“Não Estais Debaixo da Lei, Mas Debaixo da Graça"

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“Não Estais Debaixo da Lei, Mas Debaixo da Graça"

Muitas pessoas destacam Romanos 6:14, que diz: "Não estais debaixo da lei, mas debaixo da graça", para argumentar que os cristãos, estando sob a graça, não precisam mais obedecer à lei de Deus.

Mas é isso mesmo que significa esse versículo? Precisamos somente ler os próximos dois versículos para entender que o apóstolo Paulo ridiculariza essa ideia! Ele escreve: “Pois quê? Pecaremos porque não estamos debaixo da lei, mas debaixo da graça? De modo nenhum! Não sabeis vós que a quem vos apresentardes por servos para lhe obedecer, sois servos daquele a quem obedeceis, ou do pecado para a morte, ou da obediência para a justiça?” (versículos 15-16).

Algumas pessoas supuseram que a graça significava poder continuar vivendo um estilo de vida pecaminoso. Paulo rejeita essa ideia, dizendo que o pecado é uma forma de escravidão que leva à morte.

Mas o que Paulo quer dizer com "debaixo da lei" e "debaixo da graça"? Quando o significado de uma passagem da Bíblia não está claro, primeiro devemos ler o contexto — os versículos antes e depois. Geralmente, isso ajuda a esclarecer qualquer conflito. Às vezes, precisaremos ler o capítulo inteiro, ou até mesmo todo o livro ou ver como determinada linguagem é usada em outro lugar para entender o contexto.

Na verdade, é interessante notar que a epístola aos romanos — a carta que alguns teólogos equivocados mais citam para argumentar que Paulo rejeitou o Antigo Testamento como sendo válido para os cristãos — é que tem o maior número de citações do Antigo Testamento usadas por Paulo para apoiar seus ensinamentos! Paulo cita ou parafraseia o Antigo Testamento 84 vezes nessa epístola — uma média de mais de cinco vezes por capítulo!

Portanto, não faz sentido argumentar que, em Romanos, Paulo está argumentando contra a validade ou a autoridade do Antigo Testamento ou das leis de Deus ali escritas. Ao todo, Paulo cita ou parafraseia 184 passagens do Antigo Testamento em seus escritos (sem contar outras 83 citações no livro de Hebreus, que ele, provavelmente, também escreveu), e esse número não inclui outras dezenas de referências a pessoas, lugares e eventos do Antigo Testamento. Em sã consciência, quem citaria uma fonte como principal respaldo de seus ensinamentos e, ao mesmo tempo, argumentaria que essa fonte não é mais válida ou autorizada? Obviamente isso não faz sentido. (Isso é abordado em detalhes em nosso guia de estudo bíblico gratuito A Nova Aliança: A Lei de Deus Foi Abolida?).

Que assunto Paulo está tratando?

Voltando ao contexto de Romanos 6 — qual o assunto Paulo está realmente tratando? Nos versículos 1-2, Paulo nos diz: “Que diremos, pois? Permaneceremos no pecado, para que a graça seja mais abundante? De modo nenhum! Nós que estamos mortos para o pecado, como viveremos ainda nele?”

A questão ou assunto que ele está abordando é simples: Um cristão “morto para o pecado” — ao reconhecer que seu pecado merece pena de morte e ao arrepender-se sinceramente e ser batizado, simbolizado pelo sepultamento do antigo eu numa cova de água, ressurgindo, também simbolicamente, para uma nova vida como uma pessoa totalmente nova, agora guiada pelo Espírito de Deus — pode continuar em uma vida de pecados? A resposta de Paulo é franca e simples: “De modo nenhum!".

Então, de forma alguma a graça anula, invalida ou nega a lei de Deus. Conforme explicado neste capítulo, a lei de Deus, na verdade, é outro dom da graça de Deus para a humanidade — revela o pensamento, o caráter e a mente de Deus e mostra-nos como Ele deseja que vivamos nossa vida! O capítulo mais extenso da Bíblia, o Salmo 119, é um longo hino de louvor e graças a Deus pela sabedoria de Sua lei e pelas bênçãos que ela traz para aqueles que a obedecem. A graça e a lei não se contradizem, na verdade, elas se complementam mutuamente!

