Minha Paz Vos Dou
O primeiro contato de Jesus com os discípulos após Sua ressurreição tem um grande significado para todos os Seus seguidores através dos tempos. As palavras dEle nos transportam para aquele local em Jerusalém. Ali Ele encontra Seus amigos escondidos “com medo dos judeus” (João 20:19). Essa reação humana é compreensível. Aquele que eles seguiram por anos foi entregue por seus compatriotas para ser crucificado pelos romanos. A terrível pergunta que rondava seus pensamentos e dominava seus corações era: "Seremos os próximos?"
Aqui Jesus não apenas atravessou, milagrosamente, as paredes para encontrá-los, mas também tocou no sentimento de aflição deles ao saudá-los dizendo: “Paz seja convosco". Estas foram Suas primeiras palavras registradas quando mostrou as feridas de Sua crucificação para encorajá-los e para que verificassem que era Ele mesmo, mas agora ressuscitado! (versículos 19-20). E, antes de deixá-los, Ele declarou novamente: “Paz seja convosco". Aqui descobrimos como Cristo entra e sai de seus encontros com aqueles que são preciosos para Ele, sempre os abraça — nos abraça — com a “paz”.
Uma semana depois, Ele atravessou as paredes novamente e cumprimentou um discípulo chamado Tomé, que estava cheio de dúvidas, compreensivelmente humanas. Ele perdeu o primeiro encontro, então Jesus ofereceu-lhe atenção individual para acalmá-lo e animá-lo. E, mais uma vez, as primeiras palavras de Cristo foram “Paz seja convosco". Mas, desta vez, Ele não apenas penetrou as paredes físicas, pois, ao permitir que Tomé tocasse em Suas feridas, Ele também penetrou na parede do temor humano, que estava bloqueando a capacidade servidora de Tomé (versículos 26-28).
E quanto a nós hoje em dia? Quais problemas pessoais estão enfraquecendo nossa capacidade de servir a Cristo? No momento em que escrevo, estamos passando por uma “dinâmica de portas fechadas” por causa do temor ao coronavírus. "Quem será o próximo?" muitos se perguntam. “Será um ente querido ou eu mesmo?”. Essa preocupação talvez esteja associada a desafios preexistentes — tensões no casamento, desemprego, pressões sociais ou uma doença grave que ameaça sua vida ou a de um ente querido. E, desesperados, clamamos: "Qual é o sentido de tudo isso?".
E é em nossos momentos de mais desespero e sufoco que Jesus, o Bom Pastor, nos chama para segui-Lo (Marcos 1:17; João 21:19) e estar em paz. Ele nunca muda Seu tom, Suas palavras, Sua presença pessoal para conosco e tudo isso é sempre acompanhado da paz que Ele oferece.
Então, como podemos estar em paz em tempos difíceis? Devemos refletir e seguir o próprio exemplo de Jesus, aprendendo a viver de acordo com princípios bíblicos específicos para experimentar a paz de Deus.
Experimentando e compartilhando a paz com outros
Primeiramente, vamos apreciar o que Jesus pregou e praticou. Parece muito fácil falar sobre paz depois de ter sido ressuscitado da morte, mas essa mesma paz foi expressa e oferecida antes mesmo disso.
Veja o que aconteceu na última noite da vida humana de Jesus, poucas horas antes de ser torturado e crucificado. Ele declarou: “Deixo-vos a paz, a Minha paz vos dou; não vo-la dou como o mundo a dá. Não se turbe o vosso coração, nem se atemorize” (João 14:27).
Observe a afirmação de "Minha paz" e que essa paz é diferente da que é dada pelo mundo. Ela é algo que não é daqui — não é terrena ou humana. Ele a ofereceu como um presente que seria deixado conosco. Esse tipo de paz é de natureza custodiante, que exige administração para compreender o incisivo e vital convite para ser um discípulo de Cristo. Além disso, essa paz não é apenas para esta vida, mas também para a verdadeira vida que Ele nos dá.
