O Que Aconteceu Com as Crenças da Igreja Primitiva?
O escritor dinamarquês e filósofo religioso do século XIX, Søren Kierkegaard, escreveu que o "o cristianismo do Novo Testamento simplesmente não existe". Ele questionou sobre o quanto o cristianismo popular havia se desviado do caminho de vida descrito e praticado na Bíblia.
Isso parece estranho para a maioria das pessoas hoje, mas ele estava falando sério. Será possível que o cristianismo de hoje seja muito diferente dos ensinamentos dos apóstolos? Alguns eruditos e estudantes sérios da Bíblia reconhecem que as práticas da Igreja primitiva são muito diferentes das de hoje.
Norbert Brox, professor de história da igreja primitiva da Universidade de Regensburg, na Alemanha, descreveu o contexto e a perspectiva da Igreja primitiva nestes termos:
"Assim, as primeiras comunidades [cristãs] foram grupos que se formaram do judaísmo...antes os cristãos acreditavam no Deus de Israel: sua Bíblia era a Bíblia dos judeus...Eles continuaram a observar (como fez Jesus) a prática judaica de adoração no templo e a lei (Atos 2:46; 10:14), e deu aos estrangeiros a impressão de ser uma seita judaica (Atos 24:5, 14; 28:22), e não uma nova religião. Provavelmente, eles mesmos também se viam como judeus" (Uma Breve História da Igreja Primitiva, 1996, p. 4).
Isso é o que vemos na Bíblia, conforme registrado no livro de Atos e nas cartas dos apóstolos. Mas as coisas mudariam dramaticamente, como vemos a situação da Igreja no segundo século. O historiador Jesse Hurlbut diz o seguinte sobre esse tempo de transformação: “Nós intitulamos a última geração do primeiro século, 68-100 EC, ‘A Era das Trevas’, em parte porque as trevas da perseguição vieram sobre a igreja, porém mais especificamente porque de todos os períodos da história [da Igreja], essa é a era sobre a qual sabemos pouquíssimo. Não temos mais a brilhante luz do Livro de Atos para nos guiar, e nenhum autor dessa era tem preenchido esse espaço vazio na história...
“Por cinquenta anos, após a vida de São Paulo, uma cortina pairou sobre a igreja, através da qual nos esforçamos em vão para olhar, e quando finalmente ela se levanta, cerca do ano 120 EC com os escritos dos mais antigos padres da igreja, encontramos uma igreja, em muitos aspectos, muito diferente daquela dos dias de São Pedro e São Paulo” (A História da Igreja Cristã, 1970, p. 33). Como ocorreu essa transformação nas práticas do cristianismo?
As principais mudanças no cristianismo
Apenas algumas décadas depois da morte e ressurreição de Jesus Cristo, alguns que se apresentaram como fiéis ministros de Cristo e começaram a apresentar ensinamentos heréticos. O apóstolo Paulo descreveu esses homens e seus métodos: "Pois os tais são falsos apóstolos, obreiros fraudulentos, disfarçando-se em apóstolos de Cristo. E não é de admirar, porquanto o próprio Satanás se disfarça em anjo de luz. Não é muito, pois, que também os seus ministros se disfarcem em ministros da justiça..." (2 Coríntios 11:13-15, grifo nosso).
Esses mestres pareciam representar a Cristo em um tempo em que grande parte das pessoas não era muito instruída. Para os crentes iletrados da época, provavelmente seus ensinamentos pareciam razoáveis e até certos. No entanto, esses mestres eram realmente instrumentos de engano nas mãos de Satanás, e costumavam induzir os outros ao erro. Talvez muitos nem tenham percebido seus próprios erros e motivos equivocados.
Com o tempo o dano já estava feito. O apóstolo João, aparentemente o último sobrevivente dos doze discípulos originais, escreveu sobre um falso ministro que havia ascendido ao poder dentro da Igreja. Este homem estava rejeitando abertamente os emissários de João e excomungando alguns membros fiéis (3 João 9-10). Esse é um exemplo chocante da terrível situação da Igreja no fim do primeiro século.