Após os primeiros versículos de Romanos 6, Paulo entra em uma discussão detalhada sobre dois estilos de vida. Um deles é a nossa antiga maneira de viver, que leva à escravidão do pecado, ao sofrimento e à morte (“porque o pecado é a transgressão da lei de Deus”, 1 João 3:4, ARA). O outro, continuando em Romanos 6, é o de “morrer com Cristo” (versículo 8), aceitando Seu sacrifício para pagar a pena de morte que merecemos, morrendo e sendo sepultado simbolicamente com Ele no batismo, depois saindo daquele túmulo de água “em novidade de vida” (versículo 4), agora passando a viver “para Deus, em Cristo Jesus, nosso Senhor” (versículo 11).

Agora, vivendo uma nova vida guiada pelo Espírito Santo de Deus, não devemos permitir que “o pecado em vosso corpo mortal, para lhe obedecerdes em suas concupiscências . . . mas apresentai-vos a Deus, como vivos dentre mortos” (versículos 12-13).

O cerne da questão

Então chegamos à principal declaração de Paulo no versículo 14: “Porque o pecado não terá domínio sobre vós, pois não estais debaixo da lei, mas debaixo da graça".

Considerando todo o contexto que levou a isso, o que Paulo quis dizer está claro. Para um cristão, “o pecado não terá domínio sobre vós” — porque os cristãos são libertados da escravidão do pecado (livres do “domínio” do pecado), pois Cristo morreu por nós e agora estamos “mortos para o pecado, mas vivos para Deus, em Cristo Jesus, nosso Senhor” (versículo 11). O pecado já não nos escravizava mais. Nós escapamos de seu poder e de sua pena de morte.

“Pois não estais debaixo da lei, mas debaixo da graça”. Até aqui, em todo o capítulo, Paulo comparou e contrastou um caminho de vida pecaminoso, que leva à morte, com o caminho de receber e aceitar o dom da graça e misericórdia de Deus, que leva a um novo estilo de vida e à vida eterna.

E agora ele compara e contrasta dois resultados muito diferentes. "Debaixo da lei", nesse contexto, refere-se a estar sob a pena da lei — que, como ele mencionou em quase todos os versículos até aqui, significa a morte. A lei exigia a morte como punição pelo pecado. E isso nunca mudou. O que mudou foi que, pela graça de Deus, Jesus Cristo se esvaziou da glória, esplendor, majestade e poder que compartilhava com Deus Pai e veio à Terra como um ser humano para receber essa terrível pena sobre Si mesmo em nosso lugar (Filipenses 2:5-8; 1 Pedro 1:18-19).

Por causa desse supremo sacrifício em nosso favor e Sua ressurreição dele dentre os mortos — também mencionados em quase todos os versículos deste capítulo até agora — não estamos mais sob a pena de morte, mas "debaixo da graça". Na graça de Deus, que nos chamou para Sua verdade, perdoou nossos pecados pelo sacrifício de Seu Filho e nos oferece ressurreição para a vida eterna, assim como Jesus Cristo ressuscitou à vida eterna.

aulo continua explicando sobre a única resposta lógica para a vida daqueles que experimentam e reconhecem esse grande dom da graça de Deus: “Mas graças a Deus que, tendo sido servos do pecado, obedecestes de coração à forma de doutrina a que fostes entregues. E, libertados do pecado, fostes feitos servos da justiça” (versículos 17-18).

Demonstrando uma profunda gratidão, nossa resposta a Deus é a de tornar-se “escravos da justiça” — totalmente comprometidos e dedicados ao nosso novo Mestre, rejeitando completamente nosso antigo mestre do pecado e da morte. Portanto, estar debaixo da graça não significa não ter a obrigação de obedecer à lei de Deus. Estar debaixo da graça significa estar livres da pena da lei, por tê-la transgredida, para que possamos ter uma nova vida e viver em obediência à lei, seguindo a Jesus Cristo como Governante de nossas vidas!

Paulo resume o ponto dessa discussão no último versículo desse capítulo, no versículo 23: “Porque o salário do pecado é a morte, mas o dom gratuito de Deus é a vida eterna, por Cristo Jesus, nosso Senhor”. A palavra “dom” aqui é uma tradução da palavra grega charisma, que está intimamente ligada à palavra charis, que significa “graça”. E charisma também significa “presente” — neste caso, o presente é a “vida eterna, por Cristo Jesus, nosso Senhor” — o supremo dom da graça de Deus!