Jesus, sendo judeu, teria dito shalom ao saudar Seus discípulos com a "paz". A palavra shalom não significa apenas um cumprimento em hebraico, mas uma bênção, o que é mais importante. Esta é uma afirmação espiritualmente realista para aqueles que têm uma existência não necessariamente livre de conflitos, mas algo que diz respeito à companhia de Deus com eles, que lhes provê sabedoria, força e conforto necessários enquanto enfrentam os desafios da vida.
E aqui está algo mais a considerar: Cristo nos chamou para a paz e nos concede a paz — mas o Seu tipo de paz, que, como Ele exemplificou, inclui estender a paz aos outros. Há uma demanda implícita de ação em Sua bem-aventurança encorajadora: “Bem-aventurados os pacificadores” (Mateus 5:9). Observe que Ele não disse apenas "os que sonham com a paz". Temos que agir, fazendo tudo o que pudermos fazer corretamente para trazer a paz, começando com nossa própria atitude.
Então, como experimentamos o dom da paz de Deus? Aqui estão três passos bíblicos para nos guiar a viver de acordo com o convite de seguir a Cristo.
Parar e acalmar-se
O primeiro passo é parar e acalmar-se. Vivemos em um mundo inquieto e ligado 24 horas por dia e sete dias por semana, que invade nossa já turbulenta natureza humana por meio de comunicações instantâneas. Embora isso seja muitas vezes necessário, também distrai e vicia. E pode nos levar a esquecer de quem caminhou entre nós e reina sobre nossas vidas.
Pondere as palavras de Davi no Salmo 46:10: “Aquietai-vos e sabei que Eu sou Deus; serei exaltado entre as nações; serei exaltado sobre a Terra”. As nações em geral não estão prestando atenção nisso nesta era, mas, individualmente, nós começamos a exaltar a Deus quando saímos da esteira do medo e “paramos, olhamos e ouvimos” a Deus antes de entrarmos nas interseções da vida.
O humilde silêncio diante de Deus é um enfoque sábio para os fiéis. O Salmo 62:5-6 ilumina o coração do indivíduo que reúne a consciência espiritual e a coragem para permanecer sossegado: “Ó minha alma, espera somente em Deus, porque dEle vem a minha esperança. Só Ele é a Minha rocha e a Minha salvação; é a Minha defesa; não serei abalado”.
Você notou a palavra “esperar”? Isso leva mais de um minuto prendendo a respiração enquanto murmura baixinho: "Eu estou bem calmo!". Esperamos porque existe uma “expectativa” de que Deus responderá à Sua maneira e em Seu tempo. Cuidar e expandir a paz concedida por Deus requer consciência visionária, sacrifício pessoal e determinação para ir além de apenas escutar sua própria voz e ser capaz de ouvir, como fez o profeta Elias, a “voz mansa e delicada” de Deus muito além das tempestades e dos terremotos desta vida (ver 1 Reis 19:12).
Passar um tempo a sós com Deus
O próximo passo é ficar a sós com Deus. Vivemos em uma sociedade superpovoada e barulhenta. Pense nisso por um momento: Carros de som por todo lado, música alta perturbando o jantar com seu cônjuge, pessoas conversando o tempo todo e smartphones em nossas mãos pensando por nós. O mundo sempre foi agitado, mas agora está superagitado. Onde podemos encontrar tranquilidade enquanto as tempestades da vida giram ao nosso redor? As pessoas costumam falar em fugir nas férias, e isso é bom. Mas para aqueles que aceitaram o convite de Cristo, “fugir” não deveria descrever, em certa medida, nossa vocação espiritual?