Os escritos de João, os livros e as cartas que formariam o Novo Testamento, estavam completos. No entanto, sua morte pôs fim aos relatos de testemunhas oculares confiáveis sobre os eventos e assim as mudanças na Igreja cessaram completamente. Então, restaram relatos confusos e contraditórios nos séculos seguintes.
Perseguição conduz a mudanças
Parte da falta de informações sobre esse tempo decorre da perseguição contra a Igreja. Sob o imperador Nero (54-68 EC), os cristãos foram acusados de incendiarem a cidade de Roma e muitos morreram — inclusive os apóstolos Paulo e Pedro. Mais tarde, todos os habitantes do Império Romano foram obrigados a adorar o imperador como um deus. Os cristãos e judeus que, em obediência aos mandamentos de Deus, se recusassem a cumprir esse edito eram perseguidos incessantemente. Por vários séculos, ondas de perseguição assolaram o cristianismo e o judaísmo.
Os judeus que viviam na Terra Santa se revoltaram duas vezes contra o domínio romano — no primeiro século e no segundo. Particularmente, a seguinte rebelião trouxe perseguição aos judeus e ao judaísmo. O imperador Adriano (117-138 EC), ao conquistar Jerusalém, arrasou-a e construiu uma nova cidade onde os judeus foram proibidos até mesmo de entrar. Ele também proibiu a circuncisão e a observância do sábado.
O professor Brox descreve o efeito disso sobre a Igreja: "Os judeus cristãos da Palestina foram expulsos na Primeira Guerra Judaica (66-70 EC), mas depois voltaram para Jerusalém; No entanto, após a revolta do Bar Kokhba, a Segunda Guerra Judaica contra os romanos (132-135 EC), eles tiveram que deixar a terra porque, como judeus, eles haviam sido circuncidados e agora todos os judeus foram banidos sob pena de morte. Então, nessa época, isso significou o fim da igreja [de Jerusalém]” (Brox, p. 19).
A partir dos escassos registros históricos, parece que, para evitar punições, um número significativo de cristãos começou a evitar identificar-se com o judaísmo durante esse período de intensa perseguição de judeus. A parte mais visível do cristianismo começou uma transição significativa dos ensinamentos dos apóstolos para uma filosofia religiosa antissemita.
As antigas práticas em comum com o judaísmo — como o descanso e o culto no dia de sábado (o sétimo dia da semana, desde o pôr do sol de sexta-feira ao pôr do sol de sábado) e observância das festas ordenadas por Deus na Bíblia — rapidamente começaram a diminuir e novos costumes penetraram na Igreja. A maioria dos que se identificaram como cristãos não tinha coragem suficiente para enfrentar as contínuas perseguições para permanecer fiel aos costumes ensinados pelos apóstolos de Cristo.
O debate sobre a Páscoa e o Domingo de Páscoa
O historiador da igreja Eusébio, relatando sobre o Concílio de Niceia (325 EC), descreve um debate que remonta ao segundo século entre Policarpo, discípulo do apóstolo João, que pediu aos cristãos que continuassem a observar a Páscoa bíblica [no dia 14 do calendário hebraico, como Cristo observou] como um memorial da morte de Cristo e Aniceto, bispo de Roma (155-166 EC), que defendia uma celebração da ressurreição de Cristo no Domingo de Páscoa. Mais tarde, o bispo de Roma Vítor I (189-199 EC) emitiu um ultimato para que todos "seguissem a prática dominical da igreja romana e da maioria das outras igrejas" (Brox, p. 124).
