Uma Relação de Família

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"Eu lhe serei por Pai, e ele me será por Filho" (Hebreus 1:5).

Cerca de um terço do Novo Testamento consiste de citações e alusões óbvias ao Antigo Testamento. Essas referências não são casuais ou acidentais. Cada uma contém significado para nós e tem uma razão de estar lá.

Algumas dessas mais notáveis e esclarecedoras referências que nos ajudam a compreender a Deus encontram-se no livro de Hebreus e Atos. Nos primeiros capítulos do livro de Atos o apóstolo Pedro cita passagens dos Salmos para ilustrar o impressionante significado da ressurreição e da missão messiânica de Jesus. O autor do livro de Hebreus faz o mesmo nos capítulos 1 e 2 desta epístola.Essas passagens chave em Salmos contêm o testemunho seguro do Pai relativo a Seu Filho, Jesus de Nazaré. Nelas vemos que Deus Pai testificou antecipadamente sobre o espantoso futuro papel do Verbo.

O autor de Hebreus cita o Salmo 2: “Porque a qual dos anjos disse jamais: ‘Tu és meu Filho, hoje te gerei?’ E outra vez: ‘Eu lhe serei por Pai, e ele me será por Filho?”’ (Hebreus 1:5; comparar Salmo 2:7; 1 Crônicas 17:13). Este foi o destino profético do Verbo.

O Salmo 45:6 também mostra o Pai testemunhando sobre o Filho, como explica a citação de Hebreus 1:8: “Mas, do Filho, diz: Ó Deus, o teu trono subsiste pelos séculos dos séculos, ceptro de equidade é o ceptro do teu reino”.

Muitos, ao ler este capítulo de Hebreus, passam por cima desse versículo, deixando de perceber a sua enorme importância. O Pai chama o Seu Filho, Jesus Cristo, de Deus. Cristo não é apenas o Filho de Deus. Ele é Deus! Ele é um membro da família de Deus. As Escrituras revelam Deus em termos de uma relação de família—Deus Pai e Jesus, o Filho, formam em conjunto a família de Deus!

Anteriormente, vimos, em João 1:14, que o Verbo, Jesus Cristo, "se fez carne e habitou entre nós . . . como a glória do Unigênito do Pai". A palavra grega monogenees, traduzida por Unigênito neste versículo e no versículo 18, confirma a relação entre Deus Pai e Aquele que se tornou Jesus Cristo.

O escritor Spiros Zodhiates, autor de vários livros sobre a língua grega usada na Bíblia, diz: “A palavra monogenees na verdade é uma palavra composta pelo advérbio monos, ‘sozinho’, e o substantivo genos ‘raça, descendência, família’. E aqui nos é dito que Aquele que veio revelar Deus—Jesus Cristo—é da mesma família, descendência e raça de Deus . . . Há evidência de sobra nas Escrituras mostrando que o Deus Supremo é uma família . . . ” (Cristo era Deus? Uma Defesa da Divindade de Cristo [Was Christ God? A Defense of the Deity of Christ], 1998, pág. 21, grifo do autor).

Quem foi o Senhor de Davi?

Nesta conjuntura, devemos considerar que o rei Davi de Israel, que escreveu muitos dos salmos, incluindo, provavelmente, o Salmo 2, citado acima, também era um profeta (Atos 2:30). Deus lhe deu incríveis discernimentos sobre a natureza de Deus e Seu governo sobre toda a criação. Davi é chamado de "o homem que foi levantado em altura, o ungido do Deus de Jacó" (2 Samuel 23:1).

Ele foi um homem verdadeiramente inspirado pelo Espírito de Deus. Ele disse: “O Espírito do Senhor falou por mim, e a sua palavra esteve em minha boca” (versículo 2). O Criador revelou muitas verdades por intermédio de Davi e fez com que as suas palavras fossem preservadas nas Sagradas Escrituras—principalmente em muitos dos Salmos, mas também nos livros de Samuel, Reis e Crônicas.

Num dos salmos, especificamente identificado como tendo sido escrito por Davi, nos é dito: “Disse o Senhor ao meu Senhor: ‘Assenta-te à minha mão direita, até que ponha os teus inimigos por escabelo dos teus pés’” (Salmos 110:1). Diz O Novo Comentário Bíblico Revisado sobre uma referência a Jesus como "nosso Senhor" em Hebreus 7:14: “Observe a destacada descrição de Jesus como nosso Senhor. Aqui, há uma correspondência ao pensamento de Salmos 110:1, no qual Davi O trata por ‘Meu Senhor’” (1970, pág. 1203).

Neste notável salmo, o Pai fala para o Filho em visão profética—“Disse o Senhor ao meu [ao Senhor de Davi] Senhor…”.

