Tomando Posse da Natureza Divina

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Tomando Posse da Natureza Divina

Alguma vez você já perdeu suas chaves, ou talvez sua bolsa ou carteira, e passou a procurar desesperadamente em todos os cantos de sua casa, garagem ou carro?

Se sim, por que isso aconteceu? Provavelmente, ficamos tão distraídos ou preocupados que nos esquecemos de onde as colocamos. Por conta disso, nosso mundo pode ficar um tanto abalado. Nessas horas, minha esposa sempre sorri e me lembra: "Elas não têm pernas". Isso é verdade! Elas ainda devem estar aqui. Mesmo assim, até eu encontrá-las elas vão continuar apenas perto, mas não em minhas mãos!

Em certo sentido, o mesmo pode ser dito acerca do que nosso Pai Celestial fez por nós, através de Jesus Cristo, ao colocar Sua essência divina da vida — Seu Espírito Santo — dentro de nós por segurança. Essa condição não tem pernas para poder ir embora, por assim dizer. Mas podemos nos tornar muito distraídos ou preocupados com os cuidados deste mundo e esquecer essa poderosa verdade de Deus ter colocado, amorosamente, Seu Espírito em nossos corações e mentes (ver Ezequiel 36:25-27).

Nas últimas três edições de A Boa Nova, esta coluna tem explorado essa realidade com base na incrível promessa de Jesus: "Não vos deixarei órfãos; voltarei a vós" (João 14:18).

Os primeiros seguidores de Cristo, tendo recebido o Espírito Santo, foram capazes de viver como se Cristo nunca os tivesse deixado. Eles sentiam a presença dEle. Mas alguns se distraíram ao longo do caminho, por isso o apóstolo Paulo precisou relembrá-los: Essa força não tem pernas! A presença divina ainda estava lá com eles. "Não sabeis quanto a vós mesmos, que Jesus Cristo está em vós?", apontou ele (comparar 2 Coríntios 13:5).

O Espírito de Deus não é algo que temos de procurar em diferentes lugares de nossa vida. Se nos arrependemos, entregamos nossas vidas a Deus, fomos batizados e recebemos Seu Espírito, que é o Espírito no centro de nosso ser — ao qual Paulo chamou de "homem interior" (Efésios 3:16). Ele está sempre aí à nossa disposição — esse recurso vital da "natureza divina", como Pedro se referiu (2 Pedro 1:4), de onde fluem os maravilhosos atributos do caráter divino.

Firmeza não casual, mas propositada

Então, como lidamos com esses momentos de distração ou preocupação com os assuntos passageiros desta vida e nos concentramos no Espírito de Deus? Permita-me compartilhar um versículo que sempre me leva de volta ao básico. Ele é muito gráfico e tangível — talvez até cativante!

Ele está em Filipenses 3:12: "Não pretendo dizer que eu seja perfeito. Até agora ainda não aprendi tudo quanto devia, mas continuo trabalhando para aquele dia, quando finalmente eu serei tudo aquilo para que Cristo me salvou e Ele quer que eu seja" (Bíblia Viva).

O Filho de Deus apegou-se a você e a mim — não por desespero, mas intencionalmente — para que possamos nos agarrar a uma fé não acidental, mas intencional. Isso não é meramente ter fé nEle, mas significa que você e eu exercitamos uma fé idêntica a de Cristo no sentido de nos agarrar à Sua natureza divina e a de nosso Pai Celestial.

Mais uma vez, como no artigo da edição anterior, intitulado "Uma Vida de Sacrifício Guiada Pelo Espírito", vamos entender como podemos nos agarrar à preciosidade do Espírito de Deus — a natureza divina — o qual nos leva a evidenciar os atributos divinos.

Como vimos antes, o apóstolo Pedro apresenta os elementos vitais da natureza divina em suas palavras encontradas em 2 Pedro 1:5-8. Meu artigo anterior se concentrou nos três primeiros elementos, e eu disse que ainda havia mais. Chegamos a compreender nossa resposta à graça de Deus — isto é, o Seu favor e o dom da salvação, que começa com Ele e procede dEle — que exige uma rendição incondicional de nossa parte e uma contínua e devotada resposta baseada no diário sacrifício do eu.

No versículo 5, o apóstolo Pedro falou da zelosa diligência e da confiante que estabelece a corajosa virtude da excelência moral, a qual é testemunha a outras pessoas de que há algo diferente aqui — algo excepcional — ou seja, a vida de Jesus Cristo sendo vivida em uma pessoa na Terra.

Porém, repito, há muito mais — então vamos mais longe, até onde podemos, conscientemente, manter o controle sobre o que Deus deseja.

Características expressas da natureza divina

Novamente, no versículo 5, Pedro descreve como devemos utilizar a natureza do Espírito de Deus, que comunica o conhecimento a Seus seguidores.

Esse conhecimento, de origem divina, é prático para a vida cotidiana. Ele é um conhecimento que nos permite compreender as primeiras causas, bem como os resultados de nossa decisão.