Em Niceia, o novo costume do Domingo de Páscoa sobrepujou a Páscoa bíblica. O imperador romano Constantino decretou que aqueles que se recusassem a seguir a liderança da igreja romana eram considerados hereges e seriam excomungados. Sua carta resultante mostrou a profundidade de seus sentimentos em relação às práticas que ele considerava "judaicas".
"Parece ser indigno", escreveu ele, "que na celebração dessa mais santa festa [Domingo de Páscoa], devêssemos seguir a prática dos judeus [Páscoa no dia 14 do calendário hebraico], que impiamente sujaram suas mãos com enormes pecados e, portanto, estão devidamente afligidos com a cegueira de alma...Não devemos ter nada em comum com esse detestável público judaico: porque recebemos de nosso Salvador uma maneira diferente...
“Esforce-se e ore continuamente para que a pureza de sua alma não seja em nada manchada pela comunhão com o costume desses homens perversos...Todos devem se unir ao desejo que parece exigir a razão, evitando toda participação na conduta perjurada dos judeus” (Eusébio, Vida de Constantino 3, 18-19, Pais Nicenos e Pós-Nicenos, 1979, segunda edição, Vol. 1, pp. 524-525).
Constantino endossa o "cristianismo"
O reinado de Constantino como imperador (306-337 EC) mudou drasticamente a direção que o cristianismo assumiria. Sob o seu governo, o cristianismo tornou-se a religião oficial do Império Romano, e ele foi batizado (embora em seu leito de morte).
Mas qual era a natureza do cristianismo que ele endossou?
Até agora, muita coisa já havia mudado. Charles Guignebert, professor de história do cristianismo da Universidade de Paris, observa: "Observe a Igreja cristã do início do século IV, portanto, terá dificuldades de reconhecê-la em sua comunidade dos tempos apostólicos, ou melhor, não conseguiremos reconhecê-la..." (A História do Cristianismo Primitivo, 1927, p. 122).
Veja também as notáveis conclusões do historiador britânico Paul Johnson sobre Constantino: "Ele mesmo parece ter sido um adorador do sol, um dos vários cultos pagãos antigos que tinham observâncias em comum com os cristãos. Assim, os seguidores de Isis adoravam uma madona que cuidava de seu santo filho; o culto de Átis e Cibele celebrava um dia de sangue e jejum, seguido da festa de ressurreição de Hilarias, um dia de alegria, em 25 de março; os elitistas mitraicos, muitos dos quais eram altos oficiais do exército, comiam uma refeição sagrada. É bem provável que Constantino era um mitraico e seu arco do triunfo, construído após sua "conversão", celebrava o deus do sol ou o ‘sol invicto’".
"Muitos cristãos não faziam uma distinção clara entre seu próprio culto e esse culto ao sol. Eles se referiam a Cristo como aquele que ‘guiava sua carruagem pelo céu’: eles realizavam seu serviço religioso no domingo, ajoelhavam-se para o Oriente e tinham sua festa da natividade em 25 de dezembro, o aniversário do sol no solstício de inverno. Durante o último avivamento pagão sob o imperador Juliano, muitos cristãos apostatavam facilmente por causa dessa confusão;... Constantino nunca abandonou o culto ao sol e manteve o símbolo do sol nas moedas...
"[Constantino] sem dúvida, compartilhou e popularizou sua visão entre os soldados de que todos os cultos religiosos deviam ser respeitados para apaziguar seus respectivos deuses...Muitos de seus arranjos eclesiásticos indicam que ele queria uma Igreja estatal, tendo o clero como funcionários públicos. Seu próprio papel pagão de deus-imperador não foi completamente banido — isso é testemunhado pelas cabeças colossais e estátuas de si mesmo por todo seu império — embora ele preferisse a ideia de um rei-sacerdote.
"Como a igreja cristã, aparentemente de bom grado, pôde acomodar esse megalomaníaco esquisito em seu sistema teocrático? Houve uma barganha consciente? Qual lado se beneficiou mais desse casamento indecente entre a Igreja e o Estado? Ou, em outras palavras, o império se rendeu ao cristianismo ou o cristianismo se prostituiu com o império?" (História do Cristianismo, 1976, pp. 67-69).
