Perguntas & Respostas
O apóstolo Paulo não disse que o sábado semanal e as festas do Antigo Testamento foram abolidos para os cristãos? Então, não deveríamos celebrar novos feriados religiosos?
Muitos escritos de Paulo têm sido incompreendidos, algo que acontecia até mesmo na época dele. O apóstolo Pedro afirmou que nas epístolas de Paulo “há pontos difíceis de entender, que os indoutos e inconstantes torcem e igualmente as outras Escrituras, para sua própria perdição” (2 Pedro 3:15-16). Por isso, é importante estudar cuidadosamente o que Paulo escreveu, entendendo bem o contexto e o registro geral de sua vida e prática.
Antes de sua conversão, Paulo era um seguidor fiel da seita dos fariseus (como diz em Atos 22:3). Após os eventos dramáticos no caminho para Damasco, Paulo se tornou um verdadeiro cristão. Ao contrário do que muitos acreditam, ele continuou a observar as festas bíblicas que o povo judeu celebrava.
Paulo, sendo um apóstolo cristão, seguia o costume de ensinar no sábado semanal (do pôr do sol de sexta-feira ao pôr do sol de sábado) (Atos 17:2). Quando os gentios lhe pediram para ensinar novamente no sábado seguinte, ele não sugeriu se reunir no domingo, mas voltou para ensinar no outro sábado (Atos 13:42-44).
Paulo foi acusado por alguns de ensinar os judeus a “apartarem-se de Moisés”, mas ele sempre contestou isso (Atos 21:20-21; 24:14; 28:17). O compromisso dele com as festas bíblicas está bem resumido em Atos 18:21: “É-me de todo preciso celebrar a solenidade que vem em Jerusalém”(ACF, grifo nosso).
Além disso, Atos 20:16 menciona a determinação de Paulo em estar em Jerusalém para o Pentecostes. Ele planejava participar da Páscoa e da Festa dos Pães Asmos, mas teve que observá-las na cidade grega de Filipos (versículos 1-6), o que o deixou ainda mais decidido a estar em Jerusalém para a próxima festa.
A epístola de 1 Coríntios foi escrita por Paulo à igreja de Corinto, formada principalmente por gentios, durante a Festa dos Pães Asmos. Muitos estudiosos concordam com esse período pelo que a própria carta indica, principalmente no quinto capítulo, onde Paulo usa a analogia do fermento para ensinar importantes lições espirituais sobre o pecado.
Metáforas e analogias têm efeito apenas se os ouvintes estiverem familiarizados com o exemplo. A menção de Paulo ao fermento, sem precisar de explicação, deixa claro que a congregação entendia o processo de remover o fermento durante a Festa dos Pães Asmos, uma celebração bíblica anual.
Em sua obra clássica The Life and Epistles of St. Paul [A Vida e as Epístolas do Apóstolo Paulo, em tradução livre], W.J. Conybeare e J.S. Howson concluem: “Parece razoável supor que os cristãos gentios se unissem aos judeus na celebração da Páscoa, seguindo ao menos a prática de não usar fermento nas festas de fraternidade. E vemos que Paulo ainda observava os ‘dias dos pães asmos’ nessa fase de sua vida” (1974, page 390).
Paulo nos orienta sobre a atitude que devemos ter ao observar a Festa dos Pães Asmos: “Por isso, celebremos a festa não com o velho fermento, nem com o fermento da maldade e da malícia, e sim com os asmos da sinceridade e da verdade” (1 Coríntios 5:8, ARA). No grego original, o verbo usado na frase “celebremos a festa” é empregado no sentido de “encorajar alguém a se unir ao falante em uma ação que ele já decidiu realizar” (Greek Grammar Beyond the Basics [Fundamentos do grego bíblico, em tradução livre], Daniel Wallace, 1997, page 464).
E as demais festas listadas em Levítico 23? Será que Paulo observava apenas aquelas reafirmadas especificamente no Novo Testamento? Alguns asseveram que apenas os mandamentos do Antigo Testamento repetidos no Novo Testamento ainda são válidos, mas essa suposição descuidada se baseia no “argumento do silêncio”. Será que verdades amplamente conhecidas precisam ser reiteradas? O especialista em hebraico David Stern afirma que “o Novo Testamento não repete verdades já evidentes no Antigo Testamento; ele as assume. E Paulo também as assumiu” (Comentário Judaico do Novo Testamento, 1992, page 303).
Jesus Cristo participava da Festa dos Tabernáculos (João 7:2, 10, 14, 37). Não deveríamos esperar o mesmo de Paulo? A festa que ele queria assistir, em Atos 18:21, provavelmente era a Festa dos Tabernáculos. Além disso, Atos 27:9 menciona o “Jejum”, geralmente entendido como o Dia da Expiação, sugerindo que Paulo e outros cristãos ainda observavam esse dia santo jejuando.
Em Colossenses 2:16-17, Paulo afirma que as festas bíblicas são “sombras das coisas futuras”. Em Gálatas 4:10, ele condena superstições pagãs e astrológicas, também proibidas no Antigo Testamento (Deuteronômio 18:10-14). Paulo e os primeiros cristãos não celebravam feriados religiosos como o Natal e o Domingo de Páscoa, que foram adotados posteriormente de religiões pagãs.
As Escrituras suscitam duas perguntas para quem considera as Festas Santas obsoletas: 1) Por que Paulo seria contra as festas do Antigo Testamento se ele mesmo as guardava fielmente? 2) Onde encontramos na Bíblia a instrução para abandoná-las?
Atualmente, quase ninguém questiona como os mandamentos bíblicos foram trocados por costumes de outras religiões. Deus mandou Moisés orientar Israel a não adotar costumes estrangeiros ao adorá-Lo (Deuteronômio 12:29-32), Jesus também alertou que seguir tradições humanas pode levar a adorar a Deus em vão (Mateus 15:9). A Bíblia deixa claro que Paulo e a Igreja apostólica continuaram observando as festas bíblicas, e nós devemos seguir o mesmo caminho.