Três Jardins e Um Propósito—Agora a Próxima Parada
Na última coluna "Siga-Me" (edição de setembro-outubro), embarcamos em uma jornada para explorar como a Escritura se enquadra na moda aparador de livro por conta de duas experiências únicas, mas conectadas ao jardim. Tanto o Jardim do Éden, no relato de Gênesis, como a cidade de Deus, que virá do céu, no fim de Apocalipse é fundamental para entender os consecutivos propósitos de Deus.
A declaração divina em Gênesis 1:26: "Façamos o homem à nossa imagem, segundo a nossa semelhança", foi apenas o início do processo criativo. A conclusão final de "trazer muitos filhos para a glória" (Hebreus 2:10) é uma criação espiritual que ainda está em desenvolvimento. Ou seja, simplesmente Deus ainda não acabou sua obra! Não com a humanidade como um todo ou com você, pessoalmente! Existe muito mais da intenção criativa de Deus do que se está compartilhado no relato inicial de Gênesis.
Ambos os cenários do jardim têm três características comuns: a presença de Deus, a presença da árvore da vida e a presença dos seres criados à imagem e semelhança de Deus. Mas há outras características ausentes no cenário do jardim de Apocalipse 22, que foram mencionadas na experiência do Jardim do Éden. Para entender isso, é essencial que, em nossa jornada, visitemos o segundo jardim – o do meio.
O que ocorreu aqui diz respeito a uma espécie de "cola", ou deveria dizer "coração", que une esses jardins na Escritura. E é aqui que Aquele que interagiu com Adão e Eva no primeiro jardim, o Verbo que se tornou Jesus de Nazaré (João 1:1-4, 14), dirige-se a nós, dizendo "Siga-Me" — e nos convida a esse cenário do jardim para experimentar com Ele os momentos mais íntimos de Sua experiência humana. E é aqui que nos detemos e exploramos o "âmago" deste Filho de Deus, este Filho do Homem, como está escrito nestas eternas palavras: "Não se faça a Minha vontade, mas a Tua” (Lucas 22:42).
Um lugar para limpar o coração
Somos convidados pela Escritura a entrar nesse jardim na última noite da vida humana de Jesus. Nossa visita começa depois que Seus discípulos participaram do pão e do vinho simbólicos que Seu Rabino disse que se refere a Seu próximo sacrifício pessoal. Um dos discípulos, Judas, está a ponto de trai-Lo. Agora, se aproxima o tempo em que Jesus deve ser evidenciado como o Cordeiro Deus, oferecido e sacrificado, pelos pecados do mundo (João 1:29). Ele segue para um local além dos muros de Jerusalém para clarear Sua cabeça e, o mais importante, para limpar Seu coração e permanecer firmemente de acordo com Seu Pai Celestial.
Ele seleciona o Jardim do Getsêmani ("prensa de azeite" em hebraico), um local de encontro muito familiar para o Mestre e Seus discípulos (João 18:2), a centenas de metros da cidade ao longo do Vale de Cedrom, no sopé do Monte das Oliveiras. Seria razoável supor que, frequentemente a comitiva de Jesus desfrutava da sombra daquelas oliveiras, pois viajavam nesta rota comum de Betânia, através do Monte das Oliveiras, até ao templo.
Aqui está uma visão abrangente do que Jesus podia contemplar a oeste, em direção ao Monte do Templo; um local de muitos sacrifícios, e então olhar ao leste para o Monte das Oliveiras, de onde, em breve, Ele subiria ao céu (Atos 1:9-12) e, como predito, onde um dia Ele retornará para resgatar a humanidade (Zacarias 14:3-4).
E aqui, entre o lugar do sacrifício e o local de Sua glória futura, é aonde vem Cristo, no frio da noite, buscar conforto em Seu Pai. Ele precisava de um tempo precioso e único com Aquele com quem havia compartilhado a eternidade, porque antes que o sol se pusesse Ele seria pregado em uma viga de madeira e morreria por você e por mim. De fato, e a hora chegou! Havia mais uma tarefa na Terra que precisava ser realizada — mais um ensinamento que teria que ser repassado pelo exemplo pessoal para aqueles que iriam atender Seu chamado de segui-Lo. Antes de se conseguir uma coroa, é preciso carregar uma cruz (Lucas 14:27).
A escolha entre duas árvores persiste
O que seria realizado aqui contrasta com o primeiro jardim. Adão, juntamente com sua esposa Eva, rejeitou a graça e o mandamento de Deus e foram retirados do Éden e da presença de Deus — porque eles sucumbiram à sua própria vontade e desejos contra o que Deus havia dito.
Eva se apaixonou por uma árvore que “era boa para se comer...agradável aos olhos, e...desejável para dar entendimento" (Gênesis 3:6). Ela ouviu a serpente por bastante tempo e ficou envolvida até ser tarde demais. Ela engoliu suas mentiras de que abandonar as instruções específicas de Deus e participar da árvore do conhecimento do bem e do mal não lhe traria nenhuma consequência. Ela engoliu completamente a ideia de que "certamente não morreria", mas "seria como Deus" (versículos 4-5). Mas ela estava redondamente enganada, e seu marido também não ficou para trás.
Milhares de anos depois, o Espírito de Deus inspiraria o apóstolo João a apresentar um padrão espiritual para medir o fruto dessa árvore. Veja o que João escreveu em 1 João 2:15-17, traçando um paralelo com Gênesis 3:6, entre colchetes:
"Não ameis o mundo, nem o que há no mundo. Se alguém ama o mundo, o amor do Pai não está nele. Porque tudo o que há no mundo, a concupiscência da carne ["boa para se comer"], a concupiscência dos olhos ["agradável aos olhos"] e a soberba da vida ["sereis como Deus"] não vem do Pai, mas sim do mundo. Ora, o mundo passa, e a sua concupiscência; mas aquele que faz a vontade de Deus, permanece para sempre".
