O Lado Humano da Tragédia na Ucrânia
Mais de cinco milhões de ucranianos — principalmente mulheres, crianças e idosos — foram deslocados de suas casas por causa da bárbara invasão russa à Ucrânia. As forças russas atacaram áreas civis indefesas, atingindo prédios residenciais, escolas e hospitais.
Alguns estrangeiros que pensam em se juntar à luta contra esses agressores enfrentam as ameaças de Putin de usar armas nucleares, o que levaria à Terceira Guerra Mundial e traria o apocalipse à nossa porta. Os russos já usaram avançados mísseis hipersônicos e cresce o temor do uso de armas químicas. E todos nós assistimos impotentes e incrédulos a continuidade dessa carnificina não vista desde o tempo de Stalin e Hitler. Agora só podemos esperar que, de alguma forma, isso acabe logo.
Massas de refugiados foram acolhidas pelas vizinhas Polônia, Eslováquia, Romênia e Hungria, e também por outros países. E os homens ucranianos com menos de sessenta anos de idade não podem deixar o país, pois devem ficar para defendê-lo. O Reino Unido, Canadá e outros iniciaram programas para acolher esse crescente número de exilados.
Minha história com refugiados ucranianos
Eu sou um estadunidense de origem ucraniana e falo fluentemente o idioma inglês. Eu e meus pais fizemos parte de uma leva de milhões de refugiados da Europa pós-Segunda Guerra Mundial. Providencialmente, meus pais acabaram em um campo de refugiados das Nações Unidas na Alemanha, onde nasci. Eles ficaram ali por quatro anos antes de serem reassentados permanentemente nos Estados Unidos.
Agora, mais de setenta anos depois, estou envolto em uma nova crise de refugiados ucranianos, levando alívio às pessoas que deixaram a Ucrânia e também àquelas que permaneceram lá.
À medida que ia crescendo, eu tive aulas de idioma, história, religião e cultura ucranianas, assim absorvi o pathos (experiência) desse povo. Ao longo dos anos, eu vi uma Ucrânia oprimida definhando sob o jugo do ímpio e dominador comunismo soviético.
E, surpreendendo a diáspora ucraniana ao redor do mundo e todo o mundo, também vi quando a Ucrânia tornou-se repentinamente uma nação livre em 1991. Essa revolução sem derramamento de sangue deu à luz a um renascimento de trinta anos de liberdade e interação com essas pessoas. Porém, essa porta da oportunidade pode estar se fechando.
Você não tem realmente ideia de quem são os ucranianos até entender o pathos desse povo traumatizado por uma longa história milenar de subjugação nas mãos dos moskali, ou russos, assim como os mongóis, os turcos, os poloneses e os húngaros.
Muitos estão interessados no que está acontecendo “lá na Ucrânia” à luz da geopolítica, economia e profecia. Minhas raízes ucranianas foram despertadas por essa crise humanitária. Milhões de pessoas estão sofrendo, suas vidas foram arruinadas ou, em alguns casos, repentina e tragicamente ceifadas.
Ao longo de décadas, viajei muitas vezes para a Ucrânia— como tradutor, fotojornalista, pastor e filantropo. Trabalhei com líderes do governo, fundações, mídia, jovens, igrejas e instituições de saúde e educacionais em todo o país. Por meio de uma organização sem fins lucrativos que fundei há vinte e dois anos, ajudamos crianças vítimas da tragédia de Chernobyl e auxiliamos na criação de um centro de reabilitação infantil a 48 km daquela malfadada usina nuclear. O acidente de 1986 e seus efeitos posteriores deixaram uma cicatriz profunda na psique daquela nação oprimida e explorada pelos russos durante séculos.
Na atual crise, temos prestado assistência em alguns lugares dentro da Ucrânia. Ajudei no reassentamento de membros da minha família, que estavam em áreas fortemente bombardeadas, como Kharkiv, para áreas “mais seguras” no oeste da Ucrânia.
Um trágico relato do cenário
Outra área onde temos amigos queridos é Chernihiv, cerca de 160 km ao norte de Kiev e perto da fronteira russa. Nesta cidade trabalhamos e ajudamos no estabelecimento de um centro de reabilitação para crianças deficientes. Gostaria de compartilhar trechos de uma carta do Dr. Vasyl Pasichnyk, que fundou e administra esse centro, para termos uma ideia de como está a situação durante essa invasão:
“Queridos amigos Victor e Beverly!
“Enquanto escrevo esta carta ouvimos explosões o tempo todo do lado de fora de nossa janela (a uma distância de uns dois quilômetros daqui)”.
“Desde o primeiro dia dessa vergonhosa invasão da Ucrânia, nossa bela cidade de Chernihiv tem sofrido ataques de mísseis balísticos, mísseis de cruzeiro e constantes ataques aéreos”.
“No primeiro dia, prédios administrativos do governo e instalações militares foram completamente destruídos ou danificados. Os inimigos se aproximaram da cidade, mas se depararam com uma formidável resistência de nossos defensores, então os invasores decidiram mudar de tática. No segundo dia, começaram os ataques aéreos maciços a alvos civis na cidade — casas, escolas, creches. E não tem como considerar tudo isso como acidental, pois não há instalações militares nas proximidades. Nossa cidade está em chamas e enfumaçada”.
“Desde ontem, áreas residenciais — arranha-céus e residências — têm sido bombardeadas com extrema brutalidade. Muitos civis foram mortos, mas alguns foram resgatados. A casa de nossa pediatra e diretora do departamento de pediatria foi destruída. Felizmente, ela, suas duas filhas e quatro netos sobreviveram em um abrigo”.
“Não conseguimos entender como tanta crueldade e desprezo pelas leis podem ocorrer num mundo moderno e civilizado! A hipocrisia, as mentiras e o cinismo de Putin e seus asseclas não têm limites!”.
“Trinta e seis funcionários trabalham em nosso centro de reabilitação. E um deles morreu em uma explosão. Atendemos cinquenta crianças (a maioria com distúrbios psiconeurológicos) e suas mães. Desde ontem, algumas mães com seus bebês têm vindo até nós em busca de ajuda. Muitos prédios residenciais na cidade estão sem eletricidade, gás e calefação”.
“As pessoas estão estressadas, mas trabalham para ajudar essas crianças e apoiar umas às outras. Sempre lembramos de sua ajuda. Agradeço a você e ao Senhor Deus por tudo”.
“Acreditamos que Deus nos dará a oportunidade de viver nesta terra e conhecê-Lo em uma Chernihiv pacífica e reconstruída!”.
"Com amor,
Vasyl e Natalya”.
Você pode obter mais informações sobre o trabalho de assistência à Ucrânia em lifenets.org.
Este é um tempo para suspirar e chorar, como escreveu Ezequiel em uma advertência séria sobre os males que vemos no mundo e na cultura ao nosso redor (Ezequiel 9:4).
Jesus também chorou por causa do destino horrível que se abateria sobre Jerusalém e seus compatriotas por conta da rebelião deles contra Deus: “Quando Jesus se aproximou de Jerusalém e viu a cidade, começou a chorar. "Como eu gostaria que hoje você compreendesse o caminho para a paz!", disse ele. "Agora, porém, isso está oculto a seus olhos. Chegará o tempo em que seus inimigos construirão rampas para atacar seus muros e a rodearão e apertarão o cerco por todos os lados. Esmagarão você e seus filhos” (Lucas 19:41-44, Nova Versão Transformadora).
Vivemos em tempos perigosos e preocupantes. Oremos pelo povo da Ucrânia. Oremos fervorosamente para que venha logo o Reino de Deus!