Alcançando a Paz Impossível

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Alcançando a Paz Impossível

Você se lembra da rima infantil "Humpty Dumpty"? Era assim: "Humpty Dumpty sentou em um muro, Humpty Dumpty caiu no chão duro. Todos os homens e cavalos do rei não conseguiram juntá-lo de novo".

Mas para algumas pessoas essas palavras são mais do que uma rima. Pois, descreve a realidade que estão enfrentando atualmente.

Quando se trata de relações humanas, podemos ser um Humpty Dumpty quebrado ou podemos ser "todos os homens do rei" que não conseguem juntar novamente os pedaços dessas relações. "Impossível!" Pode ser a palavra que surge em sua mente e se encontra arraigada profundamente em seu coração. Assim, apenas olhamos para as rachaduras e fissuras que nos separam de outras pessoas em vez de buscar a esperança nas respostas de Deus.

Jesus disse: "Bem-aventurados os pacificadores, porque eles serão chamados filhos de Deus" (Mateus 5:9). A paz não pode ser fabricada no vácuo do pensamento positivo. Tem que ser feita — por uma palavra, um coração, um motivo piedoso, uma pessoa de cada vez. E vai ter custo para alguém — o pacificador que se arriscou e aplicou seu coração a isso.

"Mas", você pode estar dizendo, "é tarde demais!" Não, não é. Você simplesmente está se entregando ao fracasso cedo demais. Toda a Escritura revela ao contrário — que o extremo do homem é apenas o começo da oportunidade de Deus agir em nós e através de nós.

Então, como vamos aprender a fazer a paz além do aparentemente impossível? Como podemos anuir à admoestação encorajadora de seguir a Jesus Cristo?

Juntando os cacos

Podemos ver o caminho para a paz de Jesus expressado por um homem que ama, se preocupa e encoraja os outros a juntar os cacos e restaurar um relacionamento fragmentado. Essa é a história de três homens cristãos. Mas aqui reside o conflito — um era prisioneiro, outro senhor de escravos e o terceiro era um escravo fugitivo.

Essa é a história do apóstolo Paulo, prisioneiro em Roma, de um senhor de escravos chamado Filemom e um escravo chamado Onésimo. Aqui descobrimos a aplicação prática da sabedoria expressa em Provérbios 25:11: "Como maçãs de ouro em salvas de prata, assim é a palavra dita a seu tempo". Aqui encontramos a realidade espiritual de nosso mundo humano, onde viver "em Cristo" é a chave para fazer a paz além do impossível.

O quanto era impossível essa situação confrontada por esses três homens? O Império Romano, onde viviam, tinha aproximadamente 250 milhões de habitantes. Estima-se que um quarto ou metade da população era de escravos. Alguns trabalhavam em pedreiras ou nas galés, outros eram empregados domésticos e alguns eram professores e até mesmo burocratas do governo, mas todos eram escravos.

O filósofo grego Aristóteles observou, fundamentado em sua obra chamada Política, que um escravo era um “objeto de propriedade e instrumento de produção", que pertencia a outros. Essa consentida classificação cultural e força motriz econômica foram mantidas intactas pela força bruta.

Nessa carta de Paulo a Filemom, o apóstolo buscar romper os laços do medo e juntar novamente o escravo fugitivo Onésimo e seu proprietário Filemom como na clássica confusão de "Humpty Dumpty".

No primeiro versículo, Paulo inicia sua carta lembrando a Filemom que ele mesmo está privado de liberdade, já que é um "prisioneiro de Cristo Jesus" e não apenas de Roma. Esse começo é um chamado de alerta para Filemom entender que nada acontece alheio à vontade de Deus — nem mesmo as limitações físicas de Paulo.

Embora sendo um prisioneiro, Paulo oferece bênçãos e dons, não de si mesmo, mas de Deus para o senhor de escravos. Ele oferece as bênçãos de Deus ideadas em dois grandes cumprimentos do mundo antigo — "graça" (charis, em grego), usado pelo povo helenista, e "paz" (shalom, em hebraico), mas aqui traduzido em grego como eirene, que significa reconciliação entre os homens.