Isso é uma confissão notável diante do fato de que o apóstolo João, como registrado em Apocalipse 17, teve em uma visão profética de uma mulher que representa uma grande igreja falsa agindo como prostituta com os reis do mundo (para saber mais, veja “A Reforma Protestante Corre o Risco de Ser Anulada?").
Do Sábado ao domingo
O apego de Constantino à adoração ao sol levou-o a impor uma mudança no dia de descanso semanal para o cristianismo. "Em 321, Constantino apresentou o domingo como o dia de descanso semanal para a sociedade que ele tinha cristianizado como parte de sua política religiosa, e isso não deu nenhum trabalho...O descanso do trabalho no domingo cristão foi derivado do mandamento do sábado judaico, com o qual o domingo não tinha nenhuma conexão...Então, o domingo atual surgiu... através de uma legislação estatal da antiguidade tardia" (Brox, p. 105).
Por algum tempo, nesse cristianismo já grandemente transformado, alguns continuaram a observar o Sábado e outras festas observadas por Jesus e os apóstolos. Mas isso não iria durar muito.
Robin Fox, conferencista de história antiga da Universidade de Oxford, disse: "Na década de 430 EC, o Concílio de Laodiceia proibiu a observância cristã do Sábado judaico, a aceitação dos pães asmos dos judeus e a observância das festas judaicas" (Pagãos e Cristãos, 1987, p. 482).
Transformado pelo paganismo
Enquanto as práticas dos apóstolos estavam sendo banidas, as tradições de outras religiões estavam sendo incorporadas e rotuladas como cristãs. O historiador John Romer escreveu:
"Sutilmente, tão sutil que os próprios bispos não tinham percebido, os deuses antigos tinham entrado em suas igrejas como o ar do Mediterrâneo. E ainda vivem no ritual cristão, na iconografia e nas festas do cristianismo...O antigo símbolo da vida, o ankh, que os deuses tinham carregado em suas esculturas há milhares de anos, foi facilmente transformado na cruz cristã; A figura de Isis amamentando seu filho Horus, Isis Lactans, tornou-se a figura da Virgem com Jesus em seu seio...
"Em Roma, Rômulo e Remos foram trocados pelos santos bíblicos Pedro e Paulo. E ainda no século V, o Papa tinha que parar a congregação na madrugada durante a procissão de São Pedro para não subir os degraus da igreja para não ofender o Sol, o deus do sol nascente.
"Da mesma forma, a data 25 de dezembro, agora ocasião do aniversário de Cristo, também era o dia do festival ao Sol Invicto [o sol inconquistado]...Comemorado com o corte de galhos verdes, onde se pendurava alguma luz sobre eles, e os presentes eram dados em nome desse deus. O festival semanal do dia do Sol — Sunday [em inglês, dia do sol] — tornou-se o Sábado cristão..." (Testamento: A Bíblia e a História, 1988, pp. 230-231).
Para expandir o poder e a influência da igreja universal, sua liderança acolheu muitos novos convertidos — e muitas novas práticas — na igreja. O professor Guignebert descreve esse processo: "Agora, no início do século V, os ignorantes e os semicristãos se aglomeravam em grande número na Igreja...Eles não tinham deixado nenhum de seus costumes pagãos...Os bispos daquele período tiveram que se contentar com rearranjar, da melhor maneira possível e, de forma experimental, os defeitos chocantes da percepção de fé cristã da parte deles...
"[Ensinar devidamente os conversos] estava fora de questão; eles tinham que se contentar em ensiná-los nada mais que o símbolo do batismo e, em seguida, batizá-los em massa, adiando até uma data posterior a tarefa de erradicar suas superstições, que continuavam intactas...Esta "data posterior" nunca chegou, e a própria Igreja foi quem se adaptou, tanto quanto podia, a eles e as seus costumes e crenças. Por sua parte, eles se contentaram em vestir seu paganismo em um manto cristão” (p. 208-210).
