Preso Com Cristo no Gólgota
Você já ficou preso no trânsito durante o horário de pico? Você tem lugares para ir e pessoas a encontrar, mas não consegue ir a lugar nenhum! Você conhece esse sentimento. A vida diminui seu ritmo. E os minutos parecem horas.
Você já esteve preso em um elevador danificado por um curto período de tempo? Muita coisa começa a passar por sua mente. Alguma vez você já ficou “preso” em algum restaurante ao descobrir que esqueceu sua carteira no momento de pagar a conta?
Às vezes, ficamos presos em certas situações. Mas sobrevivemos a esses inconvenientes momentâneos e seguimos em frente. Todavia há algo muito mais sério que pode deixar preso de forma a mudar drástica e permanentemente a vida de alguém.
A palavra preso, também particípio do verbo prender, é um termo interessante. Pode significar ser apunhalado ou trespassado — físico ou emocionalmente. Também pode significar estar travado ou impedido em algum lugar ou situação, sendo incapaz de prosseguir ou mover-se livremente.
Tenha isso em mente ao prosseguirmos para o que é essencial compreender se quisermos atender ao chamado de seguir a Cristo.
A grande questão que exige resposta
A grande pergunta que Jesus fez a todos os discípulos é aparentemente simples, porém exigente: "Quem dizeis que Eu sou?" (Mateus 16:15). A humanidade em geral ignorou ou ficou presa nessa questão desde então.
Por isso, Ele buscou sua resposta e não a de outros — somente sua própria resposta! Para os seus discípulos, essa era uma pergunta que não deve ser respondida apenas uma vez, mas várias vezes na vida, à medida que crescemos na fé e na compreensão do Filho de Deus e em Seu papel vital e pessoal em todo aspecto de nossas vidas. E começamos a nos libertar quando compreendemos o que estava preso naquela colina fora de Jerusalém, no dia da Páscoa, há quase dois mil anos.
E é aqui nesse lugar chamado Gólgota (ou "Lugar da Caveira" — João 19:17) que nossos olhos se abrem para a terrível visão de três homens crucificados. A finalidade da crucificação não era a morte imediata, mas uma morte lenta, agonizante e horrível para qualquer um que ousasse desafiar Roma.
Preso na comunhão da morte
Então, aqui estamos presos na visão desses três homens pregados em vigas de madeira e pendurados numa cruz. Juntos, eles estão presos nessa singular comunhão da morte — iminente e pessoal.
Então, nós nos concentramos no homem que está ao meio, o alvo de insultos e zombarias das autoridades religiosas entre a multidão reunida. Aquele homem, crucificado entre dois criminosos, é Jesus de Nazaré (Lucas 23:33).
Até mesmo aqui, em Seus últimos momentos como ser humano, através do suor ensanguentado e lágrimas de dor, Jesus nos permite ouvir a conversa dos outros condenados nessa comunhão da morte. Por quê? Porque Ele vai revelar algo especial sobre Si mesmo, algo que é essencial à nossa capacidade de prestar atenção ao Seu convite para segui-Lo.
"E um dos malfeitores que estavam pendurados blasfemava dele, dizendo: Se tu és o Cristo, salva-te a ti mesmo e a nós. Respondendo, porém, o outro, repreendia-o, dizendo: Tu nem ainda temes a Deus, estando na mesma condenação? E nós, na verdade, com justiça, porque recebemos o que os nossos feitos mereciam; mas este nenhum mal fez. E disse a Jesus: Senhor, lembra-te de mim, quando entrares no teu Reino. E disse-lhe Jesus: Em verdade te digo que hoje [isto é, 'esteja certo do que estou dizendo hoje'] estarás comigo no Paraíso" (versículos 39-43).
Aqui Cristo estava preso entre duas mensagens contrastantes. De um lado chegava uma mensagem de autopreservação mesclada com ceticismo e escárnio, concordando com a zombaria da multidão. E, do outro lado, palavras claras, verdadeiras e de compreensão. Que incrível contraste! Ademais, vindas de uma fonte inesperada.
Aquele homem estava sendo honesto sobre si mesmo e seu companheiro criminoso, ou seja, que mereciam essa punição pelos seus crimes. Ele foi preso praticando crimes e agora sofria suas consequências. Além disso, ele entendeu que aquele Homem ao seu lado não tinha feito nada digno de morte, além disso, ele reconheceu que, de alguma forma, Jesus ainda governaria como rei. Talvez ele tenha ouvido Jesus dizer, com dificuldade: "Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem" (versículo 34).
O justo rei de Israel não merecia esse destino. No entanto, aqui estava Ele preso entre esses dois homens. Por que tamanha inocência entre absolutamente culpados? Há setecentos anos, o Espírito de Deus guiou o profeta Isaías a escrever: "Derramou a Sua alma na morte e foi contado com os transgressores [ou fora-da-lei]" (Isaías 53:12).
O grande despertar
Algo estava acontecendo aqui! Um despertar estava ocorrendo enquanto a vida desse homem estava esvaindo-se. Ele estava preso em uma verdade singular, a de que Cristo não merecia aquilo e que havia algo além daquele momento, algo para o qual Cristo poderia convidá-lo — para Seu Reino!
Sua percepção sincera sobre esse homem com uma coroa de espinhos está ilustrada nas palavras de Dorothy Sayers no livro O Maior Drama Já Encenado (1938): "Ele tinha ‘uma beleza diária em Sua vida que nos tornava feios’...” Muitos acharam isso insuportável, continuou Sayers, e por causa disso "as autoridades acharam que a ordem estabelecida das coisas estaria mais segura sem Ele. Então, eles acabaram com Deus em nome da paz e da tranquilidade".
