1 Reis 4:29-34), e seus súditos ficaram aparentemente em paz em suas terras (ver "Com Justiça para Todos," página XX).  

Deus pretendia que a sabedoria de Seu caminho de vida e Suas leis estivessem disponíveis às outras nações. Ele deu a Israel uma oportunidade magnífica para enriquecer ou abençoar espiritualmente "todas as famílias da Terra," como tinha prometido a Abraão.

Mas nem Salomão nem o povo que ele liderou mantiveram seus olhos nesse objetivo. Os benefícios materiais de prosperidade, riqueza e fama se tornaram seu principal foco. Eles perderam a visão da razão de sua existência como nação.

Novamente, o problema era a natureza humana. Salomão rendeu-se progressivamente à sua fraqueza até que, no fim de sua vida, abandonou o grande Deus que tinha lhe dado um império. No próximo capítulo aprenderemos como isso aconteceu e suas consequências.