Guignebert descreve o resultado dessa síntese bizarra, que formou o cristianismo: "Os antigos festivais [agora são] observados como feriados e comemorados em todo o país, e a Igreja só conseguiu neutralizar seu efeito, buscando tirar proveito disso. A partir desse ponto de vista, não há nada mais estranho do que as instruções dadas pelo [Papa] Gregório Magno ao monge Agostinho, seu missionário na Inglaterra.
"Ele deve transformar os templos em igrejas, depois de terem sido purificados cerimonialmente; e substituir os sacrifícios do diabo por procissões em honra a algum santo, com uma oferta de bois para a glória de Deus e a distribuição de carne entre a congregação. Além disso, o rei da Ânglia Oriental, Redwald, depois de seu batismo e confissão cristã, teve o cuidado de manter oposto ao altar de sua igreja, onde se celebrava a missa, outro altar onde os sacrifícios exigidos pelos deuses antigos eram realizados" (p. 214).
Guignebert também observa: "Às vezes, é muito difícil dizer exatamente de qual ritual pagão um rito cristão em particular é derivado, mas certamente o espírito do ritualismo pagão foi gradualmente impresso no cristianismo, de tal forma que, finalmente, o quadro completo pode ser encontrado distribuído através de suas cerimônias" (p. 121).
O que Deus tem a dizer sobre isso?
Durante os primeiros séculos, o cristianismo foi radicalmente transformado. Os líderes da entidade mais visível do cristianismo — a Igreja Católica Romana, agora apoiada pelo poder do Estado — ignoraram as instruções de Deus e aceitaram uma prática pagã após outra, e ainda perseguiam aqueles que continuavam seguindo os ensinamentos de Jesus e dos apóstolos.
Eles desdenharam esta advertência de Deus: "Guarda-te para que não te enlaces para as seguires [as nações pagãs], depois que elas forem destruídas diante de ti; e que não perguntes acerca dos seus deuses, dizendo: De que modo serviam estas nações os seus deuses? pois do mesmo modo também farei eu. Não farás assim para com o SENHOR teu Deus...Tudo o que eu te ordeno, observarás; nada lhe acrescentarás nem diminuirás" (Deuteronômio 12:30-32).
Os apóstolos entenderam as instruções de Deus e resistiram firmemente a esse tipo de mudanças que, mais tarde, se infiltraram na Igreja. Afinal, esta instrução fazia parte das "Escrituras Sagradas", a única Bíblia que eles tinham na época (2 Timóteo 3:14-17).
Embora muitas práticas flagrantemente não cristãs tenham sido atenuadas em séculos seguintes, basta fazer pesquisas rápidas para que muitas dessas práticas populares tenham suas raízes reveladas.
Mas o que é igualmente lamentável é que, ao abandonar as práticas de Jesus e dos apóstolos, muitos têm perdido a compreensão completa do verdadeiro cristianismo.
Mas certamente ainda existem cristãos que seguem fielmente as práticas e os ensinamentos de Jesus e dos apóstolos e que apreciam a bênção do discernimento do grande plano de Deus para toda a humanidade. Eles descobriram o caminho de vida "apertado" que poucos encontram (Mateus 7:14). E com a ajuda de Deus, você também pode encontrar esse caminho!
As Advertências de Jesus Sobre o Abandono da Verdade
Jesus Cristo advertiu que os homens mudariam seus ensinamentos. Ele estava certo. Será possível que o cristianismo foi radicalmente transformado em seus primeiros séculos? Por incrível que pareça, tanto Jesus Cristo quanto os apóstolos advertiram sobre essas mudanças que ocorreriam na Igreja. Essas advertências eram sem sentido ou Cristo previu mesmo uma ameaça sutil e mortal para a religião que leva Seu nome?
