"Graça e Paz": A Saudação de Paulo

6 minutos tempo de leitura

Hoje, nossas comunicações por escrito com outras pessoas são tão velozes e instantâneas (pense em mensagens de texto, e-mail ou mídia social) que raramente consideramos profundamente o impacto e o significado de nossas palavras. Mas as comunicações pessoais não foram sempre assim. Nos primórdios do tempo, os escritores costumavam pensar bastante nas palavras que iriam usar.

Hoje, nossas comunicações por escrito com outras pessoas são tão velozes e instantâneas (pense em mensagens de texto, e-mail ou mídia social) que raramente consideramos profundamente o impacto e o significado de nossas palavras. Mas as comunicações pessoais não foram sempre assim. Nos primórdios do tempo, os escritores costumavam pensar bastante nas palavras que iriam usar.

A Bíblia está cheia de muitos exemplos. Particularmente notável é a saudação que o apóstolo Paulo usa em cada uma de suas cartas, preservadas para nós na Bíblia, às congregações da igreja: “Graça a vós e paz, da parte de Deus, nosso Pai, e da do Senhor Jesus Cristo”. Paulo usa essa mesma saudação nos primeiros versículos de cada uma de suas cartas às igrejas, e ele usa essa mesma saudação ou um cumprimento bem semelhante ao escrever para pessoas como Timóteo e Tito.

O que Paulo queria dizer com essa saudação? Pelo fato de ele usar essas mesmas palavras em cada uma das epístolas que leva seu nome, devemos prestar muita atenção nelas — e no que elas significavam para Paulo e também para seu público.

Embora as palavras de Paulo sejam semelhantes à saudação comum usada nas cartas de falantes e escritores gregos de sua época, ele realmente cunhou uma nova frase que infundia um profundo significado. Com um pequeno ajuste nessas palavras comuns, e algumas expansões essenciais, ele transmitiu algumas grandes verdades espirituais que têm um profundo significado para os cristãos de dois mil anos atrás, e também os de hoje. Vamos examiná-las mais de perto.

“Graça a vós . . .”

Gordon Fee, professor de estudos do Novo Testamento e autor de muitos livros acadêmicos sobre a Bíblia, escreve sobre Filipenses 1:2 em Paul’s Letter to the Philippians: The New International Commentary on the New Testament  [Comentário da Epístola aos Filipenses]: “A saudação tradicional no mundo helenístico era chairein... significando simplesmente ‘Saudações!’...Pelas mãos de Paulo, isso agora se tornaria charis ('graça'), ao qual ele acrescenta a tradicional saudação judaica shalom ('paz', no sentido de 'plenitude' ou 'bem-estar'). Assim, em vez das 'saudações' comuns, Paulo saúda seus irmãos e irmãs em Cristo com 'graça a vós — e paz'”.

Essas palavras não eram incomuns, mas Paulo as preencheu de um significado novo e mais profundo. Ele cumprimentou seus irmãos com a graça e a paz de Deus Pai e Jesus Cristo. Isso transcendia a saudação comum e era exclusivamente cristão.

A graça, como declarou Paulo, veio de Deus Pai e de Jesus Cristo. Paulo entendeu que ela é um atributo divino, um conceito exclusivamente cristão não encontrado em outras religiões e sistemas de crenças. Além do cristianismo e do judaísmo, nenhuma outra religião ensina sobre um Deus que ama, aceita e perdoa os seres humanos não baseando-se no que fazemos, mas apesar do que fazemos. Deus, o Pai, e Jesus Cristo, o Filho, esbanjam amor pelos seres humanos, porque isso é quem Eles são. Deus é o amor personificado (1 João 4:8, 16).

Em diversos aspectos, a graça resume a interação de Deus com a humanidade e a mensagem do evangelho ou boas novas.

Paulo começa suas cartas com a inconfundível mensagem de que Deus é um Deus de graça. Então, ele diz a saudação da graça às igrejas de Deus para as quais escreveu. Nesse contexto, ele está dizendo-lhes: "Que a abundante e amorosa graça de Deus esteja com todos vocês".

Esse apóstolo sabia muito bem que Deus aproximou-se de nós pela graça. Assim, ele escreveu: "Enquanto ainda éramos pecadores, Cristo morreu por nós" (Romanos 5: 8). Como escreveu o apóstolo João: “E o Verbo se fez carne e habitou entre nós... cheio de graça e de verdade... a graça e a verdade vieram por Jesus Cristo” (João 1:14, 17).