Jesus prometeu que o Espírito Santo nos tornaria convictos do pecado, da justiça e do juízo (João 16:8-9). Esse conhecimento nos conforta com as asseverações dos Salmos — que diz “O SENHOR é o meu pastor; nada me faltará" — mas também nos transmite a sabedoria dos Provérbios e de Tiago sobre como caminhar diariamente num mundo repleto de armadilhas satânicas e de laços da natureza humana corrupta. É a mente de Cristo habitando em nós (Filipenses 2:5), que nos permite “rejeitar o mal e escolher o bem” (Isaías 7:15).

Quando aplicamos o conhecimento revelado às situações da vida real, então devemos ficar atentos ao versículo 6 de 2 Pedro 1 para dominarmo-nos e exercitarmos o autocontrole. E isso diz respeito, particularmente, a cada um de nós. Aqui o termo grego da raiz da palavra egkrateia sugere "ter controle" sobre nós mesmos. Hoje em dia, ouvimos essa expressão como uma advertência para pensar com clareza. Mas Deus nos diz isso num sentido mais amplo, ou seja, o de assumir o controle de nossos pensamentos e de nossa vida.

Nunca conseguiremos lidar com os fatos sem lidarmos com nossos sentimentos. Quantas vezes fizemos algo porque simplesmente nos sentimos bem, em vez de fazer o que agrada a Deus? O fato de se sentir bem e fazer o bem são duas coisas completamente diferentes e com resultados muito diferentes.

Por sua vez, manter o autocontrole exige ter a inspiração mencionada em 2 Pedro 1:6, a perseverança ou firmeza (firme na determinação) engendrada pelo Espírito de Deus, que nos proporciona um olhar paciente para o futuro. E isso diz respeito a ser capaz de enxergar além dos enormes obstáculos que a vida diária põe diante de nós e de uma coragem espiritual inabalável — assim como o exemplo de Cristo "que pelo gozo que Lhe está proposto, suportou a cruz, desprezando a ignomínia, e está assentado à direita do trono de Deus" (Hebreus 12:2).

Caminhar com a humanidade e não aparte dela

Você já pensou o quanto a vida poderia ser mais fácil se não tivéssemos que lidar com as outras pessoas? Evidentemente, Deus não nos concedeu a participação na natureza divina para que nos tornemos eremitas, mas para caminhar nesta vida nos concentrando nEle, antes de nós mesmos, e também nos preocupando com as necessidades dos outros que cruzam nosso caminho.

O cristianismo não se desenvolve pela teoria, mas pela prática. E Deus nos concedeu um ambiente repleto de pessoas para lidarmos com algumas que, às vezes, não são tão amáveis — talvez começando conosco mesmos, se somos honestos e permitimos que o Espírito de Deus nos proporcione a convicção.

O próximo atributo de 2 Pedro 1:6 é a piedade, que não nos afasta do nosso semelhante. Ao contrário, Jesus disse que devemos tratar os outros assim como tratamos a Ele (Mateus 25:40, 45). O apóstolo João disse algo muito pertinente: "Pois quem não ama a seu irmão, ao qual viu, não pode amar a Deus, a quem não viu" (1 João 4:20).

Isso nos guia até a próxima qualidade que Pedro lista, a especial fraternidade entre membros da família espiritual (2 Pedro 1:7). Às vezes, quanto mais próximos somos das pessoas, mais podemos aceitar uns aos outros ou, ao contrário, mais permitimos eclodir os conflitos pessoais.

Paulo nos lembra: "Façamos o bem a todos, mas principalmente aos da família da fé" (Gálatas 6:10, ARA). Em outras passagens, Pedro também combinou essas duas qualidades de piedade e fraternidade quando nos admoestou: “Honrai a todos. Amai aos irmãos..." (1 Pedro 2:17).

Todas essas incríveis qualidades listadas em 2 Pedro 1 são predicados que apontam para o atributo supremo da natureza divina, que une firmemente as expressões de diligência, fé, virtude, conhecimento, domínio próprio, perseverança, piedade e fraternidade. E o ponto culminante de todas vem ao final — amor (versículo 7).

Deus é definido por esta qualidade, pois nos é dito que "Deus é amor" (1 João 4:8, 16). Esse não é um amor próprio, mas uma preocupação sincera, altruísta, irrestrita e distante do eu. Na verdade, é um amor todo desprovido de egoísmo.

Esse amor chegou até nossas vidas quando estávamos ainda dormindo espiritualmente. A Escritura nos diz: “Nós amamos, porque Ele nos amou primeiro" (1 João 4:19). Quem foi o primeiro? Deus! Quem deve segui-Lo seja aonde for que Ele nos conduza nessa jornada da vida? Nós!

A promessa com uma premissa

Então, para onde vamos a partir daqui? Cristo prometeu que viria até nós, e atualmente Ele tem feito isso através do Espírito, e virá para nós, num sentido mais pleno, em Sua segunda vinda.

Por Sua misericórdia e amor, nosso Pai Celestial entregou Seu Filho por nós para que Ele não retornasse meramente a nós, mas baseado na premissa de que atenderíamos o Seu chamado de segui-Lo e de participar ativamente cheios do poder do Espírito Santo — a natureza divina.

Essas chaves valiosas para sua vida não precisam continuar sendo um mistério nem permanecer perdidas. Nosso Pai Celestial não nos chamou para estar tão perto e tão longe ao mesmo tempo. Suas promessas não estão longe de nós, mas Ele nos pede que caminhemos em direção a elas!