"Graça e Paz": A Saudação de Paulo

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"Graça e Paz": A Saudação de Paulo

Hoje, nossas comunicações por escrito com outras pessoas são tão velozes e instantâneas (pense em mensagens de texto, e-mail ou mídia social) que raramente consideramos profundamente o impacto e o significado de nossas palavras. Mas as comunicações pessoais não foram sempre assim. Nos primórdios do tempo, os escritores costumavam pensar bastante nas palavras que iriam usar.

A Bíblia está cheia de muitos exemplos. Particularmente notável é a saudação que o apóstolo Paulo usa em cada uma de suas cartas, preservadas para nós na Bíblia, às congregações da igreja: “Graça a vós e paz, da parte de Deus, nosso Pai, e da do Senhor Jesus Cristo”. Paulo usa essa mesma saudação nos primeiros versículos de cada uma de suas cartas às igrejas, e ele usa essa mesma saudação ou um cumprimento bem semelhante ao escrever para pessoas como Timóteo e Tito.

O que Paulo queria dizer com essa saudação? Pelo fato de ele usar essas mesmas palavras em cada uma das epístolas que leva seu nome, devemos prestar muita atenção nelas — e no que elas significavam para Paulo e também para seu público.

Embora as palavras de Paulo sejam semelhantes à saudação comum usada nas cartas de falantes e escritores gregos de sua época, ele realmente cunhou uma nova frase que infundia um profundo significado. Com um pequeno ajuste nessas palavras comuns, e algumas expansões essenciais, ele transmitiu algumas grandes verdades espirituais que têm um profundo significado para os cristãos de dois mil anos atrás, e também os de hoje. Vamos examiná-las mais de perto.

“Graça a vós . . .”

Gordon Fee, professor de estudos do Novo Testamento e autor de muitos livros acadêmicos sobre a Bíblia, escreve sobre Filipenses 1:2 em Paul’s Letter to the Philippians: The New International Commentary on the New Testament  [Comentário da Epístola aos Filipenses]: “A saudação tradicional no mundo helenístico era chairein... significando simplesmente ‘Saudações!’...Pelas mãos de Paulo, isso agora se tornaria charis ('graça'), ao qual ele acrescenta a tradicional saudação judaica shalom ('paz', no sentido de 'plenitude' ou 'bem-estar'). Assim, em vez das 'saudações' comuns, Paulo saúda seus irmãos e irmãs em Cristo com 'graça a vós — e paz'”.

Essas palavras não eram incomuns, mas Paulo as preencheu de um significado novo e mais profundo. Ele cumprimentou seus irmãos com a graça e a paz de Deus Pai e Jesus Cristo. Isso transcendia a saudação comum e era exclusivamente cristão.

A graça, como declarou Paulo, veio de Deus Pai e de Jesus Cristo. Paulo entendeu que ela é um atributo divino, um conceito exclusivamente cristão não encontrado em outras religiões e sistemas de crenças. Além do cristianismo e do judaísmo, nenhuma outra religião ensina sobre um Deus que ama, aceita e perdoa os seres humanos não baseando-se no que fazemos, mas apesar do que fazemos. Deus, o Pai, e Jesus Cristo, o Filho, esbanjam amor pelos seres humanos, porque isso é quem Eles são. Deus é o amor personificado (1 João 4:8, 16).

Em diversos aspectos, a graça resume a interação de Deus com a humanidade e a mensagem do evangelho ou boas novas.

Paulo começa suas cartas com a inconfundível mensagem de que Deus é um Deus de graça. Então, ele diz a saudação da graça às igrejas de Deus para as quais escreveu. Nesse contexto, ele está dizendo-lhes: "Que a abundante e amorosa graça de Deus esteja com todos vocês".

Esse apóstolo sabia muito bem que Deus aproximou-se de nós pela graça. Assim, ele escreveu: "Enquanto ainda éramos pecadores, Cristo morreu por nós" (Romanos 5: 8). Como escreveu o apóstolo João: “E o Verbo se fez carne e habitou entre nós... cheio de graça e de verdade... a graça e a verdade vieram por Jesus Cristo” (João 1:14, 17).

