O Domingo de Páscoa Surgiu dos Antigos Mitos da Ressurreição
Como a adoração de antigos deuses foi associada à morte e ressurreição de Jesus Cristo? Embora os detalhes se percam no tempo, um olhar mais atento ao culto na antiga mitologia nos ajudará a entender como essas práticas pagãs sobreviveram nos costumes populares do Domingo de Páscoa.
O deus babilônico da fertilidade Tamuz e a deusa Ishtar são algumas dessas divindades registradas. Acreditava-se que “Tamuz morria anualmente, passando da alegre terra para o sombrio mundo subterrâneo” (O Ramo de Ouro, James Frazer, Editora Guanabara, Ed. 1982, p. 304).
Esse ciclo sazonal veio a ser relacionado com a suposta morte e ressurreição anuais de Tamuz. “Sob os nomes de Osíris, Tamuz, Adônis e Átis, os povos do Egito e da Ásia ocidental representavam a decadência e o renascimento anuais da vida...que personificavam como um deus que morria e voltava novamente à vida. Em nome e em detalhes, os ritos variavam de lugar para lugar; em substância, eram os mesmos” (p. 303).
Muitos desses ritos giravam em torno de induzir o retorno de Tamuz dos mortos. Uma dessas cerimônias está registrada no livro de Ezequiel, onde ele teve uma visão abominável de mulheres “chorando por Tamuz” na entrada do templo de Deus (Ezequiel 8:14).
Um comentário bíblico diz o seguinte sobre essa passagem: “Tamuz, posteriormente associado ao nome de Adonis e Afrodite, era um deus da fertilidade e da chuva. No ciclo mitológico sazonal, ele morria no início do outono, quando a vegetação murchava. Pelo lamento de Istar, seu renascimento era marcado pelos brotos da primavera e pela fertilidade da terra. Essa renovação era alentada e celebrada por licenciosos festivais da fertilidade...As mulheres lamentavam a morte de Tamuz. Talvez estivessem seguindo também o ritual de Istar, que pranteava o renascimento de Tamuz” (The Expositor’s Bible Commentary, Ralph Alexander, Vol. 6, 1986, pp. 783-784).
E como a adoração de Tamuz e Istar se espalhou pela região do Mediterrâneo, incluindo o território da Israel bíblica, esses deuses passaram a ser adorados com outros nomes: Baal e Astarote, Átis e Cibele e Adonis e Afrodite. Deus condenou veementemente a adoração sensual e pervertida de Baal e Astarote, a “Rainha dos Céus” (Juízes 2:11-15; 3:7-8; 10:6-7; 1 Reis 11:4-6, 31, 33, 16:30-33; 22:51-53; 2 Reis 23:13; Jeremias 7:18).
Costumes pré-cristãos associados a Cristo
Nesses cultos da antiguidade estava a mitologia que acabaria vinculando esses costumes antigos à morte e ressurreição de Cristo. O escritor Alan Watts disse o seguinte: “Seria tedioso descrever em detalhes tudo o que nos foi transmitido sobre os vários ritos de Tamuz, Adônis...e muitos outros...Mas seu tema universal — o drama da morte e ressurreição — faz deles os precursores do Domingo de Páscoa cristão e também dos primeiros “cultos pascais”. Essas cerimônias se assemelham a esses antigos rituais” (Easter: Its Story and Meaning [História e Significado do Domingo de Páscoa, em tradução livre], 1950, 2023, pp. 46-47).
Alan Watts descreve algumas dessas semelhanças e paralelos: “Pouco antes do equinócio vernal [primavera]...os membros desse culto [de Tamuz-Istar, Átis-Cibele e Adonis-Afrodite] faziam um jejum — assim como os cristãos fazem na Quaresma, começando quarenta dias antes do Domingo de Páscoa”(p. 47).
Ele conta que alguns adoradores cortavam uma árvore e a carregavam “com reverência e cerimônia ao templo de Cibele e a colocavam no santuário central [onde]...em sua haste central [ou tronco], estava pendurada uma imagem do jovem deus” (pp. 47-48).
“Então, nos dias restantes do jejum, os fiéis se reuniam para cantar hinos de luto pelo falecido Átis...E até hoje, na Sexta-feira Santa na Veneração da Cruz, os cristãos cantam um hino de luto por outro grandioso que morreu em uma árvore...” (pág. 48).
Quando o jejum chegava ao fim, um rito notável acontecia: “A imagem do falecido Átis era retirada da árvore e enterrada sob o céu crepuscular. Tarde da noite, seus devotos ficavam em pé ao redor do túmulo e cantavam hinos de luto. Mas, próximo ao amanhecer, uma grande luz era acendida, assim como os cristãos hoje em dia acendem o Círio Pascal na véspera do Domingo de Páscoa como símbolo de Cristo ressuscitado” (p. 50).
James Frazer descreve a adoração idólatra desta forma: “A tristeza dos adoradores se transformava em alegria...A tumba era aberta e o deus ressuscitava dos mortos; e quando o sacerdote tocava os lábios dos enlutados com bálsamo, ele sussurrava suavemente em seus ouvidos as boas novas da salvação. A ressurreição desse deus era saudada por seus discípulos como uma promessa de que eles também sairiam triunfantes da corrupção da sepultura. No dia seguinte...a ressurreição divina era celebrada com uma frenética explosão de alegria. Em Roma, e provavelmente em outros lugares, a celebração tomava a forma de um carnaval” (p. 350).
A adoção de uma antiga celebração
Em suas diversas formas, a adoração de Tamuz-Adonis-Átis se espalhou pelo Império Romano, inclusive para Roma. À medida que o cristianismo se espalhava pelo império, aparentemente, os líderes religiosos fundiram costumes e práticas associadas a esse antigo deus “ressuscitado” e os aplicaram ao Cristo ressuscitado.
James Frazer ainda diz: “Sempre que refletimos sobre a frequência que a Igreja habilmente planejava plantar as sementes da nova fé no antigo tronco do paganismo, podemos supor que a celebração do Domingo de Páscoa do Cristo morto e ressuscitado foi implantada em uma celebração semelhante do Adonis morto e ressuscitado” (p. 345).
A esse respeito, o Domingo de Páscoa seguiu o padrão do Natal ao ser oficialmente aprovado e aceito na igreja. Como segue dizendo James Frazer: “Esses mesmos motivos podem ter levado as autoridades eclesiásticas a assimilar a festa do Domingo de Páscoa da morte e ressurreição do Senhor deles ao festival da morte e ressurreição de outro deus asiático [ou do Oriente Médio] que caía na mesma época do ano. Agora, os rituais do Domingo de Páscoa ainda observados na Grécia, na Sicília e no sul da Itália têm, em alguns aspectos, uma notável semelhança com os rituais de adoração a Adonis, por isso sugeri que a Igreja pode ter adaptado conscientemente esse novo festival ao seu predecessor pagão para ganhar almas para Cristo” (p. 359).
Para saber mais por que os costumes atuais do Domingo de Páscoa se originaram dos antigos rituais pagãos, leia “O Domingo de Páscoa Ofusca Uma Verdade Bíblica”.