Louvar a Deus em Alto e Bom Som
O apóstolo Pedro testemunhou corajosamente diante de uma plateia no dia de Pentecostes que "Jesus, o nazareno, varão aprovado por Deus entre vós com milagres, prodígios e sinais, que Deus por Ele fez no meio de vós, como vós mesmos bem sabeis" (Atos 2:22).
Você pode não entender, mas esse milagre pode impactar incrivelmente nossas vidas hoje se respondemos a esse chamado. A história dos dez leprosos curados por Cristo está registrada em Lucas 17:11-19. Seu foco está na ingratidão, mas a grande história para nós hoje é como expressar verdadeiramente gratidão pela intervenção de Deus em nossas vidas muito além do nosso primeiro contato com Ele.
Um encontro nada casual
A história começa no versículo 11 com as palavras "E aconteceu que", citando as viagens de Jesus ao norte de Jerusalém entre as regiões da Samaria e da Galileia. Os samaritanos, um povo de origem mista, adorava a Deus de uma forma diferente dos judeus. E os judeus, que se consideravam povo exclusivo de Deus, desprezavam e condenavam ao ostracismo os samaritanos.
As próximas palavras-chave são "ao entrar" no versículo 12, novamente enquadrando o momento do encontro de Jesus com os "dez homens leprosos, os quais pararam de longe". O relato de Lucas continua, dizendo: "E levantaram a voz, dizendo: Jesus, Mestre, tem compaixão de nós!"
Eu não acredito que esse foi um encontro acidental com alguém. O tempo era iminente para que Cristo não apenas tocasse as pessoas com milagres, mas também estendesse a mão para oferecer a elas uma completa transformação muito além daquele momento. Jesus foi deixando muito claro que iria agir na vida daqueles que a sociedade tinha marginalizado ou desprezado—os desesperançados.
Aqueles dez homens, além de suas origens, personalidades, esperanças e sonhos, agora estavam rotulados por um termo—leprosos. A lepra era uma doença infecciosa que causava deterioração física, com dano progressivo à pele e aos nervos subjacentes, deixando os membros em um estado de atrofia e incapacidade.
Aquelas lesões visíveis na pele eram sintoma de que algo errado estava acontecendo por dentro. Há muito tempo, a instrução bíblica aos filhos de Israel era lançar "para fora do arraial a todo leproso . . . tanto homem como mulher" (Números 5:2-3).
O Comentário de Estudo Diário da Bíblia de William Barclay sobre o Evangelho de Lucas menciona que "não havia uma distância estabelecida, mas sabemos que ao menos uma autoridade estabeleceu que quando o vento soprava do leproso para a pessoa sadia, aquele devia ficar de pé, pelo menos a cinquenta metros de distância. Nada pode mostrar melhor a solidão total em que viviam os leprosos" (comentários sobre Lucas 17:11-19).
Então, seria de se admirar os leprosos, em Lucas 17, terem clamado a Jesus por misericórdia? A distância culturalmente prescrita de cinquenta metros e a gravidade de sua doença debilitante exigia que gritassem bem alto.
Algo a fazer e uma mentalidade a conservar
Mas Cristo não os afastaria. Ele não iria condená-los como muitos fizeram na cultura religiosa daquele dia, que acreditava que deficiências físicas ou enfermidades era um resultado direto de ações pecaminosas das pessoas (ver João 9:1-2, por exemplo).
Ao contrário, Ele disse: "Ide, e mostrai- vos aos sacerdotes" (Lucas 17:14), que seria a forma sistemática de exame dos leprosos que podiam sair do acampamento, onde viviam, e voltar à sociedade.
Você notou aqui que Jesus dá uma ordem específica àqueles que queriam segui-Lo? Ele dá-lhes um trabalho a fazer! Seguir a Cristo não é simplesmente olhar para cima e acreditar em preceitos, mas fazer algo aqui embaixo, que Ele lhe pediu, em Sua Palavra para fazer, mas isso pode até parecer humanamente frustrante. Jesus disse aos leprosos para irem se apresentar aos sacerdotes.
