Comentário Bíblico
Levítico 13-15
A lepra moderna, também chamada de hanseníase, segundo o dicionário Mosby's Medical, Nursing, & Allied Health Dictionary, é uma "doença crônica e transmissível... que pode assumir uma de duas formas, dependendo da imunidade do hospedeiro. A lepra tuberculoide apresenta-se como uma erupção cutânea formada por uma ou poucas áreas mais claras e achatadas, de bordas pronunciadas e elevadas, onde as áreas afetadas por essa erupção cutânea ficam dormentes porque as bactérias danificam os nervos subjacentes. A lepra virchowiana caracteriza-se pela presença de inúmeras lesões na pele, desde manchas (elevadas ou não), até nódulos escuros, duros e assintomáticos, conforme a evolução do quadro. Outros sintomas são pele avermelhada e seca, poros muito dilatados, olhos secos, perda da sensibilidade térmica, tátil e dor. Ainda segundo o guia, em estágios avançados, pode comprometer órgãos do sistema reprodutor masculino e rins, causar perda parcial ou total da sobrancelha e dos cílios, câimbras, formigamentos, dores articulares e deformidades nas regiões dos nervos periféricos. Ela pode causar cegueira. A morte é rara a menos que... a tuberculose [ou alguma doença relacionada] ocorra simultaneamente. Ao contrário da crença tradicional, a lepra não é muito contagiosa e é necessário um contato íntimo e prolongado para que ela se propague entre os indivíduos" (4ª ed., "Lepra").
Ainda assim, ela é contagiosa. Como afirma a Enciclopédia Britânica em seu artigo sobre essa doença: “A prevenção da lepra baseia-se no reconhecimento dos casos bacteriologicamente positivos para que possam ser isolados e tratados” (Vol. 7, 1985, p. 287). E isso é completamente bíblico. Embora o tratamento não seja enfatizado em Levítico, os sacerdotes, como responsáveis pelo controle sanitário, deviam diagnosticar os indivíduos e depois tomar medidas para proteger a comunidade de novas infecções — isolando aqueles que apresentavam os sintomas dessa doença.
Talvez a “lepra” identificada em Levítico 13-14 tenha sido muito mais transmissível do que a doença moderna que leva esse mesmo nome. "Há um debate entre os estudiosos da medicina sobre se a palavra hebraica traduzida como 'lepra' na Bíblia diz respeito a mesma doença da atualidade. Pois, essa pode ter sido outra doença infecciosa mortal diferente das formas modernas de lepra" (The Signature of God: Astonishing Biblical Discoveries (A assinatura de Deus, em tradução livre), Grant Jeffrey, 1996, p. 147). Na verdade, a Bíblia de Estudo Thomas Nelson observa que a palavra “leproso”, em Levítico 13:2, refere-se ao termo “hebraico saraath relativo a doenças de pele desfigurantes, que inclui a lepra”. Assim, pode ter havido uma preocupação imediata com uma doença muito infecciosa na época em que Deus inspirou Moisés a escrever Levítico.
Mas também é possível que a lepra daquela época fosse a mesma de hoje. Nesse caso, Deus pode ter simplesmente instituído uma forma geral de lidar com doenças transmissíveis — ou seja, a quarentena. De qualquer forma, Ele também estava ilustrando a necessidade de remover a impureza espiritual através dessa lição de separação física — tornando isso ainda mais claro através de determinados rituais ou ordenanças cerimoniais. É preciso salientar que, provavelmente, a “lepra” nas paredes das casas e nas roupas tratava-se de “decomposição por mofo, bolor, podridão seca, etc.”. (Bíblia de Estudo Thomas Nelson, nota sobre Levítico 14:34) — disseminação de fungos. “Tudo isso se tratava de brotamentos nocivos, seja na pele humana, em roupas ou nas paredes de uma casa”.
Ademais, é particularmente interessante ler os requisitos para a feitura e higienização da barba. Também é impressionante saber que o conceito sobre germes microscópicos que transmitem doenças, aventado em Levítico, somente foi aceito nos tempos modernos. Na verdade, Ignaz Semmelweis, um médico húngaro, foi ridicularizado pelo sistema de medicina em meados do século XIX por instituir a lavagem das mãos antes de examinar os pacientes — pela preocupação com possíveis agentes infecciosos invisíveis. Felizmente, sua ideia acabou sendo aceita — mas não até ocorrerem muitas mortes evitáveis e ele morrer em um manicômio, após décadas de rejeição de suas ideias (None of These Diseases: The Bible's Health Secrets for the 21st Century [os segredos da saúde através da Bíblia, em tradução livre], S. I. M.D. McMillen, citado por Jeffrey, pp. 145-146).
Entretanto, considere a época em que Moisés escreveu o Pentateuco. O conhecimento médico egípcio antigo era primitivo em comparação ao atual. A partir do manuscrito Papiro de Ebers e de outras fontes antigas ficou claro que não havia nenhum tipo de saneamento no Egito. Por exemplo, o esterco de diversos animais era o principal ingrediente da pomada usada para todos os tipos de doenças. Por outro lado, as antigas leis dos israelitas expressavam preocupação com o saneamento. Elas serviam de proteção contra patógenos microscópicos. Contudo, como Moisés poderia saber da existência desses germes? Sem dúvida, os egípcios ou qualquer outra cultura antiga não sabiam disso.
Na verdade, "até este século, todas as sociedades anteriores, exceto os israelitas que seguiam as leis sanitárias divinas acerca da quarentena, mantinham os doentes infectados em suas casas — mesmo após a morte, expondo familiares e outras pessoas a doenças mortais. Durante a devastadora Peste Negra do século XIV, os doentes ou os mortos eram mantidos nos mesmos recintos que o resto da família. Muitas vezes, as pessoas se perguntavam por que aquela doença [que matou metade da Europa e parecia imparável] estava afetando tantas pessoas ao mesmo tempo. Eles atribuíam essas epidemias a “algo ruim no ar” ou a “espíritos malignos”. Contudo, uma atenção minuciosa aos mandamentos sanitários de Deus, revelados em Levítico, teria salvado milhões de vidas. Arturo Castiglioni escreveu sobre a enorme importância dessa lei sanitária bíblica: As leis de Levítico 13 contra a lepra podem ser consideradas o primeiro modelo de regras sanitárias” (História da Medicina, Arturo Castiglioni, Companhia Editora Nacional, p. 71).
Felizmente, “os Padres da Igreja de Viena finalmente levaram a sério as injunções bíblicas e ordenaram que os infectados pela peste... fossem retirados das cidades e colocados em complexos médicos especiais de quarentena. Cuidadores alimentavam esses doentes até que morressem ou sobrevivessem à doença. Aqueles que morriam em casas ou nas ruas eram imediatamente removidos e enterrados fora das cidades. E essas medidas sanitárias bíblicas logo controlaram pela primeira vez essa temida epidemia. E, imediatamente, outras cidades e países seguiram essas práticas sanitárias de Viena até, finalmente, conter a Peste Negra” (The Signature of God: Astonishing Biblical Discoveries, Grant Jeffrey, pp. 149-150).
Sem dúvida, Moisés nunca poderia ter entendido a necessidade de instituir essas leis pelos meios naturais disponíveis para ele naquela época. Mas, obviamente, o Deus Criador sabia disso. E ao ordenar que Suas instruções para lidar com esses casos fossem preservadas na Bíblia, o Eterno nos deu mais uma prova contundente de que esse livro maravilhoso é realmente Sua Palavra inspirada.