Comentário Bíblico: Êxodo 8:20-10:20

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Comentário Bíblico

Êxodo 8:20-10:20

Moscas e outras pragas

Antes de enviar a quarta praga, Deus disse que impedirá que ela e as outras pragas afetem os israelitas em Gósen. Pois, todos foram atingidos pelas três primeiras pragas, inclusive os israelitas. Mas, as sete últimas pragas atingiram apenas os egípcios. O fato de essas "sete últimas pragas" serem distintas é bastante interessante porque encontramos essa frase em Apocalipse 15:1, referindo-se às últimas pragas derramadas sobre a humanidade rebelde — após um período de sofrimento que virá sobre povo de Deus e o resto do mundo. Então, assim como ocorreu no Egito, o povo de Deus do tempo do fim será poupado das sete últimas pragas.

4. Moscas: Em relação à palavra "moscas", o Jamieson, Fausset e Brown Commentary (Comentário Bíblico de Jamieson, Fausset e Brown , em tradução livre) afirma que essas “não eram 'moscas' como as que conhecemos [ou talvez não eram apenas a espécie de mosca que havia no Egito e ainda há], mas diversas espécies de moscas [isto é, insetos voadores] (Salmos 78:45), moscas-dos-chifres, baratas, escaravelhos, pois todos esses insetos são mencionados por diferentes escritores... A adoração a moscas, particularmente ao besouro [na forma do deus escaravelho Khepri], era parte importante da religião dos antigos egípcios” (Nota sobre Êxodo 8:20-31, ed. 1961).

Além disso, enquanto as moscas pousavam sobre os egípcios e sua comida, perturbando e zumbindo incessantemente ao redor deles e do supremo Amon, o que seus piedosos auxiliares e o deus do vento estavam fazendo para acabar com essa praga ? Onde estavam a deusa guardiã Mafdet e o deus protetor Shed? Finalmente, o "divino" faraó começa a barganhar, concordando em deixar os israelitas oferecerem sacrifícios a Deus em Gósen. Entretanto, Moisés ressalta que isso seria uma abominação para os egípcios, pois eles consideravam detestável o sacrifício de ovelhas (ver Gênesis 43:32; Gênesis 46:34), e que — já que agora tinham ódio dos israelitas — eles poderiam apedrejá-los. Assim, com moscas ainda zumbindo ao seu redor, faraó concorda em deixar os israelitas viajarem até certa distância ao deserto para fazer essa cerimônia. Porém, mais uma vez, esse governante teimoso muda de ideia.

5. A Peste dos Animais: E como na maioria das sociedades pagãs, os bois tinham fortes ligações com várias divindades do Egito. Apis, o deus touro, era a personificação viva do deus da criação Ptah. Os deuses criadores, Atum e Rá, posteriormente sincretizados em uma única divindade, eram representados pelo touro negro Mnévis de Heliópolis. Nut ou Neith era descrita como a grande vaca celestial que deu à luz ao cosmos e a outras divindades. Mehet-Weret, outra deusa associada à criação, era retratada como uma vaca. As deusas mãe Hathor e Nekhbet também eram retratadas com a forma de uma vaca. Hesat, a deusa do nascimento, era retratada como uma vaca. E a mãe adotiva de Hórus, Sekhet-Hor, também representada por uma vaca, até foi invocada para proteger o rebanho bovino — uma prece inútil diante do verdadeiro poder de Deus.

Também é preciso anotar aqui que os egípcios possuíam algumas ovelhas (Êxodo 9:3), embora aparentemente não serviam de alimento ou para sacrifícios (comparar Êxodo 8:26). E os deuses carneiros figuram com destaque no panteão egípcio — Ba, Banebdjedet, o primitivo Heryshaf e o deus do Nilo Khnum. Até o deus supremo Amon era simbolizado por um carneiro com chifres curvos. A afirmação de que "todo o gado do Egito morreu" (Êxodo 9:6), na verdade, significa que a grande maioria do rebanho morreu, pois ainda havia gado (Êxodo 9:19-21) e cavalos (Êxodo 14:7-9) depois disso. Mesmo assim, podemos imaginar que esse foi um grande golpe para a economia e para a força militar do Egito. Mais uma vez, Deus poupa os israelitas, e o faraó fica sabendo disso. Ainda assim ele se recusa a liberar o povo de Deus.

6. Úlceras: Mais uma vez, as falsas divindades do Egito não ajudaram, incluindo Sekhmet, deusa protetora contra doenças (além de seu papel principal como deusa da guerra), Imhotep, o deus da medicina, e Ísis, deusa da vida e da cura. Agora, os magos do faraó estavam muito aflitos para se apresentarem diante dele; mas o coração de faraó continuava endurecido. Curiosamente, pela primeira vez, a narrativa afirma que Deus realmente endureceu o coração de faraó (Êxodo 9:12) — algo que Deus já havia declarado que faria (Êxodo 4:21; Êxodo 7:3). Contudo, antes disso, o faraó é mostrado como alguém que endurece seu próprio coração (Êxodo 8:15, Êxodo 8:32). Então, agora Deus está reforçando essa obstinada inclinação de faraó — pelo propósito descrito em Êxodo 8:16 (ver também Romanos 9:14-24).

7. Chuva de Granizo: Essa praga matou servos, animais e gado que não estavam abrigados. Plantas e árvores também foram destruídas, inclusive todas as colheitas no campo. Isso se tratava de uma imensa tempestade de granizo e o "fogo [que] corria pela terra", ou seja, raios, segundo o salmo 78: "Com chuvas de pedra lhes destruiu as vinhas e os seus sicômoros, com geada. Entregou à saraiva o gado deles e aos raios, os seus rebanhos" (Salmos 78:47-48, ARA). Sem dúvida, esses fenômenos destruidores causaram um impacto devastador no suprimento de alimentos do país. E mesmo assim os deuses do Egito nada puderam fazer: as deusas do céu, Nut e Hathor; o deus do céu, Hórus; Shu, o deus do ar e portador do céu; Seth, o deus das tempestades e protetor das colheitas; Neper, o deus das colheitas de grãos; Osíris, o governante da vida e da vegetação; Ísis, a deusa da vida; e todas as divindades de vacas e carneiros mencionadas acima mostraram-se impotentes diante do verdadeiro Deus. Agora, o faraó cede — por enquanto. Evidentemente, assim que a praga passa, ele muda de ideia novamente.

8. Gafanhotos: A essa altura, os servos de faraó estão tentando convencê-lo de que "o Egito está destruído" (Êxodo 10:7). Então, mais uma vez, ele recorre à barganha com Moisés. Mas como decide não atender às exigências de Deus, um vento forte traz uma infestação de gafanhotos à terra. E o resultado é horrivelmente desastroso. Toda a vegetação que sobrou, após a chuva de granizo, é devorada pelos gafanhotos. A terra está arrasada. Deve ter sido muito triste olhar e não ver mais o verde das plantas naquela terra que antes era fértil e abundante e (versículo 15). Novamente, Seth, Neper, Osíris e Ísis foram desafiados — assim como Shu, deus do ar, e Amon, deus do vento. Essa terrível praga deve ter deixado a nação à beira da fome. Em desespero, o faraó até confessa seu pecado e pede perdão — externamente. Mas sua contrição dura pouco. Contudo, Moisés já estava acostumado com a teimosia do faraó a ponto de não se surpreender quando, mais uma vez, ele muda de ideia sobre libertar os israelitas.