E observe o que se seguiu no mesmo versículo: "E aconteceu que, enquanto iam, ficaram limpos."
O que aconteceu logo após esse milagre de mudança de vida? "Um deles, vendo que fora curado, voltou glorificando a Deus em alta voz; e prostrou-se com o rosto em terra aos pés de Jesus, dando-lhe graças; e este era samaritano" (versículos 15-16, grifo do autor).
Então, ao estilo rabínico, Jesus respondeu, transmitindo instruções através de uma pergunta: "Não foram limpos os dez? E os nove, onde estão? Não se achou quem voltasse para dar glória a Deus, senão este estrangeiro? E disse-lhe: Levanta-te, e vai; a tua fé te salvou" (versículos 17-19).
Apenas um, desses dez esquecidos, retornou para expressar gratidão. Incrível como esqueceram muito depressa! Mas aquele homem voltou para Jesus e, está eternamente escrito, glorificava "a Deus em alta voz; e prostrou-se a Seus pés, dando-Lhe graças".
E ele era samaritano—pessoas ridicularizadas e marginalizadas por aqueles que professavam seguir a religião bíblica naqueles dias. No entanto, ele seria um dos muitos heróis de Lucas. Ele seria o Naamã do Novo Testamento, fazendo ressoar as palavras que Cristo pronunciara logo no início em Nazaré (ver Lucas 4:24-27; 2 Reis 5).
Além disso, somos semelhantes a ele. Todos nós ouvimos e fomos tocados pelo mesmo Pai Celestial e Jesus Cristo. Essa história é mais do que um momento ou um evento congelado no tempo. Ela estabelece a maneira que devemos viver hoje diante de Deus e dos homens.
Como eles e nós éramos
Na verdade, a vida daqueles leprosos retrata nossa vida diante de Deus, quando Ele começou a trabalhar com a gente e nos colocou em contato com Seu Filho. Nós estávamos separados de Deus—muito mais longe que cinquenta metros. Estávamos em um mundo diferente e em um caminho diferente e bem longe de Deus.
Nós estávamos exilados da terra da verdadeira vida espiritual. Isaías 59:1-2 descreve o nosso anterior estado espiritual de isolamento antes de Deus entrar em nossas vidas: "As vossas iniquidades fazem separação entre vós e o vosso Deus; e os vossos pecados esconderam o seu rosto de vós, de modo que não vos ouça".
Às vezes, nos esquecemos de onde Deus nos encontrou e começou a trabalhar conosco! Até mesmo os cristãos, guiados pelo Espírito, podem estar propensos à amnésia espiritual. Romanos 3:23 nos dá uma vívida recordação de onde estávamos naquela ocasião: "Porque todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus". E a pena do pecado é a morte (Romanos 6:23). Assim como os leprosos, todos nós éramos "mortos-vivos"—apenas não sabíamos.
Já é hora de responder a esse chamado de despertar, que se encontra na narração da cura milagrosa dos leprosos.
Lembra-se da instrução em Números 5:1-2, que declarava que leprosos tinham que ficar fora do acampamento? Com isso em mente, reflita nas palavras de Hebreus 13:12-13: "Por isso também Jesus, para santificar o povo pelo Seu próprio sangue, sofreu fora da porta. Saiamos pois a Ele fora do arraial, levando o Seu opróbrio".
Jesus Cristo morreu de forma relativamente isolada da comunidade dos homens. Paulo nos explica o motivo em 2 Coríntios 5:21, dizendo que "Deus o fez pecado por nós; para que nele fôssemos feitos justiça de Deus".
A lepra espiritual, que consumiu a humanidade desde o Éden e consome nossas vidas até aceitarmos o dom da redenção de Deus, foi posta em Cristo—"fora do arraial". Na verdade, Ele "era desprezado, e rejeitado dos homens; homem de dores . . . como um de quem os homens escondiam o rosto" (Isaías 53:3). Ele não apenas estendeu a mão para os leprosos como também, em um grande sentido espiritual, identificou-se com a situação deles e sofreu em lugar deles e nosso.