Imagine o encorajamento que esse homem com um passado nebuloso trouxe a Jesus nesse momento. Geralmente, nos concentramos em Simão Cireneu, que transportou o pesado fardo de portador da cruz de Cristo, que caminhava para a morte (Lucas 23:26). Mas aqui, neste momento, estamos presos a mais um lampejo de encorajamento humano, alguém improvável para o moribundo Filho do Homem — reafirmando o entendimento!
O que isso significa para Cristo? Acredito que tudo! Aqui estava uma pessoa se comunicando sucintamente com Jesus, Quem, como ser humano, não desejaria nem merecia estar ali. Essas breves observações expressam a verdade de Isaías 53:8 sobre o Messias, que sofre injustiça ao ser condenado à morte.
Aquele ladrão crucificado declarou uma grande verdade — que Jesus era inocente e que Ele ainda reinaria! E por sua vez, Jesus viu algo especial por baixo da imundície de pecados daquele homem. Ele viu um coração maleável, que poderia ser moldado em outra vida. No apagar das luzes, Ele garantiu a oportunidade de Seu chamado àquele homem. Em suma, Ele quis dizer para segui-Lo até a morte e encontrá-Lo na vida — numa vida nova e ressuscitada em um futuro paraíso.
A importância de conhecer a Cristo
Depois de ler esse relato, você não acha que deveria considerar investir seu tempo com Cristo no Gólgota? Por que isso é tão essencial para aceitar o convite de seguir a Jesus?
O apóstolo Paulo vê dessa maneira ao compartilhar suas mais sinceras esperanças de ser “achado nEle [Cristo]...para conhecê-Lo, e a virtude da Sua ressurreição, e a comunicação de Suas aflições, sendo feito conforme a Sua morte" (Filipenses 3:9-10).
Conhecê-Lo, como declarado aqui, é saber que Ele não foi arrastado para Jerusalém para ser crucificado, pois, na verdade, Ele entrou voluntariamente em Jerusalém para ser sacrificado por você e por mim (Mateus 16:21, João 10:17-18).
Conhecê-Lo é saber que a religiosidade sozinha não é a cura garantida que leva à salvação! (ver Mateus 7:21-23; 23:28). Basta pensar na quantidade de pessoas religiosas que, naquele dia, O menosprezavam enquanto Ele agonizava pendurado na cruz. Absolutamente não! Conhecê-Lo começa com um relacionamento pessoal com nosso Pai Celestial, por meio de Jesus Cristo, quando respondemos ao chamado do alto (João 6:44).
Conhecê-Lo é saber que para “Deus tudo é possível" (Mateus 19:26) e que nunca é tarde para reconhecer a Sua presença e pedir a Sua força para vivermos conforme Sua vontade. Nunca é tarde para iniciar essa conversa. Lembre-se de que nunca foi tarde demais para Sansão. Lembre-se desse criminoso crucificado.
Conhecê-Lo é saber que Cristo geralmente entra em nossa vida nos momentos péssimos, mais do que nos momentos bons. Afinal de contas, Ele afirmou claramente: "O Filho do Homem veio buscar e salvar o que se havia perdido" (Lucas 19:10).
Conhecê-Lo, ao estar preso com Ele no Gólgota, é compreender seu próprio e correto veredicto, ou seja, basicamente, admitir como aquele criminoso anônimo: "Sou culpado — mas Ele não! Eu mereço tudo isso que está acontecendo comigo, e que tentei evitar toda a minha vida".
Conhecê-Lo é ressoar a confissão do rei Davi: "Contra Ti, contra Ti somente pequei" (Salmos 51:4). Deveras sou pecador! (Romanos 3:23; 1 João 1:8-10).
Conhecê-Lo, num sentido mais amplo, é estar preso com Cristo no Gólgota e entender de todo coração que Deus "O fez pecado por nós" (2 Coríntios 5:21).
Conhecê-Lo é saber que Ele não veio para fazer com que boas pessoas sejam ainda melhores, mas para fazer com que pessoas que estavam morrendo vivam uma verdadeira vida pela primeira vez. Até o apóstolo Pedro teve que enxergar isso em si mesmo, como todos nós devemos. Lembre-se que Pedro também teve que encarar Cristo e precisou entender exatamente o que havia feito quando o galo cantou pela terceira vez (Lucas 22:61).
Conhecê-Lo é saber que não há dinheiro suficiente no mundo que pague o Seu sacrifício ou que compre o Seu sangue. Por isso é que Deus diz: "Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isso não vem de vós; é dom de Deus" (Efésios 2:8).
Conhecê-Lo é saber que Deus sempre sabe onde você está e sabe o seu nome, mesmo que ninguém mais saiba que você existe. Basta perguntar ao criminoso anônimo que compartilhou seu tempo e coração enquanto estava preso no Gólgota com Cristo.
Conhecê-Lo é saber que nosso Pai Celestial e Jesus Cristo veem as coisas como se já tivessem acontecido (ver Romanos 4:17). Naquela tarde, antes de morrer, Jesus fez uma promessa àquele homem preso no Gólgota com Ele. Jesus Cristo é Aquele mesmo que declara o fim desde o princípio e afirma enfaticamente: "Farei toda a Minha vontade" (Isaías 46:10).
Talvez seja a hora de nos libertar desse mundo frenético ao nosso redor e dessa vida agitada dentro de você e nos prender a um princípio básico, que se encontra em Salmos 46:10: "Aquietai-vos e sabei que Eu sou Deus".
E é nessa quietude, quando não temos aonde ir e ninguém a quem recorrer, que se encontra o significado de estar preso com Cristo no Gólgota!