Observe o tom sinistro de Suas advertências para Seus seguidores: “Guardai-vos dos falsos profetas, que vêm a vós disfarçados em ovelhas, mas interiormente são lobos devoradores” (Mateus 7:15).
Ele explicou: "Nem todo o que me diz: SENHOR, SENHOR! entrará no reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de Meu Pai, que está nos céus. Muitos Me dirão naquele dia: SENHOR, SENHOR, não profetizamos nós em Teu nome? e em Teu nome não expulsamos demônios? e em Teu nome não fizemos muitos milagres? Então lhes direi claramente: Nunca vos conheci; apartai-vos de Mim, vós que praticais a iniquidade" (versículos 21-23).
Jesus sabia que alguns fingiriam obedecer aos Seus ensinamentos, mas suas atitudes revelariam seus motivos. “E por que me chamais: SENHOR, SENHOR, e não fazeis o que Eu vos digo?", perguntou-lhes (Lucas 6:46).
Como isso seria possível? Pouco antes de Sua morte, Jesus descreveu aos discípulos as tendências que começariam em um futuro próximo e culminariam antes de Seu futuro retorno à Terra. Ele avisou sobre os falsos mestres que "iriam surgir e enganariam a muitos" (Mateus 24:11). Muitos deles alegariam vir em Seu nome e que O representava (versículo 5), mas ensinariam uma mensagem diferente. Muitos seriam vítimas de seus ensinamentos enganosos, advertiu Cristo.
Observe que o engano se concentraria em Sua pessoa. Eles diriam que Jesus era o Cristo, mas enganariam a muitos. O problema girava em torno da obediência a Cristo (Lucas 6:46). A adoração a Jesus Cristo deve sempre vir acompanhada da observância dos mandamentos de Deus. Essas tendências enganosas incluem o surgimento de "falsos cristos e falsos profetas, e farão grandes sinais e prodígios; de modo que, se possível fora, enganariam até os escolhidos" (Mateus 24:24). Os seus poderes e ensinamentos serão tão grandes, disse Jesus, que até mesmo aqueles estiverem firmemente fundamentados na verdade bíblica correriam o risco de serem desviados.
Essa grande obra enganosa se infiltrou na Igreja como Jesus havia profetizado? Sem dúvida. O apóstolo Paulo proferiu esta triste previsão aos líderes da congregação de Éfeso: “Eu sei que depois da minha partida entrarão no meio de vós lobos cruéis que não pouparão rebanho, e que dentre vós mesmos se levantarão homens, falando coisas perversas para atrair os discípulos após si” (Atos 20:29-30).
Fazendo eco às advertências de Jesus sobre aqueles que iria distorcer Suas palavras para ensinar iniquidades — a desobediência às instruções da lei de Deus — Paulo observou que ‘o mistério da iniquidade [rejeição das leis de Deus] já opera’ (2 Tessalonicenses 2:7) e continuaria até Cristo pôr fim a isso em Seu retorno (versículo 8).
O apóstolo Pedro também advertiu sobre essa influência enganosa na obra da Igreja primitiva. "Mas houve também entre o povo falsos profetas, como entre vós haverá falsos mestres, os quais introduzirão encobertamente heresias destruidoras, negando até o Senhor que os resgatou, trazendo sobre si mesmos repentina destruição" (2 Pedro 2:1).
Da mesma forma, o apóstolo João advertiu aos irmãos de toda a Igreja: “Amados, não creiais a todo espírito, mas provai se os espíritos vêm de Deus; porque muitos falsos profetas têm saído pelo mundo" (1 João 4:1).
Ao considerar essas advertências e declarações, seria bom examinarmos as raízes do cristianismo e observarmos se, de fato, essas tendências influenciaram aqueles que se autodenominam cristãos — e até mesmo suas crenças!