Assim é como Paulo começa e termina sua carta, condizendo sua petição nos pontos de apoio dos dons de Deus. Ele lembra a Filemom que Deus continua cuidando daquela vida que pode passar por momentos tempestuosos e águas agitadas, mas que respostas virão para se manter uma paz interior, independente do que possa vir à frente.

Ele passa a dizer o que Filemom e sua família têm feito, gentilmente, pela congregação da igreja local, que se encontra na casa deles (versículo 2) e que sua reputação é de "amor e fé... para com o Senhor Jesus e para com todos os santos" (versículo 5, grifo nosso).

Mas Paulo deixa claro que essa bondade é "em Cristo Jesus" (versículo 6). Há algo naquela atitude além de mera bondade humana. Agora Paulo vai afastar Filemom para longe de sua zona de conforto. Lembra-se das palavras de Paulo sobre o "amor e fé de Filemom... para com todos os santos"? Pois, Filemom está prestes a descobrir o que realmente significa "todos"!

Movendo corpos e corações

Somente nos versículos 8-10 é que Paulo faz sabiamente seu gentil apelo (não uma reclamação): "Por isso, mesmo tendo em Cristo plena liberdade para mandar que você cumpra o seu dever, prefiro fazer um apelo com base no amor... apelo em favor de meu filho [figurativamente falando] Onésimo, que gerei enquanto estava preso" (NVI).

Paulo percebeu que tinha de mover mais do que corpos naquele momento — ele precisava mover corações!

Ele compartilha com Filemom a reviravolta incrível ocorrida na vida privada de Onésimo. O nome Onésimo significa literalmente "produtivo", somente agora ele está realmente vivendo assim, que é mutuamente benéfico para ambos, Paulo e seu mestre em causa, — que Paulo está "mandando-o de volta" e diz Filemom para receber aquele homem que Paulo agora chama de "meu próprio coração" (versículos 11-12).

Paulo está colocando sua "pele em jogo" — e aplicando seu coração nessa causa. O apóstolo menciona que, na verdade, gostaria de manter Onésimo consigo, mas a decisão cabia a Filemom, e nada deveria ser feito sem seu consentimento, sem pressão, e sim de forma estritamente voluntária (versículo 14).

Paulo, em seguida, adiciona palavras que aludem à passagem de Romanos 8:28, que diz: "Todas as coisas concorrem para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito". Ele propõe a Filemom: "Talvez ele [Onésimo] tenha sido separado de você por algum tempo, para que você o tivesse de volta para sempre, não mais como escravo, mas, acima de escravo, como irmão amado. Para mim ele é um irmão muito amado, e ainda mais para você, tanto como pessoa quanto como cristão" (versículos 15-16, NVI).

Aqui Paulo toca o coração e a mente de Filemom, além dessa inconveniência momentânea e dos possíveis desafios à frente.

Como chegamos ao mundo?

O retorno de Onésimo ao seu senhor e a aceitação de Filemom era algo incrivelmente desafiador naquela época. Os escravos fujões, quando recuperados, poderiam ser duramente castigados, marcados com as letras "FUG" (do latim fugitivis, que significa fugitivo) ou até mesmo mortos por crucificação. Afinal de contas, os escravos eram apenas uma "ferramenta", segundo Aristóteles, e esse sistema era mantido através do medo.

Sem dúvida, Onésimo tinha tudo a perder. Por outro lado, Filemom poderia ser condenado ao ostracismo por seus concidadãos ao ser muito leniente com um escravo fugitivo. E isso poderia pôr em risco sua família ou sua carreira.

Há sempre um risco humano e um desafio espiritual em seguir e obedecer a Cristo — não apenas naquele tempo, mas também hoje em dia quando buscamos soluções para juntar o "Humpty Dumpty" dos relacionamentos rompidos ou cuidar das cicatrizes.