O primeiro casal humano sucumbiu à sedução da árvore do conhecimento do bem e do mal, em vez de, através da fé, abraçar a árvore da vida (Gênesis 2:9). Apesar do Éden já ter passado, o fruto rasteiro da árvore do conhecimento do bem e do mal ainda continua tentando a humanidade — seja o Filho do Homem, quando caminhava nesta Terra, ou nós, hoje em dia. Vamos continuar degustando desse fruto?
Sacrifício não é um evento, mas um caminho de vida
Jesus, como "o último Adão" (1 Coríntios 15:45), fez uma escolha diferente no Jardim do Getsêmani. Ele não sacrificaria a confiança de Deus, mas sacrificou-se incondicionalmente. Seu desejo de seguir a vontade do Pai acima de Sua vontade não era meramente um evento, uma ocorrência, mas um caminho de vida. Ele havia perseverado. A porta de entrada para esse jardim, segundo o que ele representava, agora não foi apenas destrancada na sombra das oliveiras, mas já havia sido totalmente aberta alguns anos antes no calor do deserto da Judeia.
E nesse deserto o diabo (a serpente) veio a nosso Salvador com o fruto da árvore proibida (ver Mateus 4:1-11). Ele tentou usar a fome de Jesus, por causa do jejum, apelando para a luxúria da carne, em vão tentando seduzi-Lo a transformar pedras em pão.
O diabo tentou derrubar Jesus pela soberba da vida, instando-O a pular do pináculo do templo para provar quem Ele era. Satanás se esforçou para distorcer a visão de nosso Salvador e curvá-la à luxúria dos olhos, oferecendo-Lhe um passeio virtual pelos reinos deste mundo e sua glória.
Jesus ganhou em todas as ocasiões, até mesmo quando o diabo se esforçou para atraí-Lo com uma série de "se" em relação ao Seu status como Filho amado de Deus. Pressionado, de forma espantosa, como o Filho do Homem em um deserto hostil, mas sempre fortalecido como o Filho de Deus, Jesus completou a experiência no deserto com um "GPS espiritual" que o levaria passo a passo ao Gólgota: "Porque está escrito: Ao Senhor Teu Deus adorarás, e só a Ele servirás” (Mateus 4:10).
Mas agora esse "âmago" centrado em Deus é transferido e fixado no tempo do cenário desse jardim do meio. Aqui Jesus enfrenta a grande decisão de viver Seu tempo ou considerar a eternidade com o Pai e, finalmente, conosco. E é aqui que Ele deve, por meio do Espírito Santo, subjugar os anseios de Sua carne para cumprir as palavras de Isaías 53:5-6: "Mas Ele foi ferido por causa das nossas transgressões, e esmagado por causa das nossas iniquidades; o castigo que nos traz a paz estava sobre Ele...o SENHOR fez cair sobre Ele a iniquidade de todos nós".
Ele compreende inteiramente o que acontecerá quando se afastar desse local. No início de Seu ministério, Ele declarou que seria "levantado", referindo-se a Sua crucificação (João 3:14). E, como os outros judeus daquela época, provavelmente Ele teria visto a agonia e a degradação sofridas por aqueles que eram crucificados. Portanto, seria de admirar que, como registra Mateus 26:37-38, Ele estivesse profundamente “triste” e "angustiado"?
"Abba, Pai" — sempre disponível, sempre se importando
E é aqui, neste jardim, que Jesus vem abrir Seu coração em três diferentes momentos de oração (Mateus 26:39, 42, 44) para o Único que pode lhe dar força, sabedoria e encorajamento para passar por essa última fase de Sua existência terrena. E aqui Ele se comunica com o Único que está atento ao seu sofrimento íntimo, mesmo quando Seus companheiros terrenos dormem a poucos passos de distância.
Aqui ouvimos que Jesus pede, em agonia, “que, se fosse possível, passasse dEle aquela hora" (Marcos 14:35). E, como ser humano, Ele queria dizer isso mesmo!
Mas no próximo suspiro, Ele se dirige a Deus usando o termo aramaico "Abba" — Querido Pai (versículo 36) — falando com Deus não apenas como uma entidade suprema, mas como um Pai que está próximo e que acompanha a experiência dEle. O vínculo íntimo nesse relacionamento é profundo e se manterá enquanto Jesus ora novamente: "...Pai, tudo Te é possível; afasta de Mim este cálice; todavia não seja o que Eu quero, mas o que Tu queres” (versículo 36).
E é aqui, neste jardim do meio, que Jesus declara não se importar com o que está vindo, Ele abraça a árvore da vida — e entrega Sua vida para que essa árvore proibida e sua maldição não lance raízes no futuro jardim da cidade de Deus, mostrada em Apocalipse.
Em questão de horas, o segundo Adão morrerá — mas não separado da presença de Deus, como ocorreu com o primeiro Adão. Sem dúvida, Cristo é "o caminho, a verdade e a vida" (João 14:6). E, nesse jardim, frequentemente, Ele nos levou a essa marca de total entrega de vida pessoal, contrastando os ganhos de curto prazo com os ganhos de longo prazo quanto à relação com o Pai Celestial e àqueles que Ele traz para nossas vidas.
Da próxima vez, examinaremos estas palavras de Jesus: "Vou preparar-lhes lugar" (João 14:2, NVI), quando Ele nos diz para segui-Lo no terceiro jardim — a Cidade de Deus, descrita em Apocalipse 22.