O Que a Igreja Primitiva Acreditava e Praticava?
O livro de Atos é um relato de testemunhas oculares da Igreja primitiva sobre a morte de Cristo até cerca do ano 60 EC. O capítulo 2 registra o início da Igreja, quando Deus enviou o Seu Espírito para cento e vinte seguidores de Jesus Cristo.
Muitos leitores da Bíblia estão familiarizados com os acontecimentos milagrosos daquele dia — que o lugar onde estavam reunidos foi preenchido pelo som de um vento forte e algo que parecia ser línguas de fogo pousaram sobre os que estavam ali reunidos. Outro milagre ocorreu quando essas pessoas, agora cheias do Espírito de Deus, começaram a falar os idiomas dos povos de muitos países, para que todos pudessem entender suas palavras.
Muitas vezes, o dia em que esses eventos ocorreram é ignorado nesse relato, o dia de Pentecostes (Atos 2:1), uma das festas que Deus ordenou para o Seu povo muitos séculos antes (Levítico 23). Ao revelar essas festas, Deus disse que “são estas as minhas festas...as festas fixas do Senhor, as santas convocações” (versículos 2, 4, ARA). Deus proclamou que essas festas seriam um “estatuto perpétuo por vossas gerações” (versículos 14, 21, 31, 41).
Os Evangelhos revelam que Jesus Cristo observou as mesmas festas (Mateus 26:17-19, João 7:10-14, 37-38). Tanto o livro de Atos como as cartas de Paulo mostram os apóstolos guardando essas festas durante as décadas posteriores à crucificação e ressurreição de Cristo (Atos 2:1-4; 18:21; 20:6, 16; 27:9).
A maioria das igrejas ensina que as festas foram “pregadas na cruz” e que, de alguma forma, foram anuladas pela morte de Cristo. No entanto, o registro inconfundível da Bíblia mostra que a Igreja primitiva continuou a observá-las, porém com uma melhor compreensão de seu significado espiritual.
Ao falar de uma dessas festas ordenadas por Deus, o apóstolo Paulo exortou a igreja em Corinto — um grupo misto de gentios e judeus crentes — a celebrar "a festa, não com o fermento velho, nem com o fermento da malícia e da corrupção, mas com os ázimos da sinceridade e da verdade" (1 Coríntios 5:8). Paulo estava se referindo claramente à Festa dos Pães Asmos (ver Levítico 23:6, Deuteronômio 16:16).
Paulo explicou o significado da Páscoa (1 Coríntios 5:7; Levítico 23:5) e deu instruções a esses gentios e judeus crentes sobre a maneira correta de observar essa cerimônia (1 Coríntios 11:23-28).
As inúmeras referências nos Evangelhos, em Atos e nas epístolas de Paulo levam a uma questão óbvia: Desde que Jesus, os apóstolos e a Igreja primitiva observaram esses dias, por que as igrejas não os ensinam e nem os observam hoje? Afinal, Paulo fez uma conexão direta entre as festas e Jesus, Seu propósito e Seu sacrifício pela humanidade (1 Coríntios 5:7). (Para saber mais sobre essas festas, leia "Por Que o Cristianismo Rejeita os Dias Sagrados do Próprio Cristo?").
Os evangelhos e o livro de Atos são igualmente claros ao informar que Cristo, os discípulos e a Igreja primitiva guardaram o sábado semanal — do pôr do sol de sexta-feira ao pôr do sol de sábado, o sétimo dia da semana — como seu dia de descanso e adoração (Marcos 6:2 Lucas 4:31-32; 13:10; Atos 13:14-44; 18:4). Jesus até disse que Ele mesmo é "Senhor do sábado" (Marcos 2:28).
Era costume de Jesus ir à sinagoga todos os Sábados para adorar (Lucas 4:16). Ao contrário do ensinamento daqueles que dizem que Paulo abandonou o Sábado, pois também era seu costume ir à sinagoga todos os Sábados (Atos 17:1-3), usando a oportunidade para ensinar aos outros sobre Jesus Cristo.