Pense em alguns daqueles que Deus chamou para a solidão do deserto por determinado tempo. Essa foi a experiência de Moisés, dos israelitas após o Êxodo, de Elias, de João Batista, de Jesus e do apóstolo Paulo. Nesse deserto desolado, longe de tudo e de todos, os servos de Deus poderiam se comunicar melhor com Ele, tornando-se mais alicerçados e sintonizados no que estava diante deles. A questão não era apenas que tudo estava calmo e silencioso, mas que eles estavam sozinhos com Deus.
Medite no exemplo de Cristo em Marcos 1:35: “E, levantando-se de manhã muito cedo, estando ainda escuro, saiu, e foi para um lugar deserto, e ali orava”. Esta era sua prática regular. Lucas 5:16 nos diz: “Porém Ele retirava-se para os desertos e ali orava”.
A “experiência no deserto” é essencial para seguir os passos de Cristo, que não apenas mostra o caminho, mas que Ele mesmo é o “Caminho” para a comunhão com Deus (João 14:6). Não estou falando de quarenta dias ou quarenta anos de ausência da vida cotidiana. Estou falando de encontrar tempo e lugares para "jejuar deste mundo" e "jejuar das notícias", focando-se nas promessas de Deus em vez de em nossas premissas humanas.
Contudo, sabemos que Deus não nos chamou para sermos eremitas. Seu Espírito conduziu Jesus ao deserto para ser testado (Mateus 4:1), mas logo depois Jesus voltou para servir à humanidade — e nós também devemos fazer isso. Reservar um “tempo no deserto” em nossa agenda nos proporciona a solidão e a quietude de que precisamos para ouvir a voz do Pastor além de nossa própria voz. E qual pode ser o resultado disso? As escrituras destacam esta promessa: “O Senhor dará uma paz perfeita a todos que confiam nEle, aos que concentram seus pensamentos nEle” (Isaías 26:3, Bíblia Viva).
Manter a fé em Deus e seguir em frente
O terceiro passo é continuar tendo fé em Deus — confiar inteiramente nEle. Existimos em um mundo que está mudando dramaticamente a cada momento. Nossas circunstâncias pessoais estão em constante mudança. As fábricas educacionais de hoje ensinam que não existem absolutos — que tudo está sujeito a mudanças. Mas, na verdade, as coisas não são assim. Existem certos valores absolutos que nunca vão mudar, particularmente, o caráter e a confiabilidade de Deus Pai e Jesus Cristo e todas as verdades reveladas por Eles. E precisamos nos ancorar nisto e não nas fantasias efêmeras do humanismo secular.
Use essas reveladoras verdades absolutas para fortalecer sua caminhada com Cristo. Isaías 46:9-11 lembra-nos que precisamos entregar nossas vidas a Quem anuncia “o fim desde o princípio...que [diz]...Meu conselho será firme, e farei toda a Minha vontade”. Entregamos nossos corações e mentes a um Soberano Senhor que diz: “Eu não mudo” (Malaquias 3:6). Entregamos nossa vida a um Pai Celestial “em Quem não há mudança, nem sombra de variação” (Tiago 1:17). Aceitamos o convite Daquele que “é o mesmo ontem, e hoje, e eternamente” (Hebreus 13:8).
Há uma grande necessidade de tempo em nossa caminhada espiritual para nos aquietarmos e para buscar o retraimento e experimentar “o deserto” para ouvir a alta, clara, “mansa e delicada” voz de Deus.
É revelador o fato de, na beira do Mar Vermelho, Moisés ter dito ao perturbado povo de Israel: “Não temais; estai quietos e vede o livramento do SENHOR...O SENHOR pelejará por vós, e vos calareis” (Êxodo 14:13-14). E observe a instrução entregue por Deus: “Dize aos filhos de Israel que marchem” (versículo 15). Então, seguir em frente é um ato de fé.
Igualmente, deixemos nosso “cenáculo de angústia e dúvida” pessoal e obedeçamos a ordem dessa mesma voz que diz “Marchem” e, como Jesus disse para aquelas pessoas do passado e também para nós hoje em dia, “Siga-me”.