João 3:16-17 acrescenta: “Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o Seu Filho unigênito, para que todo Aquele que nEle crê não pereça, mas tenha a vida eterna. Porque Deus enviou o Seu Filho ao mundo não para que condenasse o mundo, mas para que o mundo fosse salvo por Ele”. Através da morte sacrificial de Seu único Filho, Deus perdoa nosso pecado e nos reconcilia Consigo mesmo.

Deus “não poupou a Seu próprio Filho, mas O entregou por todos nós” (Romanos 8:32, NVI). Voluntariamente, Deus entregou Seu único Filho, e Jesus ofereceu, espontaneamente, Sua própria vida (João 10:17-18). Esse amor supremo é chamado de graça. A graça é dar tudo de bom àqueles que não merecem nada.

"E paz . . .”

E a próxima parte da saudação de Paulo de “Graça a vós e paz...” — Qual é o significado dessa menção à paz?

Certamente estamos mais familiarizados com a palavra paz do que graça. Paz é uma palavra comum, geralmente usada no sentido oposto da guerra. Enquanto as guerras ameaçam e inquietam as nações de todo o mundo, ouvimos regularmente sobre a necessidade de paz.

Mas o que Paulo tinha em mente ao usar essa palavra? Sendo judeu, Paulo conhecia bem a palavra hebraica shalom, que significa “paz”, usada mais de duzentas vezes na Bíblia. Ela era uma saudação hebraica comum na época e ainda é hoje. Mas shalom não era um vago desejo de cumprimentar ou simplesmente de que esteja indo bem com uma pessoa. Em relação a Deus, em hebraico significava reconciliar-se com Deus e ter a paz de Deus no coração.

Isso é algo que toda pessoa precisa muito. As preocupações e os temores impedem que muitos tenham paz interior. E o pecado nos separa de Deus (Isaías 59:2), criando conflito entre Ele e nós. Isso nos rouba a alegria e a paz com Deus (Salmos 51:10-12).

Enquanto escrevia essa saudação, Paulo se referia a uma paz interior, uma sensação de bem-estar e plenitude. Ele escreveu que essa paz vinha "de Deus Pai e do Senhor Jesus Cristo". Ele entendeu que "temos paz com Deus, por nosso Senhor Jesus Cristo...pela fé a esta graça” (Romanos 5:1-2). Portanto, realmente esta é uma paz de Deus e com Deus.

Primeiramente, Paulo menciona a graça e depois a paz, isso por uma boa razão — porque a paz flui da graça. Passamos a ter santidade e bem-estar depois de recebermos a graça de Deus. Essa paz é um profundo dom de Deus. Jesus disse: “Deixo-vos a paz, a Minha paz vos dou; não vo-la dou como o mundo a dá. Não se turbe o vosso coração, nem se atemorize” (João 14:27). Paulo escreveu que Cristo "é a nossa paz” (Efésios 2:14). Através dEle e de Seu sacrifício, temos paz com Deus.

A paz deve permear todos os aspectos da vida de um cristão. “Não andeis ansiosos”, escreveu Paulo, “em tudo, porém, sejam conhecidas, diante de Deus, as vossas petições, pela oração e pela súplica, com ações de graças. E a paz de Deus, que excede todo o entendimento, guardará o vosso coração e a vossa mente em Cristo Jesus” (Filipenses 4:6-7).

“Da parte de Deus, nosso Pai, e da do Senhor Jesus Cristo . . .”

Nessa recorrente saudação de Paulo, vemos que a fonte da verdadeira graça e paz é Deus Pai e Deus Filho, "o Senhor Jesus Cristo". E ambos são as principais fontes divinas da graça e paz.

Diferentemente das saudações daquela época, enviadas com os nomes dos deuses e deusas pagãos, Paulo enviava aos crentes cristãos saudações de "graça e paz" do verdadeiro Deus, a única fonte de verdadeira graça e paz. Paulo lhes ressaltou a graça e a paz que vêm de Deus Pai e de Jesus Cristo.

Como observa o professor Fee em seu comentário sobre Filipenses 1:2: “Em um sentido mais profundo, essa saudação representa muito bem a ampla perspectiva teológica de Paulo. A soma total da atividade de Deus em relação a suas criaturas humanas se encontra na palavra ‘graça’; em Cristo, Deus entregou-se a seu povo, de forma abundante e misericórdiosa”.

Course Content

Studying the bible?

Sign up to add this to your study list.