O Sábado semanal é outra festa de Deus, como aquelas mencionadas anteriormente. De fato, está listado como a primeira de Suas festas (Levítico 23:1-4). Ele está incluso nos Dez Mandamentos (Êxodo 20:8-11, Deuteronômio 5:12-15).
Como as outras festas de Deus, o Sábado é ignorado pela maioria esmagadora das igrejas. Ao invés de guardar o Sábado como ordenou Deus, a maioria das igrejas se reúne no primeiro dia da semana―domingo―um dia que nunca foi ordenado na Bíblia como dia de adoração. Por quê? Se formos observar algum dia como dia de descanso semanal e de culto, não deveria ser o mesmo dia em que Jesus Cristo e os apóstolos guardaram? (Para saber mais, não deixe de solicitar ou baixar nosso guia de estudo bíblico gratuito O Sábado: de Pôr do sol a Pôr do sol: O Dia do Descanso de Deus).
Encontramos também outras diferenças no ensino e na prática. Muitas igrejas ensinam que a obediência à lei de Deus é desnecessária e que Cristo cumpriu a lei para nós ou que a lei foi “pregada na cruz” com Ele. Isso vai diretamente contra às palavras do próprio Jesus (Mateus 4:4; 5:17-19) e do ensinamento e prática dos apóstolos (Atos 24:14; 25:8, Romanos 7:12, 22; 1 Coríntios 7: 19; 2 Timóteo 3:15-17).
Seguindo o exemplo de Cristo, os apóstolos pregaram, poderosamente, sobre o retorno de Jesus Cristo para estabelecer o Reino de Deus (Lucas 4:43; 8:1; 21:27, 31; Atos 1:3; 8:12; 14:22; 19: 8; 28:23, 31). Mas Paulo advertiu que, mesmo em sua época, alguns já estavam pregando “outro evangelho” (2 Coríntios 11:4, Gálatas 1:6).
Vemos muita confusão nas igrejas sobre o que é o evangelho. Elas o veem mais como uma mensagem sobre a história da vida e morte de Cristo para “salvar-nos”, mas realmente não entendem por que Ele veio e por que tinha que morrer e, assim, não proclamam a mensagem do Reino de Deus que o próprio Cristo ensinou (Marcos 1:14-15).
Semelhantemente, Jesus e os apóstolos não ensinaram que os justos iriam ascender ao céu no momento da morte (João 3:13, Atos 2:29, 34), e eles entendiam que o homem não possui uma alma imortal (Ezequiel 18:4, 20; Mateus 10:28), nem que passariam a eternidade no céu ou inferno. (Para saber a verdade sobre estas questões, baixe ou solicite nossos guias de estudo bíblicos gratuitos O Evangelho do Reino de Deus e O Céu e o Inferno: O que Realmente Ensina a Bíblia?).
Além disso, em nenhum lugar encontramos os feriados religiosos populares, como o Natal, aprovados na Bíblia. A Quaresma e suas práticas também não são encontradas em nenhum lugar na Bíblia (leia nosso guia de estudo bíblico gratuito Feriados Religiosos ou Dias Santos: Será Que Importa Quais Dias Observamos?).
Estas são algumas das principais diferenças entre o cristianismo da época de Cristo e dos apóstolos e o que hoje é comumente praticado. Será que você não deveria dar uma olhada em sua Bíblia para ver se suas crenças e práticas estão de acordo com o que Jesus Cristo e os apóstolos praticaram e ensinaram? Como visto, temos muitos recursos que podem ajudá-lo a estudar a Palavra de Deus. Baixe ou solicite suas cópias gratuitas hoje mesmo!
— citado de nosso guia de estudo bíblico A Igreja Que Jesus Edificou.