Seu apelo era no sentido de Filemom ser um "amado companheiro de trabalho" (versículo 1) e "irmão" (versículo 7), e Onésimo como um "filho" (versículo 10), e, mais uma vez, Filemom, agora como "um companheiro", deveria receber Onésimo como ao próprio Paulo (versículo 17), como vemos a linguagem, o tom e a revelação se resumem a falas de Paulo em outras passagens: "Pois todos sois filhos de Deus pela fé em Cristo Jesus. Porque todos quantos fostes batizados em Cristo vos revestistes de Cristo. Não há judeu [Paulo] nem grego; não há escravo [Onésimo] nem livre [Filemom]; não há homem nem mulher; porque todos vós sois um em Cristo Jesus" (Gálatas 3:26-28).

A realidade na época do Império Romano tornava impraticável para Paulo e para os cristãos incipientes terem comunhão e enfrentar a cultura vigente e as circunstâncias que afetavam esses dois homens. Mas sua cultura pessoal, com a qual eles decidiram anuir e lidar uns com os outros, certamente, poderia proporcionar o reconhecimento de que Deus, através de Cristo, está fazendo algo milagroso.

Deus realmente cria uma nova identidade e um novo caminho para a pessoa seguir na vida e lidar com esses momentos de "Humpty Dumpty", que nos paralisam e nos impedem de avançar. Paulo diz em 2 Coríntios 5:17: "Pelo que, se alguém está em Cristo, nova criatura é; as coisas velhas já passaram; eis que tudo se fez novo".

Paulo, como uma ponte humana entre esses dois homens afastados, começa a concluir dizendo a Filemom: “Sim, irmão, eu quisera regozijar-me de ti no Senhor; reanima o meu coração em Cristo" (versículo 20). Antes, Paulo tinha relembrado a reputação de Filemom, mas agora o apóstolo está pedindo para Filemom ponderar atenciosamente como irá responder ao seu apelo de reconciliação.

Ele encoraja Filemom a avançar, afirmando: “Escrevo-te confiado na tua obediência, sabendo que farás ainda mais do que peço" (versículo 21).

"Portanto"

Paulo conclui essa carta, escrita de próprio punho, (versículo 19), remetendo às palavras iniciais — "a graça do Senhor Jesus Cristo seja com o vosso espírito" (versículo 25). Ele lembra a Filemom que a iniciativa, o chamado e o envolvimento de Deus em sua vida são coisas que ele nunca poderia alcançar ou ganhar por conta própria — é um presente.

Sempre é bom ser lembrado onde Deus nos encontrou, quando éramos escravos do pecado (Romanos 6:17, 20, 22). Agora era hora de transmitir isso para Onésimo! Paulo, agora preso, que também poderia perder tudo, inclusive a própria vida, reconheceu que uma das maiores formas de escravidão é estar preso ao passado, paralisado no presente e atemorizado quanto ao que pode ocorrer no futuro. Ele apelou para que Filemom pense de uma maneira distinta à natureza humana.

Paulo escreveu sua carta a Filemom encorajando-o a aceitar Onésimo, seu escravo fugitivo, como seu irmão — e incumbiu a Onésimo a entregar essa carta nas mãos de Filemom.

Cristo sabia que precisaríamos de toda a ajuda possível do alto para lidar com o "Humpty Dumptys" da vida aqui embaixo. É por isso que Ele nos deixou esta promessa: “Deixo-vos a paz, a Minha paz vos dou; Eu não vo-la dou como o mundo a dá. Não se turbe o vosso coração, nem se atemorize" (João 14:27).

Com essa promessa em mente, eu o deixo preenchendo esses espaços em branco de sua vida, à medida que permita que Deus escreva Sua história em você, tornando possível o impossível, enquanto você continua atendendo ao chamado de seguir a Cristo. BN