Cerca de mil anos depois, o próprio Jesus deixou embaraçados os líderes religiosos de Seus dias com esta passagem. Eles entenderam que o Senhor imediato de Davi aqui era o Messias da profecia―o Cristo―um rei preeminente, descendente de Davi e governando como representante de Deus. Mas por que o descendente de Davi seria o seu Senhor? Observe a conversa:

"E, estando reunidos os fariseus, interrogou-os Jesus, dizendo: Que pensais vós do Cristo? De quem é filho? Eles disseram-lhe: De Davi. Disse-lhes ele: Como é, então, que Davi, em espírito, lhe chama Senhor, dizendo: Disse o Senhor ao meu Senhor: Assenta-te à minha direita, até que eu ponha os teus inimigos por escabelo de teus pés. Se Davi, pois, lhe chama Senhor, como é seu filho? E ninguém podia responder-lhe uma palavra, nem, desde aquele dia, ousou mais alguém interrogá-Lo" (Mateus 22:41-46).

Normalmente, um pai ancestral teria uma posição de Senhor sobre Seus descendentes―não ao contrário. E faz sentido quando percebemos que aquele que nasceria como descendente de Davi já era existente como o divino senhor de Davi e Ele mesmo estava sujeito a Deus Pai.

O apóstolo Pedro confirma a identidade desses dois seres: "Porque Davi não subiu aos céus [ele foi enterrado após sua morte e ainda aguarda a ressurreição], mas ele próprio diz: Disse o Senhor ao meu Senhor: Assenta-te à minha direita, até que ponha os teus inimigos por escabelo de teus pés" (Atos 2:34-35).

Lembre-se desta regra importante para compreender a Bíblia: Verifique o contexto. O versículo 36 identifica estes dois Seres: “Saiba, pois, com certeza, toda a casa de Israel que a esse Jesus, a quem vós crucificastes, Deus o fez Senhor e Cristo”. Isto está maravilhosamente claro! Estas passagens—em Salmos 110 e em Atos 2—falam profeticamente sobre os dois membros da família divina: o Pai e o Filho.

Um Reino governante

Há outro livro do Antigo Testamento que da mesma forma confirma a existência de dois Seres divinos. É o livro de Daniel. O profeta Daniel, um homem muitíssimo querido por Deus nos provê um revelador exame do reino celestial. Ainda que Deus seja um espírito (João 4:24), pelo que é normalmente invisível aos olhos humanos (Colossenses 1:15), foi permitido ao profeta ver esses dois Seres em sua mente. Tal como o apóstolo João séculos mais tarde assim Daniel teve uma visão dos acontecimentos no reino espiritual. 

“Eu continuei olhando, até que foram postos uns tronos, e um Ancião de Dias se assentou; a sua veste era branca como a neve, e o cabelo da sua cabeça, como a limpa lã” (Daniel 7:9). Daniel regista uma descrição impressionante do Pai. Exatamente como, mais tarde, Jesus revelou Deus Pai, enquanto um Ser espiritual, todavia tendo forma e aspecto (João 5:37).

Daniel também viu uma grande e fiel hoste angelical servindo constantemente o Pai. “Milhares de milhares o serviam, e milhões de milhões estavam diante dEle” (Daniel 7:10). Os anjos também são seres espirituais (Hebreus 1:7), no entanto também são representados com forma e aspecto. Mais tarde veremos mais seres espirituais tendo forma corporal.

Daniel continua: “Eu estava olhando nas minhas visões da noite, e eis que vinha nas nuvens do céu um como o Filho do Homem; e dirigiu-se ao Ancião de Dias [Deus Pai], e o fizeram chegar até ele” (Daniel 7:13). Uma vez e outra, no Novo Testamento, Jesus Ele mesmo se diz “o Filho do Homem”.

Tal como em Hebreus 1:8, Jesus é descrito em Daniel como possuidor de um reino: “Foi-lhe dado o domínio, e a honra, e o reino, para que todos os povos, nações e línguas o servissem” (Daniel 7:14).

No Novo Testamento, Apocalipse 20:4-6 retrata o milênio, os primeiros mil anos do governo utópico de Cristo e dos Seus santos. Daniel também descreve o Reino de Jesus: “ . . . o seu domínio é um domínio eterno, que não passará, e o seu reino, o único que não será destruído” (Daniel 7:14).

O justo reino de Cristo continuará muito além da fronteira do milênio. Isaías 9:6-7 nos diz que ele durará para sempre. Na verdade, por fim, o Reino de Deus denota um nível de existência à qual os seres humanos podem ascender através de uma transformação de carne a espírito (comparar João 3:3-8; 1 Coríntios 15:50-51).

Esta transformação implica em tornar-se membro glorificado da família de Deus. Assim, a família de Deus também é a família Reinante de Deus—o Reino de Deus.