João 3:16-17 acrescenta: “Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o Seu Filho unigênito, para que todo Aquele que nEle crê não pereça, mas tenha a vida eterna. Porque Deus enviou o Seu Filho ao mundo não para que condenasse o mundo, mas para que o mundo fosse salvo por Ele”. Através da morte sacrificial de Seu único Filho, Deus perdoa nosso pecado e nos reconcilia Consigo mesmo.

Deus “não poupou a Seu próprio Filho, mas O entregou por todos nós” (Romanos 8:32, NVI). Voluntariamente, Deus entregou Seu único Filho, e Jesus ofereceu, espontaneamente, Sua própria vida (João 10:17-18). Esse amor supremo é chamado de graça. A graça é dar tudo de bom àqueles que não merecem nada.

"E paz . . .”

E a próxima parte da saudação de Paulo de “Graça a vós e paz...” — Qual é o significado dessa menção à paz?

Certamente estamos mais familiarizados com a palavra paz do que graça. Paz é uma palavra comum, geralmente usada no sentido oposto da guerra. Enquanto as guerras ameaçam e inquietam as nações de todo o mundo, ouvimos regularmente sobre a necessidade de paz.

Mas o que Paulo tinha em mente ao usar essa palavra? Sendo judeu, Paulo conhecia bem a palavra hebraica shalom, que significa “paz”, usada mais de duzentas vezes na Bíblia. Ela era uma saudação hebraica comum na época e ainda é hoje. Mas shalom não era um vago desejo de cumprimentar ou simplesmente de que esteja indo bem com uma pessoa. Em relação a Deus, em hebraico significava reconciliar-se com Deus e ter a paz de Deus no coração.

Isso é algo que toda pessoa precisa muito. As preocupações e os temores impedem que muitos tenham paz interior. E o pecado nos separa de Deus (Isaías 59:2), criando conflito entre Ele e nós. Isso nos rouba a alegria e a paz com Deus (Salmos 51:10-12).

Enquanto escrevia essa saudação, Paulo se referia a uma paz interior, uma sensação de bem-estar e plenitude. Ele escreveu que essa paz vinha "de Deus Pai e do Senhor Jesus Cristo". Ele entendeu que "temos paz com Deus, por nosso Senhor Jesus Cristo...pela fé a esta graça” (Romanos 5:1-2). Portanto, realmente esta é uma paz de Deus e com Deus.

Primeiramente, Paulo menciona a graça e depois a paz, isso por uma boa razão — porque a paz flui da graça. Passamos a ter santidade e bem-estar depois de recebermos a graça de Deus. Essa paz é um profundo dom de Deus. Jesus disse: “Deixo-vos a paz, a Minha paz vos dou; não vo-la dou como o mundo a dá. Não se turbe o vosso coração, nem se atemorize” (João 14:27). Paulo escreveu que Cristo "é a nossa paz” (Efésios 2:14). Através dEle e de Seu sacrifício, temos paz com Deus.

A paz deve permear todos os aspectos da vida de um cristão. “Não andeis ansiosos”, escreveu Paulo, “em tudo, porém, sejam conhecidas, diante de Deus, as vossas petições, pela oração e pela súplica, com ações de graças. E a paz de Deus, que excede todo o entendimento, guardará o vosso coração e a vossa mente em Cristo Jesus” (Filipenses 4:6-7).

“Da parte de Deus, nosso Pai, e da do Senhor Jesus Cristo . . .”

Nessa recorrente saudação de Paulo, vemos que a fonte da verdadeira graça e paz é Deus Pai e Deus Filho, "o Senhor Jesus Cristo". E ambos são as principais fontes divinas da graça e paz.

Diferentemente das saudações daquela época, enviadas com os nomes dos deuses e deusas pagãos, Paulo enviava aos crentes cristãos saudações de "graça e paz" do verdadeiro Deus, a única fonte de verdadeira graça e paz. Paulo lhes ressaltou a graça e a paz que vêm de Deus Pai e de Jesus Cristo.

Como observa o professor Fee em seu comentário sobre Filipenses 1:2: “Em um sentido mais profundo, essa saudação representa muito bem a ampla perspectiva teológica de Paulo. A soma total da atividade de Deus em relação a suas criaturas humanas se encontra na palavra ‘graça’; em Cristo, Deus entregou-se a seu povo, de forma abundante e misericórdiosa”.