Comentário Bíblico
Deuteronômio 4:1-43
A Exortação de Moisés à Obediência
Moisés adverte Israel a não "acrescentar" nem "diminuir" nada dos mandamentos de Deus (versículo 2), mas, em vez disso, todos deveriam "observá-los cuidadosamente" e "viver" em conformidade com eles (versículos 2, 14, 5-6). Então, conhecer a Palavra de Deus não é o suficiente — na verdade, isso é completamente inútil a menos que a pessoa aja de acordo com ela e faça a vontade de Deus (ver Mateus 5:19; Mateus 7:24-27; Tiago 1:22-25). Se Israel fizesse isso, ela seria reconhecida pelos outros como uma nação grande, sábia, entendida, justa e temente a Deus (versículos 6-8). E como esse reconhecimento poderia ser motivo de orgulho, Moisés os adverte a não se esquecerem de Deus e dos milagres que Ele realizou (versículos 9-10). Ele lembra ao povo que essa sábia lei veio de Deus — e que Ele se manifestou a eles na montanha para proclamar Seus Dez Mandamentos (versículo 10).
Naquela época, o povo não viu a "forma" de Deus (versículo 12, NVI). Ele ressalta isso para dissuadir o povo de criar quaisquer imagens dEle. Entretanto, como consequência dessa declaração, alguns acreditam que Deus não tem nenhuma forma definida. Mas essa ideia é completamente falsa, pois Deus tem forma e isso está explicitado em Números 12:6-8. O fato é que Deus criou o homem à Sua imagem, conforme à Sua semelhança (Gênesis 1:26), assim como o filho de Adão, Sete, era à imagem e semelhança de Adão (Gênesis 5:3). Além disso, Deus revelou Sua forma glorificada a Moisés (comparar Êxodo 33:18-23). Tanto a aparência glorificada do Pai quanto a do Filho são descritas na Bíblia (comparar Daniel 7:9, 13; Ezequiel 1:26-28; Apocalipse 1:12-16; 4:2-3; 5:1), provando claramente que Deus tem forma. Além disso, embora o povo em geral não tenha visto nenhuma forma quando Deus falou com eles da montanha, Moisés, Arão, Nadabe, Abiú e os setenta anciãos de Israel viram Sua forma logo depois (Êxodo 24:9-11). Contudo, em nenhum encontro alguém viu totalmente a aparência glorificada do Todo-Poderoso. Na verdade, nenhuma imagem poderia captar realmente a glória de Deus, pois isso O limitaria na mente das pessoas.
Em Deuteronômio 4:13, lemos que Deus "anunciou... Sua aliança, que vos prescreveu, os Dez Mandamentos, e os escreveu em duas tábuas de pedra" (ARA). Alguns interpretaram essa passagem como significando que a Antiga Aliança era o mesmo que os Dez Mandamentos, e que quando essa Antiga Aliança foi abolida, os Dez Mandamentos também foram abolidos. Entretanto, esse entendimento não é correto — já que uma aliança é um contrato ou um acordo, que é baseado na lei, mas não é idêntico à lei. Por exemplo, lemos em Êxodo 24:8 que Deus fez uma aliança com Israel "de acordo com todas essas palavras" (NVI). A Bíblia Viva traduz esse trecho como "nos termos que acabei de ler". Em Êxodo 34:27, novamente se explica que uma aliança é firmada com base na lei, como lemos: "Escreve estas palavras, porque, segundo o teor destas palavras, fiz [ou melhor, farei] aliança contigo e com Israel". Mais uma vez, a Bíblia Viva afirma que "estes são os termos da Minha aliança com você e com Israel". Como já vimos, os Dez Mandamentos estavam em vigor muito antes de Moisés nascer, então a Antiga Aliança não os trouxe à existência — nem mesmo era idêntica a eles. O que a Antiga Aliança não pôs em vigor não poderia ser abolido quando ela se encerrou no momento da morte de Cristo. A razão pela qual os Dez Mandamentos são notadamente enfatizados em Deuteronômio 4:13 é que eles são o coração e o cerne da lei em que a Antiga Aliança foi baseada (comparar Deuteronômio 5:22) — mas a aliança não foi baseada apenas neles (comparar Deuteronômio 4:14).
Moisés começa a admoestar os israelitas novamente para não fazerem nenhuma imagem esculpida, seja qual for a sua forma, para retratar ou representar Deus como um auxílio na adoração (versículos 15-18, 23-25). Além disso, ele os adverte para não adorarem nada mais no lugar do Deus verdadeiro (versículo 19). Anteriormente, em Êxodo 32, Deus havia condenado Israel por fazer um bezerro de ouro para representá-Lo (Êxodo 32:8). Em vez de usar imagens físicas, retratos ou representações de Deus em nossa adoração a Ele, devemos adorar a Deus "em espírito e em verdade" (João 4:24) — mas não com imagens e práticas idólatras adotadas de religiões falsas. Moisés adverte os israelitas que se eles não obedecessem aos mandamentos de Deus, Ele os espalharia entre as nações e apenas alguns sobreviveriam (versículos 26-27). O cumprimento dessa profecia ainda está por vir, pois ela foi dada para o fim dos tempos ou os "últimos dias" (versículo 30, ARA).
Um indício do surpreendente destino do homem se encontra no versículo 19, onde diz que "o sol, a lua e as estrelas, todo o exército dos céus", como uma herança, Deus "repartiu a todos os povos debaixo de todos os céus". Assim, embora a humanidade tenha recebido domínio sobre a Terra apenas no segundo capítulo de Gênesis, devemos, em última análise, herdar todo o universo. Essa é a mesma fascinante mensagem transmitida em Romanos 8:16-25 e Hebreus 2:5-11.
Deuteronômio 4:29 traz um conforto maravilhoso. Essa passagem nos assegura que encontraremos Deus se O buscarmos de todo o nosso coração e alma (comparar Jeremias 29:13). Sem dúvida, Deus não quer apenas parte de nosso afeto, mas todo o nosso ser devotado a Ele (comparar Romanos 12:1-2; Mateus 22:37).