Nosso reconhecimento pessoal do que Cristo fez por nós nos permite ser espiritualmente limpos por dentro e por fora. Cada lesão dessa impureza que trazemos, seja em nossos corações, pensamentos ou atos, é removida.
O apóstolo João deixa claro o que nosso Pai Celestial pediu para Jesus fazer em nosso lugar alcança uma tremenda profundidade e perfeição: "Se confessarmos os nossos pecados, Ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda injustiça" (1 João 1:9). Nossa realidade espiritual é que não somos mais espirituais que os leprosos, mas somos bem recebidos na família espiritual de Deus em um estado de "novidade de vida" (Romanos 6:4) assim como o verdadeiro e incrível milagre que alcançou aqueles leprosos daquela era.
Também clamamos em alta voz?
Então, como podemos imitar o exemplo do samaritano leproso agradecido que "em alta voz glorificava a Deus"? Como eu e você podemos ir "para fora do arraial", como diz Hebreus 13, ao encontro de Jesus Cristo, uma vez e para sempre, praticando Suas instruções? Nós somos advertidos: "Por Ele, pois, ofereçamos sempre a Deus sacrifício de louvor, isto é, o fruto dos lábios que confessam o Seu nome" (versículo 15).
Precisamos buscar a Cristo e estar sempre envoltos nos "negócios do Pai", entendendo o seguinte:
• Deus não entrou em nossas vidas por acidente, mas porque assim foi planejado. Ele é o nosso Criador físico e espiritual. Não adoramos um Salvador acidentalmente, pois Ele não apenas criou o tempo como também é o Mestre dele. Ouvir Suas palavras, enquanto lê este artigo, configura uma chance de encontrá-Lo. O Deus que adoramos não opera por acaso, mas por propósitos determinados (1 Pedro 1:2; 2 Pedro 1:10). Passar a ter um relacionamento com Ele não é uma casualidade cósmica.
• Deus não nos chamou para que desprezássemos os outros, mas para orar e pedir para que eles possam se tornar parte de Sua família. Esse é o chamado de Deus para formar Sua família. É nosso trabalho aceitar Sua família e sempre lembrar que uma vez fomos os "outros"—mas agora podemos nos alegrar porque pela graça de Deus nós Lhe pertencemos por meio de Jesus Cristo (1 Coríntios 3:23).
• Quando Deus entra em nossa vida e começa a realizar a Sua obra em nós (Efésios 2:10), Ele nos dá algo para fazer, assim como deu àqueles. Ele nos dará um trabalho. Certamente, não será visitar um sacerdote levítico, mas ficar atento e obedecer todas Suas instruções. Deus fará por nós o que só Ele pode fazer—curar o nosso coração e remover as feridas pecaminosas do passado, mas Ele também pedirá que façamos nossa parte com fé, que vai exigir olhos que veem além do presente.
• A chegada de Deus em nossas vidas não é passageira, e, portanto, a nossa resposta não pode ser apenas um agradecimento verbal fugaz. Conhecer Deus é um acontecimento único. É uma relação de transformação por toda a nossa vida.
Nossa apreciação pode começar com um agradecimento verbal, mas essa gratidão deve continuar amoldando todos os motivos em nosso coração e pensamentos, raciocínio e ações, que são testemunhados por todos.
Por quê? Porque fomos criados para adorar a Deus em tudo que fazemos, para glorificar Seu nome em tudo o que surge em nosso caminho e para ser uma bênção para todos com quem entramos em contato, assim como exemplo do leproso samaritano agradecido, continua sendo uma bênção para nós.
O futuro nos espera, mas não estamos sozinhos, à medida que continuamos seguindo a Jesus. A questão agora é o quão alto vamos elevar a voz para dar graças a Deus? BN